Maravilha

E a surpresa? Há cinco anos participei de uma pesquisa de educação focada no desempenho dos municípios. Os indicadores eram dramáticos

Publicado em 20/08/2024 às 5:00

No Sertão do Moxotó, em Custódia, um exemplo e a surpresa. O exemplo: “A Escola Municipal Manoel de Leandro Leal Moraes foi a única unidade pública de ensino de Pernambuco a alcançar nota 10 nos anos iniciais do fundamental, segundo os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)”. Matéria de Mirella Araújo publicada no Jornal do Commércio. Uma escola no Distrito de Custódia, denominada Maravilha, obteve, pela primeira vez no IDEB, essa nota. E mais, o município de Custódia, entre as redes municipais de ensino obteve nota 8,6 no IDEB 2023, a melhor pontuação de Pernambuco. Esse é o exemplo.

E a surpresa? Há cinco anos participei de uma pesquisa de educação focada no desempenho dos municípios pernambucanos. Os indicadores eram dramáticos, e ainda são, com exemplos aqui e acolá de que poderia ser diferente. O professor Lucival Roque, Secretário de Educação de Custódia, faz a diferença. Foi professor da Escola de Maravilha. Entretanto, “somos a educação que transforma”, no dizer da Coordenadora da Escola, e vai além, “isso não se faz sozinha na escola”.

Identificamos um estudo comparativo entre dois grupos de municípios pernambucanos: os 10 melhores e os 10 piores no desempenho do IDEB/2017. “Ao observar os 25% destinados obrigatoriamente à educação divididos pela quantidade de alunos matriculados, na rede escolar de cada município, constata-se que o custo/aluno ano dos 10 melhores era apenas 10% superior ao custo aluno/ano dos 10 piores. Entretanto, a média do IDEB dos 10 melhores foi de 6,1 (variando de 5,9 a 6,5) e dos 10 piores foi de 3,77 (variando de 3,6 a 3,8). Outro aspecto relevante que apontou para a Gestão Escolar como diferencial intramuros da escola e o desempenho do alunato, está evidente na comparação entre municípios com melhores e piores resultados. O pequeno município de Jupi, no Agreste Meridional alcançava 6,5 no IDEB (o melhor desempenho no Estado), enquanto, o município de Correntes, também no Agreste Meridional, alcançava 3,8 no IDEB. Ambos apresentaram quantidade de alunos matriculados semelhantes (Jupi com 1.161 e Correntes com 1.076) e uma diferença substantiva enquanto custo por aluno/ano. Em Jupi o custo era de R$ 7.457,44, em Correntes o custo era de R$ 13.100,04.”

Trata-se de reconhecer a gravidade do quadro enquanto medição numérica da qualidade da educação ofertada a milhares de crianças e adolescentes pernambucanos. Neste aspecto a associação ao desempenho da gestão escolar se faz presente, como se incorpora também a formação do corpo discente e, em maior representatividade, a vulnerabilidade social das famílias. Neste aspecto, a educação é causa e efeito. É parte e é o todo. A criança em elevada situação de risco, morando em ambiente de vulnerabilidade social onde a pobreza extrema e a violência imperam, não se resolve dentro da escola. Mas, a escola de “fora para dentro” aponta caminhos e abre perspectivas de saída. É sim o caminho para romper o modelo dramático de formação das “gerações nem, nem” (nem estudam, nem trabalham). E mais que isto. De romper com o círculo da droga – o “menino mula”, o “adolescente viciado”, o “jovem bandido vivo ou morto”. A propósito nas demandas dos alunos sobre o que poderia ser feito para melhorar a escola, respondem: “consertar os banheiros, reduzir o calor e receber duas fardas”.

Em Maravilha a gestão demonstra que a família e o professor são partes de um propósito exemplar – educar a criança.

Paulo Roberto Barros e Silva é arquiteto.

 

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