Diplomacia e política em choque

Depois da eleição de Trump nos EUA, encontro de líderes nacionais no Brasil pode se transformar em palanque de lamúrias e apreensões

Publicado em 18/11/2024 às 0:00
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Ainda com parcela da política global de ressaca moral pela decisão democrática do povo norte-americano, que escolheu um detrator da democracia e suas instituições para a Casa Branca, líderes dos 20 países de maior economia no mundo se reúnem no Rio de Janeiro, em clima de ressentimento e tensão antes de o republicano assumir a cadeira presidencial nos Estados Unidos. Se não faltam motivos para apreensões de todo tipo, graças ao que ele já fez no primeiro mandato, e prometeu fazer no segundo, tendo Joe Biden no intervalo, também sobram problemas concretos, fora do tema Trump, para a preocupação e a mobilização da diplomacia internacional e das nações do G20. Mas o risco é grande para mais uma oportunidade perdida, quando a política domina os debates e deixa as providências esperadas há décadas em segundo o terceiro planos.
O encontro no Brasil terá a participação de importantes chefes de Estado, como Xi Jinping, da China, que traz uma delegação de nada menos que mil integrantes, e Joe Biden, dos Estados Unidos, em fim de mandato. Envolvido em outras questões e com uma guerra cada vez mais cara para cuidar, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não virá. Presidentes ou primeiros-ministros de países como a Alemanha, o Canadá, a Arábia Saudita, o Japão, o México, a Índia, a Itália e a França também estarão presentes. Um desfile de personalidades políticas de um mundo em rearrumação, onde a diplomacia, a começar pela Organização das Nações Unidas (ONU) procura um papel consequente a cumprir.
O documento final da cúpula deve ser apresentado na terça, mas não há grandes expectativas de avanços ou novidades, depois que Javier Milei, da Argentina, tem sido visto como mensageiro de Donald Trump para contradizer a maioria e polemizar com o dissenso sobre o que já vinha sendo acordado há meses ou anos, como a taxação de super-ricos, a agenda de prevenção climática e pautas de gênero. Além disso, a desordem econômica global atrelada a conflitos bélicos que demandam bilhões de dólares em armas e tecnologia da morte, reduz o alcance dos acordos que poderiam ser firmados – e raramente o são, com efeitos coletivos positivos para as populações.
Os três eixos escolhidos pelo governo brasileiro para direcionar os esforços para decisões conjuntas em dois dias de cúpula foram: inclusão social, transição energética e governança global. Dificilmente haverá recursos para o financiamento do primeiro, enquanto as guerras continuarem sugando a quantia de dinheiro que sugam. A transição energética esbarra no pragmatismo econômico, e deve ser ainda mais freada com a chegada de Trump ao poder. E a governança global depende não só da reorganização das Nações Unidas, mas da definição de um arranjo político global ainda em clara formação – com a probabilidade alta de protagonismo reduzido das democracias.
Apesar do palco grandioso, o espetáculo do G20 não deve passar do teatro de sempre.

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