A provação a que estão submetidos os usuários do transporte coletivo sobre trilhos na Região Metropolitana do Recife, diariamente, expõe um problema estrutural que vem de décadas, com repercussões sociais e econômicas formadoras de um gargalo evidente para o desenvolvimento de Pernambuco. Ao mesmo tempo, trata-se de um reflexo de governos descompromissados com a mobilidade dos cidadãos, entregues à paralisia do descaso e à inércia da má gestão. A população cobra, chora de raiva, perde tempo, se estressa, se sente indignada e tão abandonada quanto os trens e equipamentos sucateados, em um sistema deficitário que sobrevive às mínguas, sem atenção do governo federal nem uma solução efetiva da parte do governo do Estado.
Sem a manutenção adequada, e com problemas que se acumulam devido à falta de manutenção, as 18 estações da linha entre o Centro do Recife e Jaboatão dos Guararapes parou, mais uma vez, proporcionando aos usuários um conturbado início de semana. A superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife tenta fazer milagre com os parcos recursos disponíveis, repassados pelo governo Lula, a quem cabe a gestão, e ao qual devem ser feitas as cobranças pela continuidade desse desrespeito com os pernambucanos, quase um ano e meio após o início de seu terceiro mandato – nunca é demais lembrar.
Com praticamente a metade dos passageiros que já transportou, o Metrô do Recife opera quase por teimosia, lembrando aos gestores públicos a demanda por transporte na Região Metropolitana. Ao invés de ser bem mantido e ampliado, o sistema metroviário em Pernambuco funciona no limite das quebras, com poucos trens e muitos problemas, entre os quais o risco imposto às pessoas que optam pelo serviço, também teimosamente. Para se ter uma ideia do descaso, dos quase R$ 2 bilhões estimados como necessários para recuperar e melhorar o sistema, apenas R$ 30 milhões estão previstos no orçamento deste ano. A penúria da gestão e o tormento para a população vão continuar, sem prazo para terminar.
O valor bilionário demandado pelo Metrô do Recife é pequeno diante do déficit estimado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em relação aos investimentos para mobilidade urbana em todo o Brasil: a cifra de R$ 300 bilhões. Daí a importância de se cogitar a participação da iniciativa privada, a exemplo de modelos bem-sucedidos em outras partes do mundo, e mesmo dentro do nosso país. A baixa capacidade de investimento do setor público não pode seguir penalizando a população, que tem direito a serviços básicos como saneamento e transporte. Em Pernambuco, o governo Paulo Câmara chegou a anunciar a concessão, e recuou da proposta, por empulhamento político. A governadora Raquel Lyra cuida do assunto de longe, à espera da liberação de recursos do governo federal para assumir uma possível estadualização. Enquanto os atores políticos aguardam na estação as próximas eleições, o Metrô mais abandonado do Brasil segue o rumo para o descarrilamento.