Uma escolha a ser feita diariamente por refugiados: sair às ruas e pedir ajuda ou ficar em casa para se proteger do novo coronavírus (covid 19) e, assim, não ter como se alimentar. Este é o cenário enfrentado por indígenas da etnia Warao, oriundos da região norte da Venezuela, que estão aglomeradas em duas casas na rua da Glória, bairro da Boa Vista, na área central do Recife.
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Ao JC, o cacique Jhonni Jose Mata explicou que o grupo não possui condições de seguir recomendações de segurança para se proteger do coronavírus, visto que muitas vezes falta o básico. "Não chegou nada para nós, de prefeitura, de ninguém, nem comida chegou e nós não temos nenhuma forma de se cuidar. Não temos dinheiro para comprar álcool de gel, nem para limpar casa. Estávamos sobrevivendo saindo à rua e pedia e comprava o que precisava. Se não puder ir para a rua com esse coronavírus fica difícil. Aqui temos água, mas precisamos de produto de limpeza e de tudo", disse.
Fugindo da crise que assola a Venezuela, o grupo atravessou a fronteira do Brasil e percorreu um trajeto de mais de seis quilômetros até chegar ao Recife. Saíram da cidade de Tucupita, no país vizinho, no início de 2019. No caminho, passaram por Boa Vista, Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza e Natal. Na capital pernambucana, eles ainda buscam dignidade.
A reportagem ouviu reclamação de falta de emprego e de apoio. Em um ambiente pouco ventilado e com poucos cômodos, eles não possuem móveis, alguns dormem em redes, outros dormem em alguns poucos colchões no chão, e estão amontoados, segundo Jhonni, em quatro quartos, crianças, adultos e idosos. "Estamos dizendo aos idosos para não sair da casa, como escutamos a notícia desse coronavírus pedimos para que eles ficassem em casa. Mas temos que ir para a rua. Precisamos", disse ele.
O secretário-executivo estadual da Assistência Social, Joelson Rodrigues, admite que a situação dos venezuelanos se agrava por conta do coronavírus, mas afirma que ações estão sendo desenhadas. "Há um processo de acompanhamento dessas pessoas por parte da Prefeitura do Recife, algumas medidas foram tomadas e é preciso um processo cultural de aproximação contínua. Eles tinham um processo de sobrevivência vinculado a mendicância, a pedir, e não está dando resultados por conta da falta de circulação. E a prefeitura está acompanhando esse público, mas é um processo que envolve diálogo maior e o município aguarda posicionamento do governo federal", explicou.
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Segundo Joelson, o governo estadual deve anunciar medidas para a população em situação de rua em breve. "Isso já vem desde antes do coronavírus e agora a situação se agrava e se equipara à realidade de população em situação de rua na cidade do Recife como um todo. Mas ações estão sendo desenhadas. Tivemos uma reunião ontem, discutimos a situação dos venezuelanos e de fato há algumas ações como cadastramento, encaminhamento e outras estão previstas. É uma agenda da Prefeitura do Recife, mas estamos juntos", afirmou.
No total, 340 refugiados moram em Pernambuco, de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social. A maior parte vem da Venezuela, como parte do Plano de Interiorização do Governo Federal - programa criado para diminuir a migração dos venezuelanos para Roraina. Por aqui, o acolhimento deles fica a cargo de três organizações: Aldeias Infantis, em Igarassu; Cáritas, no Recife e Ação Missionária para Áreas Inóspitas (AMAI), em Carpina.
A resposta da Prefeitura do Recife
A Prefeitura do Recife informa que acompanha a situação dos venezuelanos no Recife e, ainda nesta semana, realizou doação de alimentos nas residências onde se encontram acolhidos. Essa é uma ação que, em parceria com a sociedade civil e entidades religiosas, acontecem com frequência. Para conter a disseminação do Covid-19, está programada uma ação de entrega de barras de sabão amarelo e outros produtos de higiene para que os imigrantes possam se proteger da pandemia. A entrega dos itens acontecerá em breve.
Seguem demais ações da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Recife com relação ao Povo Warao – Venezuelanos:
- As famílias de refugiados venezuelanos – adultos, jovens e crianças - chegaram ao Recife sem apoio oficial de governos ou entidades assistenciais. Chegaram em Recife em 2019. Há cerca de dois anos, a maior parte do grupo entrou no Brasil, passando por Pacaraima (Roraima) Belém (PA), Fortaleza (CE) e Natal (RN).
- As famílias se concentraram em três imóveis: na Rua da Glória, na Rua da Santa Cruz e na Rua Gouveia de Barros, no bairro da Boa Vista.
- Equipe Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS) da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas Sobre Drogas e Direitos Humanos (SDSJPDDH) iniciou trabalho de visitas para realizar cadastramento das pessoas, com a proposta de traçar um perfil e entender as necessidades do povo Warao que chegou ao Recife. Este cadastramento viabilizou o planejamento das ações a serem realizadas pela Prefeitura do Recife.
- Após as visitas realizadas pela equipe do SEAS, foram cadastrados 160 venezuelanos, organizadas em pelo menos 58 núcleos familiares. Foram identificadas necessidades básicas - documentação moradia, saúde, educação e emprego.
- As equipes realizaram reunião com a Defensoria Pública da União para receber orientação sobre a regularização da documentação dos refugiados.
- Os imigrantes estão sendo acompanhados por Agentes Comunitários de Saúde e enfermeiros do Programa de Agentes Comunitários Boa Vista - que fica a 3 minutos distante da Rua da Glória. A Secretaria de Saúde do Recife já realizou atendimentos médico e odontológico e fez vacinação de adultos e crianças. Os profissionais também começaram tratamento contra verminoses e pediculoses (piolhos). Houve ainda bloqueio contra varicela, já que uma criança teve a doença, conhecida como catapora.
- A Prefeitura do Recife ainda está discutindo com o Governo do Estado uma solução para acolhimento das famílias que também poderão ser cadastradas no CADÚnico do Governo Federal. Outra alternativa em discussão é o aluguel social, benefício da PCR.
- Já foi realizado um mutirão para inserir no CADúnico/ Bolsa família com os venezuelanos em questão.
- Equipes da Gerência de Proteção Social Básica, da Secretaria Executiva de Assistência Social, realizaram visita com o intuito de confirmar as demandas de documentação dos venezuelanos. Após isso, um ofício com as informações levantadas foi enviado ao Balcão de Direitos (Governo do Estado) para que seja averiguado qual a melhor medida a ser tomada para realizar ação de emissão dos documentos e regularização do protocolo de refúgio.
- Equipes da SDSJPDDH estão em diálogo constante com a Defensoria Pública da União e com todos os representantes de âmbito municipal, estadual e federal, além de organizações da sociedade civil, que fazem parte do Comitê Interinstitucional, que discute as questões relativas a imigrantes no Estado.
- A secretaria permanece realizando ações de atendimento social. Entretanto, aguarda atendimento de pedido de co-financiamento do Governo Federal para viabilizar outras ações de acolhimento dos imigrantes.
Pernambuco registrou primeira morte pelo novo coronavírus
A Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES) confirmou, nesta quarta-feira (25), a primeira morte pelo novo coronavírus no Estado. A vítima é um idoso de 85 anos, que estava internado no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife, referência para o acompanhamento dos casos de covid-19 na rede estadual. O paciente, morador do Recife, tinha histórico de diabetes e hipertensão, além de cardiopatia isquêmica. Ele apresentou os primeiros sintomas no dia 18 deste mês e foi internado no Huoc na última sexta-feira (20).
O que é coronavírus?
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Como prevenir o coronavírus?
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
Veja o mapa que mostra como o novo coronavírus tem se espalhado pelo mundo
OMS declara pandemia de novo coronavírus
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse na última quarta-feira (11) que a epidemia de Covid-19, que infectou mais de 110.000 pessoas em todo mundo desde o final de dezembro, pode ser considerada uma "pandemia", mas que pode ser "controlada".
"Estamos profundamente preocupados com os níveis alarmantes de propagação e de gravidade, bem como com os níveis alarmantes de inação" no mundo, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Genebra.
"Consideramos, então, que a Covid-19 pode ser caracterizada como uma pandemia", afirmou.
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