Queda na produtividade requer nova política industrial

É preciso recuperar a produtividade perdida, para, sem seguida, conquistar ganhos que gerem efeitos multiplicadores na economia
JC
Publicado em 07/06/2023 às 0:00


A visita do presidente da República a um polo industrial relativamente novo para Pernambuco, ontem, foi ocasião importante de renovação de propósitos políticos para o desenvolvimento do estado. Os discursos afinados na direção da colaboração para o bem da coletividade encontraram, no polo automotivo, um palco propício à perspectiva de prosperidade econômica. Trata-se, sem dúvida, de um caso de sucesso em solo pernambucano, que pode servir de inspiração para outros investimentos de porte no Nordeste e em outras regiões. Mas o cenário decadente da indústria brasileira pede a atenção dos governos, em todos os níveis, para que se dê uma reversão do curso percorrido em quase três décadas.
A produtividade na indústria de transformação no país caiu, em média, quase 1% ao ano desde 1995. O quadro é preocupante, afetando a competitividade das empresas e retirando renda da população. O estudo foi divulgado pela FGV Ibre há poucos dias, reacendendo o debate acerca da necessidade da renovação da política industrial. Como já mostrado em outras estatísticas, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB), não por acaso, vem caindo, restando ao agronegócio a missão de sustentar o crescimento do país, com investimento em conhecimento e tecnologia, agregando produtividade e competitividade. Os números acumulados nas últimas décadas indicam que o agronegócio robusto cumpre direção oposta à indústria, que definha.
Se a produtividade sobe, os preços ao consumidor podem cair, elevando as vendas internas e as exportações. O Brasil tem um longo caminho pela frente para alcançar o nível da agropecuária. Primeiro, é preciso recuperar a produtividade perdida, para, sem seguida, conquistar ganhos que gerem efeitos multiplicadores na economia. O novo governo federal – na verdade, terceiro governo Lula – dá sinais de enxergar o valor da indústria para dinamizar o crescimento econômico. Mas representantes do setor ainda esperam um reposicionamento oficial no sentido da melhoria da produtividade. Sem que os problemas nessa área sejam enfrentados, o discurso em prol do papel da indústria vai continuar esbarrando no obstáculo da baixa produtividade, um gargalo estrutural que assume o peso da decadência.
No mesmo período em que a indústria despencou, a produtividade no agro cresceu, em média, 5,5% ao ano. Seja qual forem as razões para o abismo entre os dois setores, nota-se claramente a necessidade de correção de rumos para a indústria nacional. O que vai muito além do ufanismo, e até do bem-vindo consenso político que ultrapassa linhas partidárias. O estudo sobre a produtividade ressalta que, se o agro é inovador no Brasil, a indústria decaiu rapidamente. Para equilibrar essa relação, o setor industrial cobra não somente investimentos, mas uma política coesa, que aborde as dificuldades e apresente soluções que renovem um quadro corroído ao longo do tempo.
Uma das principais demandas é a qualificação dos recursos humanos. Uma providência que passa pelo investimento em educação, da base do fundamental até a formação profissionalizante. Sem a visão do todo em que a produtividade reprimida se assenta, bons discursos continuarão secundando péssimos resultados.

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