A urgência dos consensos
Debate sobre mudanças constitucionais deve levar em conta a necessidade da população brasileira, em uma questão que vai muito além dos governos
Um dos maiores problemas da gestão pública no Brasil demanda soluções articuladas, que sejam ampliadas em sua aplicação pelos diversos níveis de governo – e não, restritas e esvaziadas exatamente quando se espera delas o efeito do benefício para o cidadão. Não é por acaso que um dos principais assuntos da Reunião do Fórum Nacional de Governadores, na última terça, tenha sido a proposta, que finalmente avança como consenso, sobre o Fundo Nacional de Segurança Pública e Política Penitenciária. O domínio do crime organizado no país precisa de um freio, comandado pelos governantes, aplicado durante vários anos como política de Estado, e não, suscetível a passos para trás e atrasos que se repetem na transição de mandatos.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, participou da reunião, ao lado de outros representantes do governo federal. A integração entre os níveis de governo é fundamental para que qualquer estratégia direcionada à redução da criminalidade no país tenha alguma chance de êxito. A necessidade de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para a segurança foi ratificada pelo ministro, numa demanda compartilhada com os governadores. O aperfeiçoamento da legislação pertinente à segurança será um dos elementos da PEC, de acordo com o ministro, que garantiu a avaliação das sugestões dos governadores pelo Planalto.
A constitucionalização dos Fundos Nacional de Segurança Pública e de Política Penitenciária é um consenso entre os estados, e deve receber apoio do governo federal. Outro ponto consensuado é a autonomia da gestão das polícias pelos estados. A compreensão da organização criminosa também parece sem divergências: o crime não é mais apenas local, mas se aprimorou de tal forma que se apresenta em todo o país como crime nacionalizado ou até internacionalizado, com líderes em constante comunicação – dentro e fora das penitenciárias. O descontrole nas últimas décadas só fez com que o quadro se agravasse, no Brasil e em outros países, especialmente na América Latina.
Pelo que é preciso fazer se pode vislumbrar as facilidades que os bandidos têm até agora. De acordo com o ministro Lewandowski, as mudanças planejadas incluem a melhoria da comunicação entre as entidades de segurança no país, nos diversos níveis de governo, e a unificação da metodologia de apuração da criminalidade. Ou seja, vigora a falta de comunicação, ou incompleta, e a diversidade metodológica que colabora para uma confusão de informações e procedimentos na aplicação das políticas de segurança. Essas disparidades facilitam a vida das gangues e dificultam o cotidiano da população, submetida ao império da violência.
A lentidão do poder público abriu um vasto território de oportunidades para o crime organizado, que faturou, somente em 2022, um valor estimado em R$ 146 bilhões, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ou os governos se organizam para combater o crime, ou a economia do crime seguirá se impondo num país marcado pela desigualdade.