O legado prometido que a Copa de 2014 não deixou para Pernambuco

Nem a Cidade da Copa saiu do papel, nem o transporte metropolitano ganhou o aperfeiçoamento esperado, oito anos depois da Copa de 2014
JC
Publicado em 10/12/2022 às 18:01
Cidade da Copa previa conjuntos habitacionais, shopping, universidade, parque e empresariais. Ficou só no estádio da Arena Pernambuco e muito mato ao redor Foto: Divulgação


Quando o Recife foi definido como uma das cidades-sede para a Copa do Mundo de futebol de 2014, no Brasil, a expectativa se formou muito além da celebração dos torcedores. Na época, criou-se todo um clima de redenção, com a promessa de legado urbanístico visando a expansão qualificada de um território ocupado na Região Metropolitana, no município de São Lourenço da Mata, escolhido para a construção da
Arena. E mais: a ligação para o estádio seria o mote para um salto de melhoria na mobilidade no Grande Recife, a partir de implantação de sistemas de transporte integrados, seguros, rápidos e confortáveis.

Nem a Cidade da Copa saiu do papel, nem o transporte metropolitano ganhou o aperfeiçoamento esperado, oito anos depois da Copa de 2014. Ficou a Arena, cercada por vias de acesso, ilha de concreto rodeada por imenso vazio. Com o que se gasta para a manutenção do equipamento a cada dois anos, daria para se realizar a reforma necessária do Hospital da Restauração, por exemplo. O estádio é subutilizado pelos clubes pernambucanos, sendo palco de jogos importantes com grande público em raras
ocasiões. Em reportagem de Adriana Guarda, publicada pelo JC, a frustração pelo legado que não veio é evidenciada, após mais de uma década de promessa – já que o planejamento veio antes, e projetava o legado para logo após a competição mundial.

A Cidade da Copa contaria com 4,5 mil unidades habitacionais, além de parques, centro de convenções, shopping center, campus universitário e torres de escritórios no entorno da Arena. Seria a primeira cidade inteligente da América Latina, inspirada numa cidade japonesa, e poderia atrair 100 mil habitantes para São Lourenço da Mata, abrindo um novo polo urbano na área oeste da Região Metropolitana. Mas o “lugar para morar, trabalhar, aprender e se divertir” não passou de miragem publicitária, restando um estádio isolado de zonas populacionais, erguido ao custo de R$ 479 milhões, quase todo o orçamento previsto para a Cidade da Copa. A obra foi contestada pelo Tribunal de Contas do Estado, e investigada pela Polícia Federal por suspeita de mau uso dos recursos.

Empreendedores e demais cidadãos que acreditaram nas promessas do legado da Copa hoje passam dificuldades ou tiveram que se reinventar, com a falta de perspectivas na área. O cenário é de um elefante branco que traz prejuízos ao povo de Pernambuco – pois o governo gasta dinheiro com a manutenção. A atração da iniciativa privada para a urbanização do entorno da Arena merece um novo estudo de viabilidade da parte do governo do Estado, em nova gestão a partir de janeiro. Bem como a revisão de todos os planos iniciados antes de 2014, a reboque da Copa, ainda sem conclusão.

Ao invés de legado, 2014 deixou para os pernambucanos uma lição: antes da viabilização e da execução, as promessas transformadas em propaganda política durante anos precisam ser cobradas como compromissos públicos, e os governantes, chamados à responsabilidade do que prometem.

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