Sororidade no pódio
Protagonismo feminino nos Jogos Olímpicos de Paris foi um destaque positivo no desempenho brasileiro, que inspira coragem e pede mais inclusão
Os números refletem a diferença pequena, porém notável: das 20 medalhas conquistadas pelo Brasil nas Olimpíadas 2024, 12 foram vencidas por atletas mulheres – que ganharam as 3 medalhas de ouro, e 4 das 7 medalhas de prata. As brasileiras cumpriram o lema olímpico com distinção, indo mais alto, mais forte, mais rápido, e não apenas em relação às competições. Os momentos de glória, os exemplos do talento e do esforço, os ícones gerados na França ficam para a inspiração de novas gerações de atletas, que já podem despontar no ciclo iniciado para os Jogos de Los Angeles, daqui a quatro anos. E as imagens guardadas na lembrança também retratam o acréscimo do lema, feito em 2021: a palavras “juntos” faz muito mais sentido quando as mulheres traduzem o espírito olímpico no prazer da participação coletiva, no fortalecimento dos laços entre as pessoas, na solidariedade aos que sofrem e na empatia diante de episódios que não desmerecem o caminho até a disputa que reúne os melhores atletas do planeta em competições breves de exímia performance.
Se a cultura de paz disseminada na França por esportistas de variadas nações encerra o evento como um dos marcos evidentes, numa época tensionada por guerras e possibilidades de guerra, em larga medida isso se dá em virtude do comportamento exibido pelas mulheres. Como na ginástica rítmica ou no skate, onde as principais competidoras não deixam de ser adversárias, mas se revelam amigas e entusiastas do desempenho das outras. Em suas redes sociais, a integrante das Academia Brasileira de Letras, Lilia Schwarcz, afirmou: “Vale premiar a sororidade reinante entre as mulheres; tanto entre equipes como umas com as outras — incluindo-se as adversárias. Sororidade é um conceito que se refere à empatia, solidariedade e acolhimento entre mulheres em situações simples do dia a dia até projetos sistemáticos de apoio mútuo”, tais como as competições esportivas, nessa perspectiva feminina.
A atriz Taís Araújo, também nas suas redes, chamou a atenção para as vitórias das mulheres pretas e para o protagonismo que não se limita ao campo esportivo. “Além do impacto da raça, classe e gênero no esporte, também é preciso destacar a coragem das atletas que usaram esse espaço de destaque mundial para abrir diálogos necessários e difíceis, como a urgência de visibilidade para conflitos em seus países de origem e saúde mental”. A vitrine das Olimpíadas não serve apenas – e já seria muito – para mostrar os efeitos da maior presença das mulheres – e das negras – nas modalidades. Os Jogos abrem janelas para se mirar o mundo em que vivemos, nossa história e futuro em comunhão.
Para o Brasil, a rota continuada e reforçada por Rebeca, Bia e Rayssa – entre outras, medalhistas ou não – tem muito a ser percorrida. As medalhas que celebramos devem apontar para um país melhor, mais inclusivo, no qual o espírito público aprenda algo com o espírito olímpico praticado em bela sororidade.