A esperança – e a espera – de olho no céu
Dois anos depois de um dos maiores deslizamentos de terra em Pernambuco, os moradores da área continuam lá, desprotegidos
A comoção foi proporcional ao desastre. A solidariedade mobilizou braços e forças mais que físicas para ajudar na retirada dos escombros, na busca por sobreviventes, e pelos corpos dos que se foram, debaixo da terra. Em maio de 2022, o Jardim Monte Verde foi o foco do noticiário nacional, chamando a atenção do país para mais um deslizamento em área de morro, encharcada pelas chuvas. Pouco depois da tragédia, ainda sob a expectativa de todos os pernambucanos, governos municipais e o estadual anunciaram apoio financeiro às famílias das vítimas, e prometeram investir na proteção definitiva da comunidade, para que o horror não se repetisse, e o pânico em qualquer chuva se transformasse em sofrimento do passado.
Dois anos depois, o que se vê não surpreende. Mas entristece. Manifestantes com cartazes lembraram a data da desgraça, esta semana, cobrando as promessas não cumpridas e enfatizando o medo que perdura. Com a dimensão da tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, o país inteiro receia a queda de temporais. Sobretudo em locais, como o Jardim Monte Verde e arredores, onde o risco já se mostrou realidade. Escritas em tinta branca sobre o papel preto, simbolizando o luto prolongado, as mensagens alusivas aos dois anos de espera mencionavam: “Dizemos não ao descaso do poder público”, “Eu quero minha casa”, “Moradia segura e digna para todos”, entre outras cobranças. No episódio trágico, 48 pessoas da localidade morreram, sendo 17 de uma mesma família.
Vale recordar que, à época, as prefeituras de Jaboatão dos Guararapes e do Recife não assumiam o cuidado integral da área, situada numa zona limítrofe entre os dois municípios. Após o ocorrido, chegou-se a um acordo, e a maior parte dos terrenos ficou no lado de Jaboatão. A principal obra de contenção foi prometida pelo então governador Paulo Câmara, do PSB, mas ainda não saiu do papel. O atual governo do Estado, com Raquel Lyra, explica que não havia recursos em caixa para executar a obra pelo governo anterior. Mas agora, sai, de acordo com a nova promessa oficial, a obra terá início em junho, ao custo de R$ 60 milhões, beneficiando 23 mil pessoas. Mas a previsão do cronograma é de 18 meses, o que significa mais espera, até pelo menos o fim de 2025.
Será um ano e meio de olho no céu, rezando para que a chuva tenha piedade dos habitantes das áreas de risco. A demora de quase quatro anos para que se venha a ter uma barreira contra novos deslizamentos num lugar de extremo risco, mostra, de fato, o despreparo do setor público em Pernambuco para responder a desastres naturais, como afirmou a repórter Adriana Guarda, na matéria do JC publicada na última quarta. Mas não só. Também demonstra a falta de prioridade no planejamento preventivo de reestruturação das áreas de risco, inclusive com a relocação dos habitantes – algo que parece evidente na magnitude de eventos como o que acontece no Rio Grande do Sul.