Responsabilidade global

Com resultados frustrantes para uma agenda de urgências, a COP29 lança grandes expectativas para a COP30 que será no Brasil, ano que vem

Publicado em 25/11/2024 às 0:00
Google News

Os encontros promovidos pelas Nações Unidas para planejar e direcionar soluções diante dos desafios da crise climática e ambiental no planeta, nos últimos anos, têm sido marcados pela frustração de grandes expectativas. Embora não faltem argumentos científicos para corroborar a necessidade de ações coordenadas nos países e nas cidades, envolvendo as populações no propósito de retardar os efeitos da mudança do clima e impedir a continuidade da redução da biodiversidade, os acordos de conclusão decepcionam. Ou porque não atendem ao que se espera que possam fazer, de partida, ou por não serem respeitados pelos signatários, anos mais tarde.
Desta vez, a ênfase do anticlímax no final da COP29, no Azerbaijão, é o valor acertado para que os países ricos repassem para os em desenvolvimento – de 1,3 trilhão de dólares anuais, solicitados, para 300 bilhões de dólares anuais até 2035, o valor combinado. A questão é saber se mesmo esse montante será repassado, e como será gasto e fiscalizado de modo a garantir parte da agenda ambiental vista como prioritária. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o desfecho do encontro revelou falta de ambição dupla – para a ajuda financeira ao combate e prevenção às mudanças climáticas pelos países pobres, e nas metas de redução de emissão de gases poluentes, principal fator de elevação da temperatura média da Terra, causa primária dos desequilíbrios e eventos extremos que a população mundial tem visto acontecer em diversos lugares.
Nem mesmo a indicação das fontes de recursos para a mitigação dos países em desenvolvimento foi apontada pela COP29. O financiamento climático demandou negociações de representantes de cerca de 200 países presentes no evento, mas pode servir apenas como base para avanços efetivos, na expressão de Guterres. A dificuldade para o estabelecimento da responsabilidade global perante o clima e o meio ambiente, agora, é transmitida ao Brasil, que irá sediar a COP30, em Belém, em novembro do próximo ano. Desde os preparativos diplomáticos até um discurso sintonizado com a urgência que vem sendo repetida por Guterres e outros atores de entidades internacionais, tudo voltado para o atendimento de expectativas que chegarão nosso país ainda maiores, a conclusão do encontro no Pará precisa ser um ponto de virada na política global ambiental – ou pode ser, pelo contrário, mais do mesmo, enquanto os ambientalistas alertam para o fato de que estamos cada vez mais com menos tempo para fazer alguma coisa.
O gesto de abandono da reunião conclusiva, por representantes de países pequenos e em desenvolvimento, foi a imagem da discórdia na COP29, considerada por muitos como um desastre para o mundo. O Brasil tem um ano para tentar influenciar positivamente numa outra mudança de clima – o clima político de consenso, necessário para construir uma agenda efetiva e viável, a partir dos fracassos de seguidos encontros de cúpula até o momento.

Tags

Autor