DEFESA CIVIL

Sem estrutura de salvamento

Profissionais que lidam com a prevenção e os efeitos dos desastres ambientais não dispõem de condições básicas em todo o País

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Cadastrado por

JC

Publicado em 17/05/2024 às 0:00
Notícia

As cenas emocionantes do resgate de pessoas e animais no Rio Grande do Sul, têm mostrado mais uma vez o trabalho imprescindível de profissionais da Defesa Civil e de voluntários que abraçam as demandas da urgência, para salvar vidas em flagrante risco. A dedicação vem de antes, no cumprimento do dever cotidiano de levar informações e alertas de caráter preventivo a milhares de pessoas, na tentativa de se evitar o pior cenário em caso de concretização de um desastre previsível. Com as mudanças climáticas a pleno vapor, nos últimos anos, a valorização dessa atuação, da parte dos governos no Brasil, não acompanha a sua importância crescente para a dinâmica das cidades. O resultado é evidente: o País nem demonstra capacidade de prevenção, nem responde com agilidade à ocorrência de desastres naturais, especialmente as enchentes em consequência das chuvas.
O atendimento da Defesa Civil em áreas atingidas por temporais em 350 cidades dos estados de Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, desde 2021, foi analisado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) – e as conclusões foram tão alarmantes quanto uma sirene tocando em local de risco. Os sistemas de prevenção por alerta, aliás, funcionam precariamente, de acordo com o órgão. O governo federal é lento no repasse dos recursos emergenciais, e os montantes enviados não dão para o gasto, segundo informaram as defesas civis municipais, que lidam diretamente com as consequências duradouras, depois que as águas baixam.
Somente no ano passado, foram 1.346 ocorrências ligadas a fortes chuvas no Brasil, mobilizando esforços locais para socorrer e amparar as populações, volume quase dois terços maior que em 2016. A maior parte – 81% - nas regiões Sudeste e Sul, com 524 mil desalojados. Tendo as mudanças climáticas como claro vetor de aceleração, as cidades brasileiras estão cada vez mais expostas aos problemas estruturais que dificultam a prevenção e as ações de emergência nos temporais. No ano anterior, em 2022, o número de desastres registrados chegou a 1.500 no país. O pior é a escala das tragédias, que assume proporção assustadora com o alagamento de um estado praticamente inteiro, o Rio Grande do Sul, deixando a capital, Porto Alegre, sem aeroporto e precisando de uma “cidade provisória”. Na Serra Gaúcha, municípios turísticos como Granado e Canela se deparando com o temor da falta de visitantes nos próximos meses.
Os dados do TCU desenham um panorama de carência estrutural que precisa mudar logo, pois o clima não vai esperar por promessas. Em cerca de um terço das cidades monitoradas, não há sequer plano de contingenciamento para as emergências. Em cerca de um quarto, o mapeamento das áreas de risco não foi realizado. Dois terços não possuem protocolos em casos de desastres ambientais. Faltam equipamentos básicos, como telefones, viaturas e acesso à internet, além de pessoal qualificado. Como a questão é generalizada, o governo federal deve assumir a responsabilidade, fortalecendo e integrando a rede das defesas civis municipais, antes que seja ainda mais tarde do que já é.

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