Recife sem radares
Com quase um ano sem câmeras de fiscalização da velocidade em vários pontos da capital, recifenses estão expostos ao risco da imprudência
Desde junho do ano passado, o tráfego de veículos e a travessia de pedestres na capital pernambucana se tornou uma aventura perigosa: muitos radares que fiscalizam a velocidade foram desligados, e até retirados, por término dos contratos para a prestação do serviço. Quase um ano depois, a promessa é de conclusão do processo licitatório para a reinstalação dos aparelhos no segundo semestre – e mesmo assim, sem previsão objetiva de religamento. A longa duração do atraso impõe alguns questionamentos ao poder público municipal. Por exemplo: o serviço é considerado importante para a Prefeitura do Recife? Se a resposta é positiva, o que justifica tamanho atraso? Se não, quais outras medidas para a segurança no trânsito a gestão pública municipal planeja implantar? E por que não implantou ainda, em alternativa aos radares de velocidade, após um ano de exposição dos cidadãos a maior risco?
Sem o registro e a possibilidade de punição ao excesso de velocidade, motoristas voltam a ter nas mãos o volante da imprudência. Embora não existam para frear os imprudentes, os radares coíbem os abusos, impedindo o pé no acelerador causador de sinistros que podem causar vítimas feridas ou mesmo fatais, além dos prejuízos materiais e psicológicos para os envolvidos. De acordo com a CTTU, são mais de cem as ruas e avenidas nas quais a tecnologia de monitoramento foi interrompida ou retirada. Desse modo, a Prefeitura do Recife se comporta como fiadora da má sorte, deixando de cumprir os deveres burocráticos de renovação do serviço terceirizado de controle no trânsito – ou assume a visão de que os radares são dispensáveis, para explicar o que se pode configurar como omissão.
Como afirmou a colunista de Mobilidade do JC, Roberta Soares, do ponto de vista da segurança viária, a situação de ausência dos radares é desastrosa. A colunista recorda que 40% dos sinistros com vítimas podem ser reduzidos através da inibição de controladores e redutores de velocidade. Mas a gestão municipal talvez seja de outra opinião, já que o contrato que respondia por 80% dos radares na cidade venceu em junho do ano passado, sem que a Prefeitura do Recife notasse o problema até setembro. O outro contrato, responsável pelas demais câmeras, venceu em fevereiro deste ano, e já estamos chegando em maior sem que nada tenha sido feito para renovação. Se for confusão burocrática, a gestão municipal precisa se precaver, para que outras áreas do governo não sofram o mesmo tipo de atrapalho.
O cumprimento da velocidade estabelecida é um dever dos condutores, sem dúvida. Em resposta aos questionamentos da imprensa, a Prefeitura do Recife, através de nota oficial da CTTU, afirmou que “a fiscalização eletrônica é apenas mais uma ferramenta que tem o objetivo de evitar a ocorrência de sinistros no trânsito”. De fato. A dúvida é saber qual o valor dessa ferramenta para a administração municipal, depois de tanto tempo sem o seu uso.