A fraternidade é olímpica
Abertura oficial dos Jogos Olímpicos em Paris é ocasião propícia à celebração do encontro de atletas, estimulando a convivência entre as nações
A beleza da capital francesa irá emoldurar uma cerimônia de abertura olímpica como jamais se viu, do lado de fora de um estádio. Aproveitando a extensão do Rio Sena, as delegações de atletas desfilarão em barcos por um trajeto aquático de seis quilômetros, por onde passarão 10.500 atletas em uma centena de embarcações. Num momento de inquietação da história contemporânea, com a civilização global enfrentando crise climática e ambiental, e em uma corrida armamentista como há muito tempo não se tinha, o simbolismo da população da Terra ocupando e atravessando o mesmo rio é mais do que propício. Estamos juntos neste percurso da vida no planeta – somos juntos, e precisamos manter a espécie humana unida, compreendendo o nosso papel decisivo para a biosfera e as demais espécies de vida no oásis em que habitamos, na vastidão cósmica sem vizinhança nem endereço alternativo à casa de que dispomos.
A festa parisiense ainda aproveitará um dos mais conhecidos ícones turísticos do mundo – a Torre Eiffel – para levar para lá a culminância da pira olímpica e os protocolos do evento. Endereço mais visitado na França, a Torre Eiffel já representa um lugar de pluralidade e harmonia, recebendo gente de todos os cantos, línguas e feições. A cada quatro anos, as Olimpíadas resgatam a unidade humana, em contraponto à desigualdade e à intolerância. O vínculo através dos esportes em uma competição de alto nível se opõe ao distanciamento entre os povos, realçando o corpo e a capacidade física e mental que nos aproxima. Além dos tradicionais lemas dos Jogos – “mais rápido, mais alto, mais forte” – não seria destoante sintetizar outra face do espírito olímpico na reunião de indivíduos de todas as partes: mais juntos, mais livres.
Assim como o lema da Revolução Francesa se tornou mais amplo que a revolução, pregando a igualdade, a fraternidade e a liberdade em qualquer país onde as pessoas estejam cerceadas em seus direitos, as Olimpíadas trazem propósitos além da disputa por medalhas, embora a excelência das marcas continue sendo uma meta para os atletas. A interação proporcionada na cidade olímpica, e na cidade que acolhe os Jogos, ganha dimensão política na reafirmação de virtudes humanas que não se resumem à capacidade física, mas se estendem à capacidade do ser humano de se relacionar com os outros, compreender realidades diferentes e amadurecer graças à descoberta da diferença. E isso vale para pessoas e nações.
Um período de paz e esperança, no qual as guerras e o ódio deixem de assustar e matar gente pelo mundo, é a expectativa do presidente da França, Emmanuel Macron, para as Olimpíadas no país. Que seja não apenas uma trégua, mas um chamado à razão para o encerramento dos conflitos e a redução da produção de armas e sofrimentos. A melhor vitória da humanidade tem sido ultrapassar as barreiras da desumanidade – precisamos retomar essa trilha, inspirados pela fraternidade olímpica.