O período forçado de afastamento das escolas por causa da pandemia de Covid ainda é assunto discutido em todo o mundo. Não que o distanciamento social não fosse necessário, quando as vacinas ainda não estavam disponíveis para proteger as pessoas contra uma doença que poderia ser fatal, com demonstra o balanço de mais de 700 mil mortos no Brasil, e mais de 6 milhões no planeta. O que suscita o debate é como atrair crianças e adolescentes para o ambiente escolar, após a suspensão das aulas presenciais,
e como ampliar o interesse pelo conhecimento exposto pelos professores.
No Brasil, diversos fatores se sobrepõem ao desafio do ensino, em especial na rede pública. As condições de trabalho dos docentes estão longe do ideal, com infraestrutura precária e problemas que vêm de fora da escola, como o desemprego dos pais, o nível de pobreza, as dificuldades de transporte para a unidade escolar ou a insegurança nas comunidades. Além disso tudo, uma componente cultural se agrega, que afeta estudantes das redes pública e privada, em graus diferentes proporcionais ao acesso virtual de que dispõem: a onipresença das telas com jogos, aplicativos e interações nem sempre saudáveis com indivíduos anônimos e distantes.
Pesquisa divulgada esta semana trouxe o debate à tona, mais uma vez. Foram entrevistados quase 7 mil professores de ensino fundamental e médio da rede pública em todo o país. O levantamento se deu com a parceria do Itaú Social com o Todos Pela Educação, e o Instituto Península e Profissão Docente. Os dados estaduais indicam que, em Pernambuco, 28% dos professores se preocupam, em primeiro lugar, com o
desinteresse dos alunos. E a explicação dos educadores é justamente o tempo longo de afastamento da escola, na reclusão da Covid. “A retomada não está sendo fácil”, avalia Esmeralda Macana, do Itaú Social.
O segundo maior motivo de preocupação, para 24% dos professores pernambucanos, é a defasagem no aprendizado, outra consequência que vem sendo atribuída à pandemia. E o terceiro desafio, com 22%, é a indisciplina dos estudantes, muitas vezes traduzida em linguagem violenta contra os professores e os colegas.
A situação no estado é tão alarmante que os professores, ao apontar prioridades para os gestores públicos da educação, colocam o reajuste salarial da profissão em quarto lugar – atrás de apoio psicológico para eles próprios e os alunos, no topo, seguida do maior envolvimento das famílias na vida escolar dos filhos, e de programas de reforço e recuperação, contra o atraso gerado pela pandemia.
A quinta prioridade sugerida – que em muitos casos é urgente – é a melhoria da infraestrutura das escolas. O resultado evidencia o quanto se apresenta como essencial uma compreensão mais ampla do processo educativo, sobretudo no contexto de retorno pós-pandemia.
Quase todos os entrevistados (93%) disseram que não se sentem valorizados como médicos, engenheiros e advogados. A baixa autoestima docente faz sentido, se olhamos para os obstáculos enfrentados diariamente pelos professores e professoras. Está faltando engajamento e participação da sociedade, planejamento e investimento de qualidade dos governos, para que a educação seja assumida como responsabilidade coletiva – como deve ser.