O isolamento social tem sido a principal medida para evitar a proliferação do novo coronavírus. Ficar em casa, porém, é um conceito vago ou uma opção que não existe para muita gente, como pessoas em situação de rua ou quem precisa sair diariamente em busca de alimento, por exemplo. Para este grupo, o isolamento social não é uma opção e, inclusive, extinguiu meios de conseguir refeições diárias - já que muitos pedem a quem passa nas ruas ou em estabelecimentos comerciais. Como forma de ajudar quem está nesta situação, voluntários e organizações estão se preparando para ir ao encontro de quem precisa fazer uma refeição e não tem onde conseguir.
- Durante coronavírus, Prefeitura de Olinda lança plataforma para empresas que trabalham com delivery
- Campanha pede leite materno para bebê, filho de grávida morta pela covid-19
- Em Boa Viagem, calçadão amanhece vazio após decreto. Em Piedade e Candeias, falta fiscalização e população utiliza avenida e calçadas
- "Quem puder, fique em casa", pede pai de bebê internado na UTI, após a mãe morrer vítima de covid-19
- STJ mantém condenação, e Danilo Gentili deve pagar R$ 187 mil a ‘maior doadora de leite do Brasil’
- Coronavírus: Prefeitura do Recife prorroga suspensão das atividades para escolas públicas, particulares e universidades privadas
- Recife tem um milhão de máscaras, luvas e outros equipamentos de segurança para quem atua no combate ao novo coronavírus
- Famílias mudam rotina de Páscoa devido à pandemia do novo coronavírus
- Após arrecadar R$ 2 milhões, Pernambuco começa reforma do Hospital Alfa para tratar pacientes do coronavírus; saiba como ajudar
- 'Maior doadora de leite do Brasil' ajuda filho de grávida vítima de coronavírus no Recife
Seja por conta própria ou organizados em grupos religiosos e sociais, os voluntários estão arrecadando, preparando e distribuindo alimentos, principalmente refeições prontas. É o caso de Thiago Cunha, pequeno empresário que mora em Olinda, na Região Metropolitana do Recife. Ele olhou em volta e viu que não precisava ir muito longe para ajudar. "Onde eu moro, em Casa Caiada, tem muitos restaurantes e está tudo fechado. Tem muita gente que a gente via ajudando a estacionar carros, pedindo esmolas, que dependem de doação de comida, que esses restaurantes e bares faziam. Essa semana eu notei que as pessoas estão precisando de comida e decidi fazer uma ação minha e da minha família para disponibilizar algo para essas pessoas comerem", contou.
Esta é a primeira vez que Thiago realiza uma ação dessas. Ele disse ainda que está usando recursos próprios e, a princípio, vai comprar pão, mortadela, suco e água e contará com o apoio da esposa, da irmã, do cunhado e duas amigas. Eles se dividirão em três carros para distribuir os alimentos até a noite da próxima quinta-feira (9), sempre atentos aos cuidados com a transmissão do coronavírus. "Minha esposa está grávida, então ela vai ajudar na parte de preparar os alimentos, sempre com todo o cuidado de higienização e proteção. Nós, que vamos distribuir, também - usando máscaras e luvas, por exemplo", disse. O grupo vai passar pela orla de Olinda, seguindo até o Janga.
Igreja em ação
A igreja Rio, localizada no bairro da Madalena, na Zona Oeste do Recife, é uma das instituições religiosas que está arregaçando as mangas e indo além das paredes do templo. Diante da pandemia do coronavírus, a igreja tomou uma decisão: toda a renda arrecadada em dízimos e ofertas está sendo revertida para sustentar pessoas que foram diretamente afetadas pela pandemia - como famílias da igreja que perderam recursos, além de pessoas e projetos da cidade que ficaram em situação ainda mais delicada com a chegada do novo coronavírus.
"A igreja vai pagar as contas (da igreja) com uma reserva de emergência. Fizemos essa renúncia entendendo que é momento de realmente investir nos que necessitam. Nossa arrecadação está sendo transformada em alimento", afirmou o pastor líder da igreja, Tomas Souza.
O pastor detalhou ainda que a igreja tem trabalhado com mais de uma medida. Criou uma economia solidária, viabilizando o contato entre pessoas que precisam de ajuda e pessoas que podem ajudar, tanto em produtos quanto em serviços.
A instituição também tem atuado no cuidado de duas comunidades. "Sábado (11) temos uma ação em Jardim Brasil V, no antigo Lixão de Aguazinha, onde é sede de um dos nossos projetos sociais. Também temos em uma comunidade de Camaragibe, damos suportes, serviços médicos e outros", afirmou. Lares de idoso, orfanatos e até a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) também recebem suporte da igreja Rio. "Nosso suporte à Funase leva escovas, pastas de dente e outros itens básicos de limpeza", disse.
O grupo de risco, formado principalmente por idosos, também entrou no radar da igreja, que sempre trabalhou em projetos de apoio ao Lar Batista, um asilo. Segundo o pastor Tomas, o local ficou desassistido neste momento e a igreja tem contribuído com alimentos e outros recursos. "Também estamos ajudando um orfanato, o Lar Bem, de crianças que foram tiradas do convívio da família por conta de traumas ou outros assuntos graves e hoje residem lá. Eles estavam precisando de suporte, então também estamos dando assistência à esta instituição", acrescentou.
O pastor frisou que a igreja já trabalhava com as pessoas e locais destacados, mas que, em consequência da pandemia, o trabalho precisou ser reforçado e intensificado.
Igreja na comunidade
As favelas do Brasil foram destacadas, muitas vezes, como pontos onde a transmissão do coronavírus poderia ser ainda mais crítica devido às poucas condições de higiene e isolamento social. Além disso, as famílias que moram na comunidade fazem parte do grupo que sentiu de forma mais rápida o freio na economia e na falta de recursos por causa do isolamento social. Tentando atenuar esses efeitos, o grupo Ocupe Coelhos, da Primeira Igreja Batista do Recife, preparou um plano de emergência para um trabalho que já é desenvolvido há bastante tempo.
O projeto trabalha com a comunidade dos Coelhos, no bairro do Recife Antigo, Área Central da cidade, há dois anos, embalados por uma relação da igreja com o local que já tem mais de 30 anos e leva solidariedade, transformação social e espiritual. Diante da pandemia, o grupo que coordena as atividades montou uma força-tarefa para lidar com o momento, a campanha "Ajude os Coelhos". "A ideia é prestar assistência às famílias que criamos vínculos no decorrer destes dois anos. Uma assistência de alimento mesmo porque todas essas famílias são formadas por pessoas que vivem na informalidade. Todas. Não tem nenhuma com emprego formal. Então, desde o começo dessa crise que eles estão parados e o reflexo foi nessa necessidade", contou Mazinho Mariz, um dos líderes e integrante do Ocupe Coelhos.
Ele destaca que as famílias já viviam em situação de vulnerabilidade, muitas moram em palafitas e não tem saneamento básico. "Fizemos um mapeamento e vimos que são, em média, 50 famílias. Durante todo esse momento de quarentena vamos dar suporte com cestas básicas de alimentos e produtos de higiene. Temos feito campanha, contactado possíveis parceiros. Já fizemos a primeira entrega e a gente sabe que a cesta tem um tempo de duração. Iremos manter essas famílias dentro desse calendário que a gente fez", detalhou. Além disso, o grupo segue atento e, se mais alguma família que não está dentro do mapeamento do grupo for identificada, será acrescentada para também receber auxílio do Ocupe Coelhos na missão Ajude os Coelhos.
O trabalho conta com 20 pessoas da igreja, que se dividem em monitoramento das famílias, comunicação e contato com parceiros e possíveis parceiros, arrecadação, prestação de contas e mapeamento das famílias, além de outras 20 pessoas da comunidade que dão suporte ao grupo. "Temos uma sede na comunidade e contamos com a parceria de 20 pessoas de lá que nos ajudam, principalmente, na questão da entrega para evitar aglomeração", destacou.
Cuidados para evitar contaminação do coronavírus
Em tempos de pandemia de coronavírus, até para ser solidário é necessário manter alguns alertas ligados. Em entrevista ao Jornal do Commercio, a infectologista e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Vera Magalhães, reforçou que é preciso manter os cuidados indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e ser cauteloso com o manuseio de alimentos e contato social.
Para quem quer ajudar com a distribuição de alimentos que serão consumidos na hora, o lembrete é para higienizar as mãos, alimentos e embalagens e usar luvas e máscaras tanto no preparo quanto na distribuição. "A pessoa que vai levar esses alimentos também deve usar máscara. Isso foi muito discutido na última semana e a experiência da China mostra que todo mundo deve usar. Nesse caso não devemos esperar comprovação científica. É tudo muito novo e é preciso termos o máximo de precaução possível. Mas a máscara não deve ser a cirúrgica, essa deve ser preservada para os profissionais de saúde, as outras pessoas devem usar máscaras de pano, algodão e até o TNT por baixo que minimiza o risco", destacou a infectologista.
Ela lembra também que o distanciamento deve ser respeitado. "É importante respeitar 2 metros, no mínimo um metro, de distância, uma máscaras e fazer o possível para que o contato seja rápido. O que é considerado de risco é contato com pessoas com sintomas, a menos de um metro e por mais de dez minutos, mas temos que ser precavidos", frisou. "Tem que ter solidariedade e se proteger, mantendo distância, evitando contato e passando álcool em gel na mão se houver toque em outras pessoas", acrescentou.
Assine a nova newsletter do JC e fique bem informado sobre o coronavírus
Todos os dias, de domingo a domingo, sempre às 20h, o Jornal do Commercio divulga uma nova newsletter diretamente para o seu email sobre os assuntos mais atualizados do coronavírus em Pernambuco, no Brasil e no mundo. E como faço para receber? É simples. Os interessados podem assinar esta e outras newsletters através do link jc.com.br/newsletter ou no box localizado no final das matérias.
O que é coronavírus?
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
Como prevenir o coronavírus?
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
- Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
- Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
- Evitar contato próximo com pessoas doentes.
- Ficar em casa quando estiver doente.
- Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
- Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
- Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
Comentários