À espera de infraestrutura
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria revela que as condições para o desenvolvimento são consideradas inadequadas pelos empresários

A diversidade cultural, a beleza natural, o potencial criativo e a disposição para o trabalho, além das demandas que aparecem como oportunidades de mercado, fazem do Nordeste uma região de grande atratividade para muitos empreendedores. No entanto, as dificuldades essenciais para se abrir, manter e expandir qualquer negócio em um estado nordestino podem atrapalhar os planos, assim como retardam o desenvolvimento regional, deixando a população à espera de melhorias que possam garantir um avanço sustentável dos indicadores sociais e dos níveis de qualidade de vida.
Relatório divulgado esta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que quase três quartos dos empresários industriais escutados não consideram boas as condições de infraestrutura disponível na região. O que não chega a ser surpresa, a partir de dados apurados em outros levantamentos, como a má qualidade das rodovias e do transporte rodoviário. De acordo com a CNI, sem infraestrutura adequada, não se pode almejar crescimento econômico, e se perde competitividade e produtividade, com altos custos e baixa eficiência nos resultados. A lógica pode ser transferida para o âmbito das políticas públicas: sem a infraestrutura necessária, os serviços básicos de saúde, educação, segurança, transporte, energia, saneamento, ficam mais caros e não são vistos pela população como benefícios, e sim, como prolongados problemas.
Se o Custo Brasil é alto, o Custo Nordeste se apresenta como um obstáculo para a redução das desigualdades entre as regiões. Daí a necessidade de políticas de infraestrutura que priorizem o atendimento à demanda estrutural nordestina, que há de ser o ponto de partida para o desenvolvimento há muitos anos aguardado. Os potenciais de geração de energia e expansão da fronteira agrícola ficam estagnados, sem serem plenamente utilizados, por causa da infraestrutura insuficiente e pouco atrativa para investimentos. Especialmente, devido às dimensões territoriais, no que diz respeito à logística, com um transporte rodoviário suscetível a estradas ruins, e a malha ferroviária de poucas rotas e baixa capacidade de distribuição. E ainda, acessos difíceis aos portos e problemas na disponibilidade aérea.
Para sair da estagnação, os empresários propõem um conjunto de medidas que abrangem obras na fila da aceleração, e equipamentos já existentes, mas que estão longe de sua condição ideal. Como a manutenção e expansão de rodovias estratégicas, a exemplo das BR 101 e 232. Ou o Arco Metropolitano de Pernambuco, e a Ferrovia Transnordestina, na ligação de Salgueiro a Suape. Também propõem modernizar a gestão portuária do Recife e de Suape, além de outros portos, expandir a Refinaria Abreu e Lima, e estimular a produção do hidrogênio verde.
As sugestões integram a agenda dos governos estaduais e do governo federal há algumas décadas. Mas as decisões políticas para a realização financeira das obras de infraestrutura no Nordeste carecem de continuidade. Como se nunca fossem pra valer, ou demorassem tanto a acontecer que precisam custar o dobro ou o triplo, pelo atraso e pelos desvios no meio do caminho, detectados pelos órgãos de controle. O panorama da economia é desalentador, porque a política continua a de sempre.