A educação pelo esporte

Toda inspiração que vem da garra, da força e do talento de atletas de alto nível, traz também a reflexão de como se tratam os esportes no Brasil

Publicado em 04/08/2024 às 0:00

As lágrimas das medalhas conquistadas ou do esforço monumental que pode passar pela mente nos momentos de frustração, revelam histórias de dedicação e superação. Os atletas do Brasil, mais uma vez, demonstram o seu valor nos Jogos Olímpicos de Paris, especialmente as mulheres, ocupando com brilho os espaços na representação do esporte nacional, e posições indiscutíveis nos pódios da competição. Cidadãos e cidadãs de um país que se enxerga neles e nelas, mas fora das Olimpíadas, são pouco valorizados. Assim como a necessária integração das atividades esportivas à educação de um povo que busca, há séculos, melhorar no ranking do desenvolvimento.
Modalidades diversas convergem para o fortalecimento da identidade nacional. Do vôlei ao futebol, da ginástica artística ao judô, do surf ao tênis de mesa, a brasilidade se levanta nas disputas pelas medalhas e na torcida de milhões de espectadores. No pódio, o hino nacional atiça a emoção, em momentos raros de conquista do ouro. Mas também no pódio, as vitórias simbolizadas pela prata e pelo bronze são devidamente realçadas, despertando o orgulho da grande nação verde-amarela. São instantes preciosos, no ápice de longas trajetórias de treinos, renúncias e dificuldades para quem as percorre. E no encontro propício das Olimpíadas, vale não apenas comemorar muito, junto com a delegação inteira, mas também pensar na relação, quase nunca praticada, entre aquilo que o esporte ensina e seu aproveitamento no dia a dia, sobretudo nas escolas.
A formação que tem no esporte um componente essencial pode contribuir para uma educação melhor, na qual se instrui a mente e o corpo para o usufruto da cidadania. A competitividade, nesse caminho, é consequência. Se o foco no aperfeiçoamento do desempenho é uma demanda individual, que cabe à dedicação de cada um, é no congraçamento das competições, em jogos escolares ou nas Olimpíadas, que as capacidades exímias se encontram, e dialogam com o máximo extraído, igualmente, de cada um. A competição destaca poucos – o esporte reúne todos.
A ampliação do acesso ao esporte é tão importante quanto o acesso ao conhecimento. Por isso é crucial, no Brasil, a consciência de que a educação e o esporte precisam estar integrados. O esporte faz parte da educação, e de certo modo, vice-versa: o esportista aprende com o próprio corpo, avançando limites, enxergando limites nos avanços. Na educação pelo esporte, o aprendizado é contínuo, requer humildade, ousadia e empatia – pois os concorrentes não são inimigos, mas companheiros de estrada. Como se pode ver em momentos tocantes nas Olimpíadas.
Aproximar a cultura esportiva da gestão da educação, estimular a formação de atletas com a mesma visão de longo prazo necessária para se formar cidadãos e cidadãs, plantar desde cedo, nas crianças e adolescentes, o gosto por atividades esportivas - compõem desígnios que cabem aos governos de todos os níveis, com a participação indispensável da iniciativa privada no apoio para que o alto desempenho seja percebido, e floresça num ambiente de potenciais bem aproveitados.

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