Um dia para a história
Eleição do próximo ocupante da Casa Branca, neste 5 de novembro, transcende as fronteiras dos Estados Unidos e gera expectativa em todo o planeta
No peculiar sistema eleitoral norte-americano, mais de 80 milhões de eleitores, o equivalente a cerca de um terço dos inscritos, já votaram, antes do dia oficial nesta terça, 5 de novembro. São escolhas enviadas pelo correio, ou nos estados em que a antecipação do voto é permitida em locais especiais de votação. Embora o resultado deva demorar alguns dias para ser declarado, há enorme expectativa, dentro e fora dos EUA, sobre as primeiras horas de apuração. Tudo porque o ex-presidente republicano Donald Trump continua fiel a estratégia de tumultuar o processo democrático em seu pleno andamento. O ex-presidente que disputa pela volta ao poder tem denunciado fraude antes mesmo do início da contagem de votos, e avisou que vai comemorar a vitória na madrugada, porque não haveria outro resultado possível.
Vença quem vença, 2024 já entra para a história do país e do mundo – pelo papel de superpotência mantida no mundo multipolar, desempenhado pela Casa Branca. Dois fatos marcantes serão estudados, com certeza, no futuro, quando a eleição de Kamala Harris ou Donald Trump tiver sido há muito consumada. A troca de candidatura dos democratas, depois de um debate entre Joe Biden e Trump, no qual o atual presidente foi considerado pelos partidários como inapto a concorrer à reeleição. E o atentado contra o magnata, que teve a orelha raspada por um tiro durante um evento de campanha, deixando o púlpito sangrando, com uma das mãos erguidas, o punho cerrado em sinal de bravura para as câmeras e os milhões de seguidores.
Os temas centrais da campanha rondam a decisão das eleitoras e dos eleitores nos EUA: a economia, os imigrantes, a agenda nacionalista e o valor da democracia. Os dois candidatos que representam o Partido Republicano e o Partido Democrata, talvez jamais tenham sido tão diferentes, criando polarização cercada por polêmicas. Num pleito que pode ser decidido por pequena margem graças à escolha majoritária das mulheres, dos negros e dos latinos, uma mulher negra tenta chegar à cadeira presidencial pela primeira vez.
Do outro lado, o ex-presidente que ergueu sua figura como referencial da direita mundial, aposta no discurso oposicionista que critica a conjuntura econômica e se apresenta como salvador da pátria e do planeta, ao mesmo tempo. Às vésperas do dia de votação, Kamala chamou os cidadãos à unidade, buscando quebrar as resistências do radicalismo. Trump seguiu girando a metralhadora verborrágica para todos os lados, mirando na imprensa, no governo Biden e no sistema de apuração, antecipando um comportamento conhecido desde que perdeu a última eleição.
Em um país onde o voto não é obrigatório, as duas candidaturas clamam pela participação popular, já que o resultado pode ser por um triz para qualquer um dos lados. O voto antecipado pode ser indício de que a população está atendendo ao chamamento. Um dos pilares da civilização contemporânea – síntese de contradições da humanidade – está para decidir qual o caminho a seguir. E essa escolha irá interferir no destino de todos nós.