As máscaras que viraram item obrigatório no País - por decretos estaduais e, em breve, como legislação já aprovada pela Câmara Federal - podem se transformar numa fonte de contágio do coronavírus. E, assim, no lugar de proteger, contaminar as pessoas. Isso se o descarte do equipamento não for realizado da forma correta. Embora a maioria da população tenha aderido às artesanais laváveis, flagrantes de equipamentos abandonados já podem ser vistos pela rua.
A reportagem do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC), por exemplo, identificou algumas jogadas em locais públicos. Já há vídeos circulando nas redes sociais que mostram máscaras abandonadas no chão e no banco de ônibus e metrôs. Descartadas de forma indevida, elas podem contaminar, inclusive, uma grande quantidade de profissionais envolvidos diariamente com a rotina de coleta e tratamento do lixo produzido nas cidades. Somente no Recife - para se ter ideia da dimensão do perigo - são quase 3 mil profissionais envolvidos no trabalho de coleta e limpeza da cidade, dos quais 2.281 são garis. Ou seja, pessoas que têm contato direto com os resíduos. E o risco é ainda maior quando se considera que, antes da pandemia, a cidade produzia 45 mil toneladas de lixo por mês - 1,5 mil por dia.
Segundo a autarquia, após o isolamento social houve um aumento de 5% no volume de lixo domiciliar, o que implica em 7,5 toneladas a mais de resíduos diários. “De fato, começamos a receber reclamações do pessoal da limpeza de que estão encontrando máscaras eliminadas sem ser da forma correta. Por sorte, a grande adesão da população é às máscaras de tecido, que são reutilizáveis. Mas é preciso estar alertando as pessoas com frequência sobre a forma correta de descarte dos equipamentos. Inclusive as de tecido, que por muito uso ou dano, precisam ser eliminadas”, explica e alerta a presidente da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), Marília Dantas.
Por tudo isso, o descarte das máscaras exige cuidados especiais, tão necessários quanto as regras de utilização. E toda a precaução e solução para diminuir os riscos vêm de casa. Segundo orientações da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, para fazer o descarte seguro é preciso usar dois saquinhos plásticos - um dentro do outro. Ao retirar a máscara do rosto, a pessoa deve segurar apenas pelo elástico e lavar as mãos antes e depois. Depois que a máscara estiver dentro do saco plástico, é só amarrar bem e jogar no lixo do banheiro.
“O lixo do banheiro é considerado comum, sem conter nenhum material reciclável. Logo, a gente imagina que esse resíduo não vai entrar em contato com outras pessoas e que irá para o destino próprio sem nenhum contato com recicladores, por exemplo”, reforça Marília Dantas, citando as recomendações da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Outra dica importante é identificar o material e não encher demais a sacola onde ele foi armazenado.
Já a máscara de pano precisa ser lavada sempre depois de utilizada. Basta usar água e sabão ou deixar de molho, por 30 minutos, numa solução de água com água sanitária. Em seguida, colocar para secar. Para proteger recicladores e os garis, alguns serviços de coleta de lixo têm orientado os profissionais a não tocar nas máscaras descartáveis e utilizar uma pá para colocá-la em um saco de lixo. É o caso de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Algumas cooperativas do País têm isolado os resíduos recicláveis por 48 horas antes de fazer o manuseio.
NOVA LEGISLAÇÃO
A Câmara dos Deputados aprovou na noite do dia 19/5 - dia em que o Brasil chegou a quase 18 mil mortes pelo coronavírus - projeto de lei que obriga o uso de máscaras de proteção individual durante a pandemia. Caso passe pelo Senado sem mudanças, a regra precisará ser respeitada não apenas em espaços públicos, como ruas e praças, mas também em ônibus, metrôs e locais privados acessíveis ao público — como lojas e mercados.
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