16 milhões de pessoas em favelas
O equivalente a pouco mais de 8% da população brasileira mora em condições precárias de infraestrutura, em grande parte exposta ao crime organizado
Há mais brasileiros morando em favelas do que a soma das populações inteiras das cidades de São Paulo, Recife e Porto Alegre – e ainda teria gente para ocupar outras. Um recorte do Censo 2022 divulgado na última sexta, mostra que o Brasil possui mais de 16 milhões de pessoas vivendo em mais de 12 mil favelas e comunidades urbanas, em 656 municípios. Vale dizer que a classificação do IBGE leva em conta a precariedade da vida nesses locais, onde os indivíduos e suas famílias não têm a posse do lugar, enfrentam a ausência ou carência de serviços públicos, e ainda se encontram diante do risco ambiental. Podemos acrescentar que a exposição ao crime organizado e à violência cotidiana é outra característica presente, sobretudo nas grandes cidades e regiões metropolitanas.
O aperfeiçoamento da tecnologia de mapeamento das ocupações urbanas é indicado pelos pesquisadores como principal fator de influência para o aumento verificado nas últimas décadas. Hoje é mais fácil enxergar onde estão as comunidades. Mas infelizmente continua sendo difícil cuidar de seus habitantes com a prioridade que merecem, pelo grau de vulnerabilidade a que estão submetidos. Se o mapa da miséria cresceu, não é possível dizer o mesmo da efetividade das políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida nas favelas – é claro que existem exceções. No entanto, os governos no Brasil, de um modo geral, tomam as comunidades improvisadas em morros, beiras d’água e espaços em decadência nas cidades, como um fato consumado, e não uma realidade que precisa ser transformada.
A maioria dos moradores das favelas se concentra no Sudeste, região mais populosa do país: 7,1 milhões de pessoas. Em seguida, estão no Nordeste: 4,6 milhões. Somente no estado de São Paulo, os que moram nas favelas equivalem a quase toda a Região Metropolitana do Recife – são 3,6 milhões. Em Pernambuco, 12% da população vive em favelas. Na capital, 26% dos habitantes estão em comunidades. As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, em comparação relativa, têm cerca de 14% de suas populações morando nessas condições.
A desordem reinante na ocupação urbana é perpetuada por uma espécie de congelamento das precariedades existentes. Ao invés de propor e gerar melhorias para a moradia, ou mesmo estabelecer limites necessários para o uso do solo em locais de risco, os governos – e parcela da oposição, em qualquer lugar do país – preferem manter tudo do jeito que está. Nesse caso, condenando as novas gerações de brasileiros nas favelas a viverem como seus pais e avós, ou pior, quando o controle do crime organizado impõe um dia a dia de medo e sangue, à revelia da capacidade das autoridades de segurança pública de cumprirem sua responsabilidade.
São 16 milhões de pessoas à espera de dignidade, respeito e atenção – sem o olhar condescendente que sustenta a realidade aviltante com gestos de tão imprescindível, quanto insuficiente, solidariedade. Falta governo nas favelas brasileiras – e disso, quem mora lá está cansado de saber.