A educação pelo esporte
Toda inspiração que vem da garra, da força e do talento de atletas de alto nível, traz também a reflexão de como se tratam os esportes no Brasil

As lágrimas das medalhas conquistadas ou do esforço monumental que pode passar pela mente nos momentos de frustração, revelam histórias de dedicação e superação. Os atletas do Brasil, mais uma vez, demonstram o seu valor nos Jogos Olímpicos de Paris, especialmente as mulheres, ocupando com brilho os espaços na representação do esporte nacional, e posições indiscutíveis nos pódios da competição. Cidadãos e cidadãs de um país que se enxerga neles e nelas, mas fora das Olimpíadas, são pouco valorizados. Assim como a necessária integração das atividades esportivas à educação de um povo que busca, há séculos, melhorar no ranking do desenvolvimento.
Modalidades diversas convergem para o fortalecimento da identidade nacional. Do vôlei ao futebol, da ginástica artística ao judô, do surf ao tênis de mesa, a brasilidade se levanta nas disputas pelas medalhas e na torcida de milhões de espectadores. No pódio, o hino nacional atiça a emoção, em momentos raros de conquista do ouro. Mas também no pódio, as vitórias simbolizadas pela prata e pelo bronze são devidamente realçadas, despertando o orgulho da grande nação verde-amarela. São instantes preciosos, no ápice de longas trajetórias de treinos, renúncias e dificuldades para quem as percorre. E no encontro propício das Olimpíadas, vale não apenas comemorar muito, junto com a delegação inteira, mas também pensar na relação, quase nunca praticada, entre aquilo que o esporte ensina e seu aproveitamento no dia a dia, sobretudo nas escolas.
A formação que tem no esporte um componente essencial pode contribuir para uma educação melhor, na qual se instrui a mente e o corpo para o usufruto da cidadania. A competitividade, nesse caminho, é consequência. Se o foco no aperfeiçoamento do desempenho é uma demanda individual, que cabe à dedicação de cada um, é no congraçamento das competições, em jogos escolares ou nas Olimpíadas, que as capacidades exímias se encontram, e dialogam com o máximo extraído, igualmente, de cada um. A competição destaca poucos – o esporte reúne todos.
A ampliação do acesso ao esporte é tão importante quanto o acesso ao conhecimento. Por isso é crucial, no Brasil, a consciência de que a educação e o esporte precisam estar integrados. O esporte faz parte da educação, e de certo modo, vice-versa: o esportista aprende com o próprio corpo, avançando limites, enxergando limites nos avanços. Na educação pelo esporte, o aprendizado é contínuo, requer humildade, ousadia e empatia – pois os concorrentes não são inimigos, mas companheiros de estrada. Como se pode ver em momentos tocantes nas Olimpíadas.
Aproximar a cultura esportiva da gestão da educação, estimular a formação de atletas com a mesma visão de longo prazo necessária para se formar cidadãos e cidadãs, plantar desde cedo, nas crianças e adolescentes, o gosto por atividades esportivas - compõem desígnios que cabem aos governos de todos os níveis, com a participação indispensável da iniciativa privada no apoio para que o alto desempenho seja percebido, e floresça num ambiente de potenciais bem aproveitados.