VIOLÊNCIA

Tráfico mata crianças

Agravamento da disputa entre facções de drogas em Pernambuco leva a insegurança a patamares trágicos

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JC

Publicado em 25/02/2024 às 0:00
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Do litoral sul ao litoral norte, a guerra dos traficantes e o domínio do crime sobre as comunidades vêm desafiando a segurança pública em Pernambuco há vários anos. Mas ao invés de o problema ser enfrentado com eficiência, a questão se agrava para a população. É o sentimento que se percebe quando as famílias não podem, sequer, contar com a tranquilidade de permitir a suas crianças brincarem na frente de casa – ou se verem livres do medo, ao menos, dentro dos lares. O que já havia ocorrido em Porto de Galinhas volta a acontecer em Itamaracá, com as crianças como vítimas fatais da escalada da violência no estado.
As estatísticas oficiais apontam um aumento de mais 20% nas mortes violentas intencionais em Itamaracá, em 2023. A tendência de alta continua. No intervalo de menos de uma semana, há poucos dias, duas crianças morreram. Um bebê de nove meses foi assassinado dentro de casa. E um dos três irmãos baleados em outro episódio, com 10 anos de idade, não resistiu aos ferimentos. As vítimas não eram alvos dos bandidos, mas pagaram o preço da insegurança na troca de tiros que mostra o descontrole das autoridades diante da guerra do tráfico.
Não por acaso, a mesma facção que atua em Porto de Galinhas amedronta os habitantes da ilha do litoral norte, além de municípios da Região Metropolitana. Segundo apuração do JC, existe um intercâmbio de criminosos do litoral sul para Itamaracá, para gerenciar os negócios das drogas. A polícia sabe disso, mas não consegue impedir o avanço do crime organizado. A facção em Pernambuco pode ser uma espécie de filial do Comando Vermelho do Rio de Janeiro, além de ter integrantes com ligação ao PCC, de São Paulo. As relações do crime no país reforçam a necessidade de um combate integrado e articulado, sob a coordenação do governo federal, e a participação dos governos estaduais e municipais. A população que sofre as consequências da violência clama por proteção, e a proteção só virá quando o trabalho conjunto do poder público for uma realidade.
Na semana passada, em Afogados, no Recife, uma menina de 13 anos foi vítima de bala perdida na troca de tiros entre bandidos e policiais militares. Faleceu no hospital, dois dias depois. Ela estava na porta de casa quando foi alvejada na cabeça. O patamar de tragédia a que os pernambucanos estão submetidos repete o descalabro nos maiores centros do Brasil, e amplia o medo numa população aterrorizada pelo cotidiano de violência. Para restaurar a paz e sair de uma condição de guerra urbana, precisamos que os governos se unam em estratégias eficazes, que demandam melhores estruturas e parcerias institucionais para lidar com um problema inegavelmente fora do controle do Estado. Além de crianças mortas pela troca de tiros, há muitas outras aliciadas pelos traficantes, desde pequenos, que ingressam no crime ainda adolescentes – para se tornar vítimas da guerra, poucos anos mais tarde.

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