ÁGUA EM PERNAMBUCO

A dependência dos carros-pipa

Novos dados do Censo indicam que o estado é o mais dependente desse tipo de abastecimento de água no Brasil

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JC

Publicado em 27/02/2024 às 0:00
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Mais um indicador nacional posiciona Pernambuco entre as unidades da federação onde a população mais enfrenta problemas estruturais, e suas consequências para a qualidade de vida. Os dados sobre o saneamento básico não são novidade, mas sua atualização reforça a necessidade de investimentos na área, para a conquista de cobertura, pelo menos, próxima da média no país. A começar do abastecimento pela rede geral de distribuição de água, que chega às residências de 70% dos pernambucanos, enquanto no Brasil a média é de 82%. Esse índice põe o estado em 20º lugar no ranking nacional, sendo o terceiro pior no Nordeste. É preciso mudar esse quadro, incompatível com a relevância que Pernambuco já teve tanto para a região, quanto para o cenário brasileiro. Para chegar lá, o desafio é grande, o caminho é longo, mas não se pode esperar mais, e é urgente acelerar o passo. A permanência desse déficit incide diretamente sobre a saúde física e mental dos cidadãos, angustiados pelo cotidiano de restrição hídrica.
As informações do Censo 2022 foram divulgadas pelo IBGE. Mais de 730 mil pessoas em Pernambuco dependiam, à época da pesquisa, de carros-pipa para conseguir água. É o maior percentual em todo o território nacional: acima de 8% tinham nessa fonte a principal para o recebimento d’água – no Brasil, a média é de 1%. Há casos graves, como em Taquaritinga do Norte, em que o índice é de 75%, ou Santa Cruz do Capibaribe, município onde quase 56 mil moradores apontaram o carro-pipa como fonte primária de abastecimento.
Ao lado disso, inquieta o relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE), segundo o qual Pernambuco apresenta políticas públicas insuficientes contra a desertificação. Mesmo com o clima árido sendo identificado pela primeira vez em duas cidades, Pernambuco ainda não implantou a Política Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, assim como a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Nessa perspectiva, o hiato na gestão pública sobre a tendência climática tem tudo para elevar a dependência dos carros-pipa, e piorar o abastecimento, se tudo se mantiver como estava em 2022.
No quesito de água encanada até dentro de casa, Pernambuco se situa na quarta pior colocação do país, com 85% dos habitantes nessa condição, na frente apenas do Amazonas, do Maranhão e do Acre. E é o terceiro maior percentual de moradores em domicílios sem água canalizada, acima de 9%. O acesso à rede de esgotamento sanitário chega a 52% das moradias no estado – numa melhora de 11% em comparação com o Censo de 2010. A média nacional está 10% adiante. Os números demonstram como o roteiro é longo, demandando investimentos constantes e programas contínuos, atravessando governos – para que a falta de água e o baixo índice de saneamento não persista atravessando gerações. Nesse sentido, a dependência de carros-pipa é ilustrativa de um problema sintomático dos gargalos ao desenvolvimento pernambucano.

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