O metrô do Recife e o tempo das necessidades
O metrô, tal a poesia de Ferreira Gullar, "segue sem destino.., pro dia novo encontrar e quem sabe cidade girar..," com a esperança .......
O metrô do Recife foi concebido nos anos 80 através de uma política de planejamento do governo federal que desenhava para as principais regiões metropolitanas do País um sistema de transporte público de passageiros eficiente e de alta capacidade, com perfil de integração com outros modais, como por exemplo, o ônibus. Era o tempo em que existiam eficientes órgãos de planejamento governamental, como o GEIPOT e a EBTU.
Foi no governo do Presidente João Figueiredo que o metrô começou a ser implantado. O trecho da linha inicial teve sua implantação do centro da capital até as estações TIP e Jaboatão, com 20,5 Km. Em 1999, período em que ocupava a Superintendência Geral da CBTU, pude contribuir ao lado de brilhantes colegas de trabalho para conquista de um novo financiamento do governo federal junto ao BIRD, ampliando o seguimento da estação rodoviária até Camaragibe, com a extensão de 4,5 Km, totalizando 25 km na chamada linha centro. Foi também nesse período em que se iniciaram as obras em 14 Km do centro até Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes. O metrô totaliza hoje, entre a linha centro e o trecho do corredor sul, 38 Km de extensão.
A concepção inicial das linhas troncais previam uma estrutura de integração tipo "espinha de peixe", pontuadas pelas estações ao longo de toda via. Isso ampliava o público de usuários do sistema. A integração com o modal ônibus planejado para fortalecer troncos radiais sob via fixa estava no desafio a ser conquistado. Nesse ambiente, a arquitetura estava esboçada. Com uma frota inicial de 25 trens, estações adequadas e intervalos previsíveis.
O fato é que o metrô do Recife se fortaleceu de dentro para fora com gestões profissionalizadas e com um quadro de funcionários dedicados e eficientes. O passo seguinte foi a conquista da confiança do usuário pelo serviço de excelência que oferecia. Aqui cabe uma pausa para registrar que associados aos devotados funcionários comandaram a empresa, entre outros, exemplares gestores como Emerson Jatobá, José Carlos Dias de Freitas, Standley Batista, José Dias Fernandes. Finalmente, não é possível falar do metrô do Recife sem registrar a presença de um político discreto e atento que zelava por ele; Marco Maciel. Vice-Presidente da República, Senador por Pernambuco em três ocasiões, exerceu papel de cuidador permanente do sistema para que os investimentos ano a ano ocorressem com a regularidade necessária.
Já de muito esse tempo é apenas memória esquecida. Hoje, Pernambuco tem em média 13 mil veículos novos de diferentes perfis matriculados por mês, onde 40% estão na área de influência da cidade do Recife, essa com um pouco mais de 200 km2, e com noventa e nove canais segregando esse estreito território. O sistema metroviário é vital para o deslocamento do cidadão metropolitano, e tem recebido o desinteresse de todas as instâncias de governos. Ele ainda funciona, mesmo aos soluços, por milagre de seus empregados que não desistem de sua missão.
O equipamento precisa de investimento sustentável, orçamento de custeio regular e planejado. Urge integrar de forma definitiva com metas e retornos tarifários os serviços que presta ao sistema de transporte de passageiros da região metropolitana do Recife. Sim, isso é possível. Existem modelos que permitem reunir tais condições. Vamos sentar à mesa. Discutir sem preconceitos, mas com compromisso de resgatar nossa mobilidade.
O metrô do Recife sofre por seu abandono. Ele nasceu e cresceu para obedecer a uma inteligência de eficácia intermodal, onde a plataforma logística de transportes se completa em uma cadeia de equipamentos transversais de múltiplas capacidades, com o condão de oferecer capilaridade em todo tecido urbano da cidade.
O metrô, tal a poesia de Ferreira Gullar, "segue sem destino.., pro dia novo encontrar e quem sabe cidade girar..," com a esperança de resgatar os pilares de outrora, entre eles a previsibilidade, eficiência nos tempos de deslocamento(ir e vir) e segurança, sempre integrado com os demais modos de transporte.
Fernando Dueire é Senador da República