Ontem foi mais um dia de sofrimento para os passageiros do Metrô do Recife. O enredo é conhecido dos usuários: ou algum trem quebra, ou o furto de cabos provoca a paralisação de parte do sistema, reduzindo a oferta de linhas e trens, e aumentando ainda mais a lotação em vagões que já não são conhecidos pelo conforto e respeito a quem precisa do transporte metropolitano sobre trilhos para se deslocar diariamente. Os problemas se repetem há anos com a mesma gravidade, sem que nem o governo estadual, nem o federal, assumissem a responsabilidade para, sequer, conversar sobre uma solução para o interesse coletivo.
Agora, a expectativa é que os dois novos gestores e suas novas equipes, na Esplanada dos Ministérios e no governo de Pernambuco, sejam capazes de dialogar e chegar a alternativas melhores do que a atual condição de desmonte do metrô que atende à Região Metropolitana do Recife. O sistema é uma vergonha para o Estado, e um tormento para as pessoas que dele necessitam. É preciso se definir com urgência o modelo de gestão a ser adotado, buscar fontes de financiamento para a manutenção e conserto do que não para de quebrar, e ainda, investimentos de porte para fazer a qualidade digna de uso, além de ampliar a área atendida, bem como seus efeitos potenciais de desenvolvimento das regiões por onde passam os trilhos.
Mais perto do problema, o governo Raquel Lyra deve apresentar novidades quanto ao nó em que se transformou o sistema metroviário, há anos abandonado pela gestão passada, como se não fossem pernambucanos os cidadãos aviltados pelo transporte de péssima qualidade. De acordo com o secretário de Mobilidade e Infraestrutura – na reconfiguração das pastas do Estado – Evandro Avelar, o transporte público será “prioridade absoluta”. A ideia é promover efetiva integração do transporte público com a infraestrutura rodoviária, inclusive com apoio do sistema intermunicipal além do Grande Recife. Nessa priorização, imagina-se que o Metrô receberá especial atenção – porque a omissão é a regra, há mais de uma década.
A época parece propícia aos roubos de fiação do Metrô. No final de 2020, aproximadamente 200 metros de fios foram levados por bandidos, perto da estação Camaragibe. A administração do Metrô, claramente, não dispõe dos meios de vigilância e prevenção para impedir esse tipo de crime. Sua reprise frequente é uma prova da falência estrutural do atual modelo de gestão, que se somou ao desinteresse dos governos federal e estadual, até o ano passado, em cuidar do assunto. Está na hora de mudar. Até quando os cidadãos vão ter que pagar duplamente pelo caos do sistema metropolitano de transporte?
O novo secretário estadual de Mobilidade promete não se esquivar do tema, embora seja um sistema federal. O que a população espera é que essa abordagem seja outra – na direção do benefício coletivo deixado de lado pelos gestores públicos de todas as esferas, até agora.