Pessoas que estão em situação de rua puderam tomar um banho, fazer uma refeição e receber um kit com produtos de higiene em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, nesta quinta-feira (26). Segundo a gestão do município, ações deste tipo já aconteciam no Centro de Atendimento à População em Situação de Rua (Centro POP), mas devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), foi preciso descentralizar estes serviços para evitar aglomeração.
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Dormindo nas ruas de Jaboatão desde 2018, Bibi Santana e o marido, Marcone Everton, ambos de 26 anos, chegaram cedo na Praça Viaduto Geraldo Melo, em Prazeres, onde está ocorrendo a ação. "Estou em uma situação de rua muito difícil. Vim em busca de comida e também tomei banho, agora estou super alimentada depois de um bom prato de cuscuz. Eu não estou trabalhando, mas meu marido fica pedindo e se humilhando, só não mexe em nada de ninguém", explicou a jovem que disse ter perdido o lar e o apoio da família. "Tenho parentes, mas pela minha opção sexual, neste momento sou só eu e Deus. Sou de Escada, fui criada no Cabo de Santo Agostinho e hoje estou aqui em Jaboatão. A gente dorme na rua, mas num cantinho protegido", afirmou Bibi.
Para manter a distância mínima segura de 1 metro entre as pessoas, marcações no solo foram feitas e os assistentes sociais orientam sobre os cuidados para evitar o contágio e para aqueles quem têm famílias a recomendação é que retornem para casa. O serviço de apoio será oferecido de segunda a sábado, das 8h ao meio-dia, tanto em Prazeres quanto na Casa da Cultura, em Jaboatão Centro.
Além daqueles que já são cadastros pela Secretaria de Assistência Social, outros estão sendo abordados pelos agentes sociais para também serem atendidos pelo serviço. "Focamos na limpeza, na tentativa de retorno para os lares, tem banho e alimentação. A cada quatro dias é entregue escova, desodorante, sabonete e creme dental. No começo, também entregamos camisas. É um serviço que já existe, mas está descentralizado agora. As pessoas tem acompanhamento da equipe do centro, verificando se de fato são moradores de rua e estamos fazendo abordagem nos locais onde eles ficam para que venham tomar banho e ter orientações sobre os cuidados com higiene, principalmente sobre lavar as mãos", explicou a secretária municipal de Assistência Social e Cidadania, Mariana Inojosa.
A ação acabou atraindo pessoas que não puderam ser atendidas. Os motivos variam, alguns não estavam em situação de rua, outros não eram cadastrados, não viviam em Jaboatão ou não estavam sendo acompanhados pelos assistentes sociais previamente. Foi o caso de Cármen Lúcia Barbosa de Lima, de 50 anos. Ela disse dormir nas ruas do Recife, e foi a Jaboatão nesta quinta-feira por saber da ação. "Vim atrás de banho e comida. Fico na rua e sou sozinha. Eu vivo de pedir na rua. É a primeira vez que eu venho. Não peguei esse coronavírus, mas também não tenho máscara, nem álcool", disse Cármen, que não foi atendida, mas recebeu álcool em gel e foi orientada a ir para a casa de uma irmã. No entanto, ela diz ser só. "Eu tive 16 filhos, mas dei todos. Não tenho casa para morar, nem dinheiro para fazer feira, vivo só na rua, não teria como cuidar deles", afirmou.
Além dos pontos para banho e alimentação, o Centro POP, localizado na rua Emiliano Ribeiro, em Prazeres, continua realizando o cadastro, dando orientações e cedendo local onde essas pessoas em situação de rua podem lavar as roupas.
Entre os que aguardavam na fila pela quentinha com cuscuz, uma fruta, um pão com queijo e um copo com suco, estava o ambulante Ewanderson de Sena, de 36 anos. Ele enfrenta dificuldades nos últimos dias diante da menor circulação de pessoas nas ruas e no transporte público, local onde ele vende água, salgadinhos e cremosinho.
"Eu vim aqui para comer. Eu sou autônomo, mas o comércio está parado. Cada um sabe da sua situação e eu vim atrás de comida porque está difícil. A concorrência está grande, tem menos gente na rua. Eu vendia 30 até 40 reais por dia. Ontem, eu vendi 12 reais de oito da manhã até cinco horas da tarde. Então preferi recolher a mercadoria e com esses doze reais tô segurando para as necessidades da noite. Moro aqui em Jaboatão, com minha esposa filhos, elas tomaram café da manhã, mas o meu eu tento conseguir fora", afirmou Ewanderson.
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