Opinião

Perigo invisível: Os impactos econômicos e ambientais do vazamento de combustíveis em áreas urbanas

Cálculos alarmantes indicam que a descontaminação de uma área afetada por combustíveis pode acarretar custos consideráveis

Cadastrado por

Heitor Veras de Sousa

Publicado em 24/04/2024 às 16:09
Postos de combustíveis são projetados para atender ao maior número de usuários possível. - Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Os postos de combustíveis são uma parte essencial da infraestrutura urbana, responsáveis por abastecer veículos e garantir a mobilidade nas cidades. Este tipo de empreendimento possui localização estratégica, geralmente em vias movimentadas e com alta densidade de ocupações, são projetados para atender ao maior número de usuários possível. No entanto, é importante destacar que a montagem desses postos envolve a instalação de tanques e tubulações no subterrâneo. Essa prática foi implantada inicialmente como norma de segurança, pois os produtos armazenados possuem alta inflamabilidade. Outros fatores positivos também são relevantes, pois há uma menor variação de temperatura e menor volatilidade dos produtos armazenados.

Nos último 30 anos, normas regulamentadoras foram criadas, normatizando tanques subterrâneos com fabricação especial para evitar vazamentos ao meio ambiente. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) classificou os postos de combustíveis como empreendimentos de potencialmente poluidores, considerando todos os riscos que estão envolvidos neste tipo de atividade.

Acontece que os primeiros postos foram implantados no Brasil por volta de 1920, e em todo este período não houve uma fiscalização efetiva com relação à prevenção ambiental nas instalações subterrâneas dos postos, fazendo com que muitos eventos desta natureza ocorressem ao longo do tempo, representando uma ameaça ambiental e de saúde pública.

Cálculos alarmantes indicam que a descontaminação de uma área afetada por combustíveis pode acarretar custos consideráveis. Os diversos processos que envolvem a investigação ambiental detalhada da área até os processos de descontaminação podem alcançar a casa dos milhões de reais. Mesmo após todo o tratamento, com as eliminações dos riscos ambientais, as áreas contaminadas não conseguem ser restauradas à sua condição natural.

A relação entre o volume de combustível lançado no lençol freático e o volume total de água contaminada é uma preocupação adicional. Cada litro de combustível vazado pode contaminar milhares ou até milhões de litros de água, uma quantidade extremamente significativa, ampliando os desafios de tratamento e recuperação.

A exposição prolongada aos hidrocarbonetos presentes nos combustíveis pode resultar em riscos significativos para a saúde, como distúrbios neurológicos, problemas respiratórios e até mesmo o desenvolvimento de câncer. Além disso, os custos médicos associados ao tratamento de doenças relacionadas à contaminação representam uma carga adicional para o sistema de saúde local.

Além dos impactos na saúde humana, podemos considerar os efeitos para a natureza. Os ecossistemas locais são diretamente afetados pelos contaminantes, comprometendo a fertilidade do solo e qualidade ambiental dos aquíferos subterrâneos e superficiais, como rios, canais e mares. Isso gera um efeito borboleta, acarretando consequências diversas na biodiversidade, prejudicando o equilíbrio ambiental.
Em termos de custos para a administração pública, lidar com uma área contaminada se traduz em um ônus considerável. Além dos custos diretos de descontaminação, há impactos indiretos, como a desvalorização de propriedades afetadas, perda de receitas fiscais e gastos com programas de monitoramento e fiscalização.

Diante desse cenário, torna-se imperativo adotar medidas preventivas e proativas. Tem sido um desafio constante para os profissionais da área ambiental em fiscalizar e executar processos de gerenciamento ambiental na gestão de postos de combustíveis, investimentos em tecnologias antivazamento e monitoramento constante das áreas suscetíveis são essenciais para mitigar os riscos.

Em última análise, a preservação da qualidade da água subterrânea não apenas protege a saúde da comunidade, mas também alivia a pressão financeira sobre as autoridades municipais. O investimento em tecnologias de prevenção e monitoramento, além das ações voltadas para investigação dos impactos gerados no passado, representam uma economia substancial no futuro, garantindo que as demandas socioeconômicas sejam atendidas em um ambiente cada vez mais equilibrado para as gerações futuras.

Heitor Veras de Sousa, engenheiro ambiental, especialista em Gestão e Tecnologias Ambientais (USP/SP) e consultor ambiental especializado em derivados de petróleo

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