RÚSSIA

Putin quer mais guerra

Reeleito em disputa sem oposição, Vladimir Putin pode ultrapassar o tempo de Stalin no poder, e promete investir na força militar dos russos

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JC

Publicado em 19/03/2024 às 0:00
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A primeira mensagem do presidente reeleito da Rússia, Vladimir Putin, não foi para buscar o apoio dos descontentes com seu governo, dentro do país, apesar do aumento das manifestações que pedem direitos de expressão e de participação nas eleições para os oponentes do Kremlin. Nem deu ênfase às restrições econômicas tomadas contra o país, no âmbito global, em represália aos mais de dois anos da invasão e ocupação da Ucrânia. Ou sequer se dirigiu aos ucranianos e outros povos da ex-União Soviética, buscando atrair o interesse de todos em nome de uma identidade enraizada no passado. O que Putin fez questão de expressar foi a ideia fixa típica de um ditador insatisfeito com os domínios territoriais, alheio a questões de soberania, tanto quanto às demandas de convívio entre os povos, no modelo da União Europeia. “Precisamos cumprir os objetivos da operação militar especial, fortalecer nossas capacidades de defesa e nossas forças armadas”, disse ele, na primeira oportunidade após a vitória esperada ser confirmada.
A China e a Coreia do Norte, assim como a Venezuela, a Bolívia e Cuba, parabenizaram o presidente russo pela renovação do mandato. Na Europa e nos Estados Unidos, o tom foi de crítica à falta de democracia em um pleito onde os concorrentes eram figurantes aliados de Putin. Vale recordar que seu principal oponente foi preso, e morto no ano passado, em circunstâncias tão nebulosas quanto a de outros opositores do governo, que perderam a vida nos últimos anos. O ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, David Cameron, resumiu assim o resultado que já era aguardado: “Putin remove seus adversários políticos, controla a mídia e depois se consagra vencedor. Isso não é democracia”. O governo da Alemanha chamou o resultado de predeterminado, e por isso, não iria parabenizar o eleito.
Há quase 25 anos no poder, Vladimir Putin desponta como uma sombra para a paz mundial pelos próximos seis anos. A disposição para a guerra é inegável, em provocações e ameaças que incluem o arsenal de bombas nucleares e novas tecnologias bélicas. Se os gastos globais com armamentos foram recorde no ano passado, a expectativa é que a tendência continue em alta, tanto pelas declarações de Putin após a eleição, quanto pela reação dos países europeus e dos Estados Unidos, que investem na defesa da Ucrânia e se preparam para uma eventual escalada de bombardeios e mortes fora dos limites ucranianos.
Se o presidente russo, aos 71 anos, ao entrar no quinto mandato consecutivo com mais feições de um ditador do que nunca, estiver mesmo embriagado pelo poder, na expressão do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, há que se buscar formas, dentro e fora da Rússia, para impedir que essa embriaguez se alastre como insanidade e sangue, nos próximos anos. Cresce a responsabilidade dos líderes de outros países, para gerar um ambiente de cooperação e resistência ao ímpeto militarista da Rússia de Putin – antes que o uso da força seja visto como a única resposta à sandice totalitária, que não espera outra coisa para explodir o planeta.

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