Como usar a natureza, respeitando os limites

Um olhar para as interconexões evidentes do sistema econômico com o ecológico, sem isolar um do outro, com um olha na sustentabilidade...

Publicado em 02/07/2024 às 0:00 | Atualizado em 02/07/2024 às 9:40

Toda atividade humana, qualquer que seja, incide irrecorrivelmente no ecossistema, quer pela extração de recursos (caso em que a natureza funciona como fonte), quer pelo lançamento de dejetos sob a forma de matéria e energia degradadas (caso em que o meio ambiente atua como cesta de lixo, sumidouro). Percebido desse ângulo, é evidente que o processo econômico - que opera dentro de um subsistema aberto envolvido pelo ecossistema global - tem que respeitar limites (quer os do fornecimento de recursos, quer os da absorção de dejetos, além dos da própria tecnologia). Daí, a noção de desenvolvimento sustentável dos que usam a Economia Ecológica em seu raciocínio: trata-se de promover a economia (e o bem-estar dos humanos) sem causar estresses que o sistema ecológico não possa assimilar.

Na perspectiva da sustentabilidade ambiental, o tipo de processo econômico que importa é aquele que produz bens e serviços levando em conta simultaneamente todos os custos (ou males) que lhes são inevitavelmente associados. Um olhar para as interconexões evidentes do sistema econômico com o ecológico, sem isolar um do outro, permite perceber de que modo é possível chegar-se a um mundo (sustentável) onde a vida não se veja ameaçada de extinção (nem seja menosprezada). Esta é a tarefa para o modelo de desenvolvimento que se chama sustentável (durável). No âmbito da realidade dos processos naturais, só pode durar para sempre aquilo que se comporta de acordo com os princípios de funcionamento do sistema natural. Dá-se ao tema da sustentabilidade, muitas vezes, porém, um significado que contradiz sua própria essência, transformando-o em autêntico oximoro (como, com mais razão, na infeliz expressão "crescimento sustentável").

Certamente, a economia não pode ser maior do que o planeta, que não cresce e é finito. O sistema da atmosfera só pode manter seu funcionamento se seus limites, como o da absorção de carbono, forem respeitados. Não o sendo, surgem coisas como eventos climáticos extremos, de que é exemplo a catástrofe das inundações no Rio Grande do Sul. Uma economia de fundamentação ecológica implica mudança profunda na percepção da dinâmica do crescimento econômico. Isso requer que as teorias necessárias sejam compartilhadas por um conjunto amplo de profissionais - cientistas naturais e sociais, junto com os atores sociais envolvidos em ações concretas de promoção do desenvolvimento. Assim pode-se chegar a novo entendimento da realidade humana, tirando dele lições para fins de análise e política. Requer-se uma compreensão profunda da forma como a atividade econômica depende de processos bio-geo-físicos, com os correspondentes feedbacks.

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Tudo isso vai conduzir à discussão do problema da sustentabilidade das interações entre sistemas econômicos (humanos) e ecológicos, o que impõe a necessidade de uma visão holística - uma visão que vá além das fronteiras territoriais normais das disciplinas acadêmicas. A necessidade de informação sobre interações entre a economia e o ecossistema tem como finalidade derradeira a identificação de políticas capazes de mitigar os impactos destrutivos sobre o ambiente de medidas para a realização do bem-estar social. Algo que diga qual o tamanho do sistema econômico que o sistema da natureza pode conter - a escala sustentável.

Clóvis Cavalcanti. membro da Academia Pernambucana de Ciências, Pesquisador Emérito da Fundação Joaquim Nabuco, Professor Aposentado da UFPE e Presidente de Honra da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (EcoEco).

 

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