Sinais de um Nordeste árido
Clima de rara incidência de chuvas é encontrado em Pernambuco, na Bahia, na Paraíba e no Piaui
A atenção aos efeitos climáticos e suas consequências para as estações de seca e chuva tem crescido no Brasil, nos últimos anos. Entre as preocupações, desponta uma área total maior que a do estado de São Paulo, com porções de clima árido detectado em territórios de Pernambuco, da Bahia, da Paraíba e do Piauí. De acordo com estudo realizado pelo Jornal de Ambientes Áridos, a soma das terras áridas nesses estados chega a 282 mil km2, enquanto São Paulo possui 248 mil km2. O que significa um percentual de quase 10% do semiárido brasileiro, onde o período de estiagem é de dez meses por ano. Entre um tipo de clima e outro, as principais diferenças estão na umidade e nos dias de chuva, embora ambos possam apresentar um processo de desertificação.
Para o coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas (Lapis/UFAL), Humberto Barbosa, a reclassificação das terras secas do semiárido leva em consideração uma complexidade maior do que a examinada por dados oficiais, incluindo secas rápidas, causadas pelas mudanças climáticas. Assim como, em diversas partes do país e do mundo, a intensidade das chuvas vem sendo elevada ano após ano, os períodos concentrados de estiagem são fenômenos extremos que podem afetar o clima, a paisagem e a biodiversidade.
As informações que serviram de base para o estudo da UFAL compreendem mais de 30 anos de registros, de 1990 a 2022, modelando parâmetros atualizados, focados na evaporação da água no solo, na transpiração das plantas e no déficit hídrico. Indicadores que se refletem nas condições de recepção e sobrevivência das espécies como um todo, e no cotidiano das pessoas que ali moram e trabalham. A transição do milênio, nesse prisma, também pode ser vista, anos adiante, como um período inicial de transição climática em parte do Nordeste. Com repercussões que podem apontar tendências no presente, que se estendam ao futuro, demandando da gestão pública a observação adequada do que está ocorrendo, alicerçando planos e alternativas de convivência com o cenário em transformação.
O estudo também analisou, com base em dados de 2004 a 2022, as chamadas secas-relâmpago, com duração de até 30 dias, mas com efeitos perceptíveis nas perdas da vegetação e na redução da umidade do solo. Tais fenômenos se relacionam às mudanças climáticas em curso, degradando mais o ambiente e levando à aridez encontrada. A partir daí, áreas que somam 725 mil km2 de clima subúmido seco, que delimitam as regiões do Agreste, podem estar se encaminhando para virarem de clima semiárido, sendo adicionadas ao Sertão. Vale recordar que, em 2022, o governo brasileiro subiu de 1.262 para 1.427 o número de municípios enquadrados como integrantes do sertão, e este ano, outros 50 foram devolvidos, após terem sido retirados.
O combate à desertificação faz parte dos planos do governo federal há décadas. Estados e municípios devem cobrar as ações programadas, e buscar articulações que tragam os ajustes necessários à nova realidade.