A destruição de um hospital repleto de pacientes e feridos, elevou o tom da discórdia, impedindo negociações por um corredor humanitário na Faixa de Gaza. Do lado de fora, árabes e muçulmanos, por meio das populações e de seus líderes, acusam os israelenses de genocídio, no duelo de narrativas depois do bárbaro ataque do grupo terrorista Hamas que matou centenas de pessoas e sequestrou outras tantas, queimando casas, creches e plantações em Israel. Se ninguém assume a responsabilidade por um hospital lotado servir de alvo de bombardeio, todos parecem querer se eximir, também, das consequências pelo avanço do ódio e do derrame de sangue, cada vez maior.
É nesse barril de pólvora aceso que desembarca, hoje, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Com uma missão de caráter diplomático, segundo a agenda oficial da Casa Branca. Para buscar a solução pacífica, não para uma animosidade de décadas, mas para a situação de crescente insegurança deflagrada pelo terrorismo, que se complica com o passar dos dias de fronteiras fechadas, cerco total com corte de luz e suprimentos, enquanto há estrangeiros querendo sair e um número estimado de cerca de duas centenas de reféns, a maioria, civis israelenses. O exército israelense está pronto para invadir Gaza por terra, após a chuva de mísseis que já lançou por lá. E o Hamas conta com isso, e com a comoção dos povos islâmicos, para deixar a paz ainda mais distante.
Há quem veja na viagem de Biden a Israel, tão somente o reforço da estratégia de demonstração de alinhamento, eventualmente até a corroboração de movimento bélico definitivo como a invasão terrestre – embora o presidente dos EUA tenha declarado, em entrevista na TV, dois dias antes de embarcar, que a ocupação da Faixa de Gaza seria um erro. Mas a invasão por terra pode não ser seguida de ocupação. E de qualquer forma, dificilmente o apoio de Washington será retirado, não importa o passo dado sob a ordem de Benjamin Netanyahu.
A expectativa dos que acreditam numa saída não violenta para o impasse atual é que Biden faça uso de persuasão diplomática para convencer os governos dos países árabes, e o mais difícil, Israel, a abrir um corredor humanitário para a saída de estrangeiros, e a entrada de primeiros-socorros e mantimentos. A exigência do cessar-fogo imediato, feita ontem pelo representante palestino na ONU, não se viabiliza tão cedo, o que deve piorar o clima antissemita no mundo árabe. Resta saber o que pensa o presidente dos EUA, e o que dirá, em privado, para Netanyahu e outros líderes com os quais conseguirá falar, já que reuniões foram canceladas em represália ao massacre no hospital em Gaza.
Apenas se o foco da viagem for, de fato, a aposta no esforço diplomático com o peso norte-americano, há uma chance de diálogo em prol do abrandamento do ímpeto contra o inimigo, aparentemente sem controle nos dois lados.