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João Alberto: Uma ponte que viu um boi voar

O Recife tem 50 pontes, o que justifica seu título de "Veneza Brasileira", em relação à famosa cidade italiana, célebre pelos canais e 400 pontes.

Por JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL Publicado em 17/01/2025 às 0:00 | Atualizado em 17/01/2025 às 6:56

...Cada uma oferecendo uma visão diferente da cidade. Uma delas tem muita história, a Ponte Maurício de Nassau. Foi a primeira ponte de grande porte construída no Brasil.

Seu projeto começou em 1630, quando Maurício de Nassau, um conde e militar que era alemão de nascimento e que foi enviado pelos holandeses para administrar a província de Pernambuco no período que os holandeses dominaram a região, entre 1637 e 1644.

Ele fez uma administração notável, impulsionando a urbanização da capital pernambucana. Determinou a construção de um pilar de pedra com 12 metros de comprimento para analisar a força da correnteza e fazer uma demonstração pública de que tinha interesse na construção da ponte, ligando os bairros de Santo Antônio e Recife.

Em 1641, foi lançado edital convocando construtores interessados em realizar a obra, que começou em 1642, já com 15 pilares prontos. A firma responsável, no ano seguinte, paralisou a obra.

Temendo ser humilhado, o Conde Maurício de Nassau tomou a frente da construção e investiu dinheiro próprio no projeto. Faltavam ainda 10 pilares de pedra e a construção da ponte estava com o orçamento estourado.

Ele decidiu, então, fazer novas peças, usando, em vez de pedra, madeira resistente à água. Finalmente, foi concluída e inaugurada em 28 de fevereiro de 1644, com o nome de Ponte do Recife.

Com parte em pedra e parte em madeira, tinha o dobro do tamanho da que existe hoje, indo do atual cruzamento da Avenida Marquês de Olinda com a Rua da Madre de Deus até o atual cruzamento das ruas 1º de Março e Imperador. Foi a primeira ponte de grande porte do Brasil e, por ainda estar em funcionamento, é a ponte mais antiga do Brasil.

Conta uma lenda urbana que um boi voou na inauguração da Ponte Maurício de Nassau.

A sua construção extrapolou as verbas destinadas à obra pela Companhia das Índias Ocidentais e o conde usou da esperteza para resolver o problema: divulgou que, durante a inauguração da ponte, um boi iria voar e determinou a cobrança de pedágio, conseguiu, com essa ação, arrecadar uma boa quantia de dinheiro.

Para que o povo não se sentisse enganado e não se rebelasse, na inauguração, sem ver um "boi voando", o truque idealizado foi suspender um animal empalhado por cordas meticulosamente ocultas.

Claro que atraiu uma enorme multidão, que aplaudiu, entusiasmada, a exibição. A festa começou às 18h, mas o boi só "voou" às 22h. Os populares logo entenderam o truque - que constava de um boi empalhado, suspenso por cordas, e movido por um sistema de roldanas operado por marinheiros holandeses -, mas aplaudiram a iniciativa.

Esta história do boi voador atravessou gerações e virou tema de uma das canções do musical "Calabar - o Elogio da Traição", peça escrita em 1973 por Chico Buarque e Ruy Guerra. A música se chama "Boi voador não pode".

Quando foi secretário de Turismo do Recife, Cadoca Pereira reviveu o espetáculo no mesmo local, com o boi de pano "voando" no início da noite de um domingo, no aniversário da cidade, atraindo igualmente um enorme público.

O evento aconteceu por três anos e ganhou até uma réplica numa casa de shows de Amsterdam, numa grande festa com a presença de uma comitiva pernambucana, comandada pelo então prefeito Jarbas Vasconcelos.

Na administração de Geraldo Júlio, o boi voltou a voar, agora na Praça do Marco Zero. E permanece "voando" em todas as comemorações do aniversário do Recife.

A ponte original de madeira foi substituída por outra de ferro, em 1865, que acabou enferrujada. Foi então construída a atual, que passou a ter o nome de Ponte Maurício de Nassau, homenagem mais do que justa.

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

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