CIDADANIA

Aniversário de Olinda: transformação que vem dos terreiros

No aniversário das cidades irmãs, Recife e Olinda, o JC conta histórias de empoderamento de comunidades da periferia

Amanda Rainheri
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Amanda Rainheri
Publicado em 12/03/2020 às 6:51 | Atualizado em 12/03/2020 às 7:02
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

A força de uma cidade vem do seu povo, da sua história e da sua cultura. Vem do poder de se reinventar diante das diferentes adversidades, de evoluir. De buscar o empoderamento, o pertencimento, o bem comum, independente da presença do poder público. No dia em que Olinda completa 485 anos e a capital pernambucana chega aos 483 anos, o Jornal do Commercio traz histórias de força e superação. Da força que vem das comunidades, das periferias das cidades irmãs. Que é negra, de resistência e de luta por direitos e espaços. Uma força que transforma vidas e realidades todos os dias.

Há cerca de sete anos, Glória Maria Oliveira, 61 anos, assumiu o cabelo afro. Mais que estética, a decisão foi um grito de resistência. De libertação. De poder ser quem se é. Moradora de Xambá, comunidade construída no entorno do terreiro Ilê Axé Oyá Meguê, no bairro de Peixinhos, em Olinda, ela viu a comunidade se transformar e se empoderar a partir do Grupo Bongar, que além de cultura dá lição de cidadania, através de projetos sociais.

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“Surgimos com a proposta de tocar aquilo que fala com a comunidade, que é o coco. Tivemos o cuidado de ser um grupo que trabalha os elementos culturais da cidade e ao mesmo tempo ser uma voz política contra o preconceito”, afirma Guitinho da Xambá, vocalista do grupo que completa 19 anos em 2020.

O Bongar começou o trabalho social com oficinas musicais para os jovens. Em 2008, se transformou em instituição, para abraçar diferentes projetos. Hoje atende pessoas a partir de 3 anos de idade em um centro cultural no bairro.

No local são oferecidas oficinas como capoeira, percussão, pandeiro e teoria musical. A instituição ainda oferece atendimento psicológico gratuito e contação de histórias, além de debates sobre produções audiovisuais com a temática negra.

“Quando cheguei aqui, há 16 anos, via pessoas que moravam perto do terreiro colocarem a roupa dentro da bolsa para trocar quando chegassem lá. Hoje, vejo as pessoas utilizando o axé em qualquer lugar. É um forte trabalho de empoderamento da comunidade promovido pelo Bongar, que começa com as crianças e se estende aos mais velhos, que ainda vivem o medo da opressão sofrida”, afirma a jornalista Marileide Alves, autora do livro Povo Xambá resiste: 80 anos de repressão aos terreiros em Pernambuco.

“É muito simbólico tudo o que se construiu aqui. As pessoas não acreditam que núcleos periféricos podem produzir algo que contribua para a formação intelectual. Estamos, através da nossa luta, mostrando que sim, que isso também faz parte da nossa identidade enquanto negro”, afirma Guitinho.

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Ponto de Cultura Coco de Umbigada na Comunidade do Guadalupe em Olinda. Maria Elizabeth Santiago de Oliveira, conhecida como Mãe Beth de Oxum, é uma ialorixá e percussionista brasileira.Terreiro transformado em polo de inovação leva educação a jovens de Olinda. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Ponto de Cultura Coco de Umbigada na Comunidade do Guadalupe em Olinda. Maria Elizabeth Santiago de Oliveira, conhecida como Mãe Beth de Oxum, é uma ialorixá e percussionista brasileira.Terreiro transformado em polo de inovação leva educação a jovens de Olinda. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Ponto de Cultura Coco de Umbigada na Comunidade do Guadalupe em Olinda. Maria Elizabeth Santiago de Oliveira, conhecida como Mãe Beth de Oxum, é uma ialorixá e percussionista brasileira.Terreiro transformado em polo de inovação leva educação a jovens de Olinda. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Ponto de Cultura Coco de Umbigada na Comunidade do Guadalupe em Olinda. Maria Elizabeth Santiago de Oliveira, conhecida como Mãe Beth de Oxum, é uma ialorixá e percussionista brasileira.Terreiro transformado em polo de inovação leva educação a jovens de Olinda. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
ALEXANDRE GONDIM
Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM
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Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Grupo Bongar é formado por percussionistas e cantores integrantes da Nação Xambá, localizada em Peixinhos, Olinda, Pernambuco. Realizam um trabalho de resgate e divulgação da cultura e religião da nação Xambá através de sua dança tradicional, o coco, e em seu mais recente trabalho, as giras de Jurema. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

GUADALUPE

Um terreiro que virou polo de cultura, tecnologia, comunicação e arte. Assim é o Ilê Axé Oxum Karê, no bairro de Guadalupe, na Cidade Alta de Olinda. Há 23 anos, o grupo liderado pela Ialorixá Beth de Oxum promove a Sambada do Coco de Umbigada, que atrai mais de 2 mil pessoas no primeiro sábado de cada mês. O evento é uma forma de manter viva a cultura afroindígena, mas as ações vão muito além. Para assegurar o empoderamento do povo negro e periférico, o terreiro passou a oferecer oficinas de tecnologia e formação, em parceria com instituições de ensino superior. Criou ainda uma gravadora para bandas e grupos locais e uma rádio comunitária.

A capilarização começou em 2004, quando o terreiro recebeu reconhecimento do Ministério da Cultura como ponto de cultura pelo Coco de Umbigada. “Desde então, passamos a trabalhar com os jovens a percussão, mas também fomos nos apropriando de outras iniciativas, como a rádio comunitária e a automação de rádio”, explica Beth.

Ainda no campo da tecnologia, o terreiro passou a oferecer oficinas de programação de games, a partir da ótica afroindígena. “Tínhamos a matéria-prima, que é o jovem. O conhecimento não pode ser propriedade apenas da classe média. Aprender a programar não pode ser algo das escolas particulares”, argumenta Mãe Beth. O terreiro atende jovens com idades entre 16 e 29 anos e leva o trabalho também às escolas do bairro e já recebeu reconhecimento internacional pelo trabalho desenvolvido.

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