RENDA

Incerteza e medo da fome acompanham espera por auxílio emergencial do governo

Calendário longo para pagamento da renda básica emergencial preocupa famílias mais pobres de Pernambuco

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 14/04/2020 às 19:47 | Atualizado em 14/04/2020 às 21:13
Foto: EBC
Mães monoparental e beneficiárias do Bolsa Família aguardam liberação do pagamento conforme calendário do programa - FOTO: Foto: EBC

Quem vive um dia de cada vez não tem uma poupança gorda, armário abarrotado com comida para um mês ou mais, nem mesmo um bom pé de meia que garanta pelo menos o básico durante um período de crise. Quem sobrevive a cada dia no Brasil sempre está com pressa. A pobreza, quando não miséria, é implacável, assim como a fome, que precisa ser combatida todos os dias do jeito que dá. Com o isolamento social imposto pela covid-19 - necessário, segundo as autoridades sanitárias, para amenizar a propagação do coronavírus e o sufocamento do sistema de saúde - o temor de milhares de brasileiros é que, por ora, não dê.

O alento, desde o fim de março, tem sido a renda básica emergencial anunciada àquela época pelo governo federal, um total estimado de R$ 98 bilhões. Até esta terça-feira (14), inscritos no Cadastro único e mulheres que chefiam a renda da casa e cuidam dos filhos sozinhas já começaram a ter o dinheiro liberado, segundo a Caixa. Mas o calendário é extenso e não acompanha o ritmo da necessidade, conforme disseram beneficiárias do auxílio ouvidas por este Jornal do Commercio. Mulheres que comandam famílias monoparentais e inscritas no Bolsa Família temem ver as panelas ainda mais vazias, pela demora; enquanto quem se inscreveu e teve suas informações postas à análise da Dataprev vive dias de incerteza da liberação ou não do pagamento.

Na casa de Aline Nunes, 32, bairro das Rendeiras, em Caruaru, a previsão é de que o gás de cozinha dure só mais uma semana. “estou pensando em como vou fazer para comprar, porque não tenho dinheiro. Estou com o mínimo do mínimo. Um quilo de feijão, um quilo de arroz…”, contabiliza ela. A última vez que fez compras foi há cerca de 14 dias. Costumava fazer "feira" semanalmente.

Revendedora autônoma, por mês Aline está acostumada a uma renda de R$ 300 a R$ 400, quando somada ao pagamento do Bolsa Família, para ela e os dois filhos, de 10 e 11 anos. “Estou esperando para receber R$ 1,2 mil. É mais dinheiro, mas não chegou ainda. Vou ser uma das últimas a receber. Só no fim do mês (seguindo o calendário do Bolsa Família). Todo mês o Bolsa Família chega fim do mês, mas eu vou me virando vendendo. Agora como vou me virar?”, lamenta. “Ele teria que ter dado prioridade ao pessoal do Bolsa família, as pessoas carentes que estão beneficiadas. Pelo calendário demora, e a maioria das pessoas foi pega de surpresa”, emenda ela.

De acordo com a Caixa, cerca de R$ 4,7 bilhões do benefício serão disponibilizados a 9.426.703 milhões de brasileiros do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal e do Bolsa Família. Em Pernambuco, embora o banco público diga não contabilizar o total de beneficiários do auxílio, 1.998.072 milhão de famílias estão no Cadúnico, sendo 1.103.079 do Bolsa Família e pelo menos 1.678.376 milhão vivendo com meio salário mínimo.

“Eu estou desempregada, mas tenho ajuda da minha mãe. Recebo Família e estou esperando R$ 1,2 mil por conta dos meus dois filhos, de dois e nove anos. É ruim a espera, porque esse dinheiro ajuda. Do Bolsa Família mesmo, recebia R$ 170, mas já faz um tempo que nem isso porque não consegui atualizar o cadastro, então só vinha a metade”, conta Juliene Conceição, 28, da Campina do Barreto, que também aguarda o pagamento para o fim do mês.

Até a última segunda-feira, o auxílio emergencial tinha sido liberado para mais de 2,5 milhões de brasileiros, totalizando mais de R$ 1,5 bilhões na economia, conforme a Caixa. No dia 9 de abril, os pagamentos começaram a ser feitos para os inscritos do CadÚnico, fora do Bolsa Família, com conta poupança na Caixa ou conta no Banco do Brasil.

Pagamento do auxílio

Hoje foi a vez dos inscritos no CadÚnico até 20 de março de 2020, que não façam parte do Bolsa e não tenham conta poupança na Caixa, terem os pagamentos liberados, no caso de já validação da Dataprev, incluindo neste grupo as mulheres chefes de família monoparental, caso de Josilda da Silva, 37 anos.
“Fiz o cadastro normal e entrei rapidinho. Ficou analisando. Hoje disse que eu estava aprovada, mandou pegar o dinheiro e tudo. Quando entrei de novo, não tinha mais nada. Disse que estava analisando de novo. Não estou trabalhando, somos só eu e minha filha de 9 anos. Dava um jeito fazendo faxina, escovando um cabelo… mas agora tenho recebido ajuda de fora”, diz ela.

No caso da Poupança Social Digital, para quem não tem conta poupança na Caixa, os créditos serão conforme a data de nascimento até esta sexta-feira (17). Ontem foram os de janeiro, e de hoje em diante seguem sendo três meses por dia até a sexta -feira. Dos beneficiários do Bolsa Família, 2.719.810 milhões recebem nestas quinta-feira e sexta-feira, mas o calendário segue até 30 de abril, conforme número final do NIS. Para quem se inscreveu no aplicativo ou site da Caixa, com os dados avaliados pela Dataprev, o pagamento começa na quinta-feira (16). Saque do auxílio em dinheiro, só a partir do dia 27.

Ainda assim, mesmo com datas postas, a incerteza e o medo diante da necessidade são tamanhos. Para esta reportagem, embora contassem suas histórias, as beneficiárias do auxílio não autorizaram a publicação de suas imagens.

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