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Após zerar casos de coronavírus, Noronha registra mais dois novos casos da doença

A Ilha foi o primeiro lugar do Brasil a adotar o lockdown

Larissa Lira Carolina Fonsêca
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Larissa Lira
Carolina Fonsêca
Publicado em 03/06/2020 às 19:36 | Atualizado em 03/06/2020 às 21:03
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Arquipélago de Fernando de Noronha, nordeste do Brasil. - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Atualizada às 21h

O Arquipélago de Fernando de Noronha foi o primeiro lugar no Brasil a decretar medidas mais rígidas para prevenir o avanço do novo coronavírus. O lockdown durou 15 dias e trouxe benefícios, já que após ter 28 casos confirmados da doença, no dia 8 de maio, a ilha zerou o número de diagnósticos decorrentes da covid-19. Agora, pouco menos de um mês após a notícia que trouxe alivio para os moradores, dois novos casos foram confirmados no local. 

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A informação foi dada nesta quarta-feira (3) pelo administrador geral da ilha, Guilherme Rocha, em entrevista à pela Rádio Noronha, transmitida no Instagram da TV Golfinho. "Após esse início de pesquisa epidemiológica, identificamos mais dois novos casos confirmados. Com isso, a gente vai a 30 casos confirmados, lembrando que 28 estão curados", disse o administrador.

Noronha está realizando testagem em massa na população. A partir da tomada desta medida, segundo Guilherme, o surgimento de novos casos já era esperado. "Estava dentro da nossa perspectiva. Quando começamos a testar em maior número, tem a possibilidade de detectar novos casos. Justamente por isso estamos fazendo a testagem em grande número. Já testamos um terço da população, detectamos dois novos casos, que são casos leves e já estão devidamente isolados", acrescentou. 

As pessoas que tiveram contato com os dois novos casos confirmados em Noronha também estão sob investigação. Ao todo, 18 pessoas foram identificadas como reflexo. Segundo a administração da Ilha, os exames foram coletados e todos também estão em isolamento social.

“Os exames serão enviados para o Recife na sexta (5), junto com a possível última remessa da investigação epidemiológica. Já enviamos 455 exames desse estudo e devemos enviar outros 445 até sexta para completar os 900. O resultado geral será divulgado quando tivermos o resultado de todos os 900 casos pesquisados”, explicou Rocha. 

Guilherme Rocha aproveitou o espaço da entrevista para tranquilizar a população da Ilha e afirmar que a situação está sob controle. “Não é momento de baixarmos a cabeça ou desanimar. Pelo contrário, a situação continua controlada. Lógico que a gente não queria dois novos casos, mas a partir do momento que você testa muita gente, aumenta a probabilidade de ter novos casos e foi o que aconteceu. A situação aqui está sob controle. Vamos esperar o resultado dessa investigação (epidemiológica) para assim avaliarmos se tomaremos novas medidas restritivas ou se avançamos com as flexibilizações. Vai ser necessário a gente ter paciência e esperar o resultado desses exames”, completou.

Retorno de moradores que estão fora da Ilha

Fernando de Noronha ainda tem moradores fora da Ilha, por diversos motivos. A quantidade de pessoas que precisam retornar às suas casas no Arquipélago ainda não é conhecida, mas, de acordo com a administração, esses dados serão obtidos em breve, por meio de um cadastro. Noronha vai priorizar o retorno de quem está em Tratamento Fora do Domicílio (TFD).

Com o objetivo de viabilizar o retorno dos moradores, após uma reunião com o Conselho Distrital, ficou definido que quem está fora e precisar retornar terá de realizar um cadastro com a assistência social. “Estamos estudando como nós vamos trazer os moradores para a Ilha de volta e os primeiros que devem voltar são os moradores que saíram de TFD. As pessoas vão ligar se cadastrando e será avaliado junto à equipe técnica de quanto em quanto tempo poderemos trazer, além da quantidade de pessoas que poderá ficar entrando na Ilha”, explicou Guilherme.

O administrador de Noronha adiantou que, a cada semana, será possível ter o retorno de 50 pessoas e esta operação deve ter início no dia 13 de junho. “O primeiro avião comercial que vier com pessoas vai ser com servidores e moradores”, garantiu. “Vamos dizer quais vão ser os critérios e o passo a passo para se cadastrar e poder voltar para casa dentro do limite da responsabilidade para a gente não perder o controle da situação”, completou.

A forma de retorno dos demais moradores ainda está em análise. “A gente precisa definir quantos e de quanto em quanto tempo porque a gente precisa trazer um grupo e analisar o comportamento do vírus. Uma coisa é certa, a gente está anunciando esses dois novos casos aqui, eles vão ser controlados, mas com a volta da entrada de pessoas, a gente vai voltar a ter o vírus circulando por mais que a gente tenha controle, cuidado, responsabilidade, testagem isolamento. Precisamos estar cientes disso. A gente vai voltar a ter mais casos aqui em Noronha a partir do momento que abrirmos o fluxo de volta. Não vamos perder o controle”, disse.

Flexibilização das medidas

Durante os dias de lockdown, que geraram a anulação dos casos no local, o turismo ficou suspenso e o comércio fechado. O dinheiro parou de circular, as praias ficaram vazias e parte da população decidiu deixar a ilha, que antes era um dos principais destinos turísticos do Brasil. 

Desde o dia 25 de maio, os moradores voltaram a frequentar as praias, das 8h às 16h, e a realizar atividades físicas e náuticas, além de praticar exercícios com até quatro pessoas. Com a flexibilização de algumas regras, os moradores relaxaram. Segundo a empreendedora e proprietária da pousada Casa de Swell, que está fechada desde 21 de março, Margarete Buonafina, as medidas restritivas e o lockdown foram necessários, mas há uma falha na fiscalização das medidas ainda vigentes. 

"Se você sair na rua verá metade das pessoas sem máscara, apesar do decreto estadual, que torna o uso do item obrigatório, também valer para Noronha. Nós somos exceção quanto o acesso as praias, com distanciamento entre pessoas e sem aglomerações, mas muitas pessoas não usam a máscara e não vejo a atuação de órgãos para fiscalizar ou orientar este uso", relata a empresária. 

Desembarque com pessoas infectadas

No dia 19 de maio, moradores do arquipélago realizaram um protesto em frente à casa do administrador da ilha. Entre os motivos, o principal foi por conta do desembarque no aeroporto local de 13 pessoas que estariam com os sintomas de coronavírus. 

De acordo com testemunhas, um voo que saiu do Recife teria chego à Ilha com 33 pessoas. Todas haviam feitos os exames, no continente, mas os resultados só saíram após os passageiros terem desembarcados na Ilha. Após os protestos o Aeroporto de Fernando de Noronha 

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Turismo

No mês de maio, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC) divulgou os dados para o turismo no Brasil. As perdas chegavam a R$ 62,56 bilhões. Em Pernambuco o setor de turismo também acumulava um prejuízo de R$ 1,78 bilhão desde o início da crise ocasionada pela doença. O período analisado foi entre 15 de março e 10 de maio. 

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Ao longo do ano de 2019, Fernando de Noronha recebeu 106.130 turistas. O setor no local é uma das maiores preocupações de empreendedores e moradores do arquipélago. "O turismo foi um dos primeiros setores a sentir a crise causada pelo coronavírus e, provavelmente, será o último a se restabelecer. Como empresária, esperava mais por parte do Governo Federal referente a liberação de linhas de crédito que chegue de fato a nós. E por parte da administração da Ilha", desabada Margarete Buonafina.

Segundo ela, a administração do arquipélago deveria criar ações que incentivassem os turistas à viajar para o local, após a pandemia. "Não podemos contar apenas com a vontade da população que está quebrando economicamente. É preciso estímulo por parte dos governos pra salvar o pequeno empresário, para que não seja preciso demitir ninguém e que haja a esperança de uma boa taxa de ocupação quando as viagens forem possíveis", completa. 

Para Guilherme Rocha, ainda não é momento de pensar em reabertura do turismo. “É momento de pensar em salvar vidas, não em reabertura do turismo. E a gente fala também do Brasil porque nosso turismo depende do Brasil. Não adianta estar resolvido aqui e não lá. É manter a calma e ir pensando pouco a pouco. A gente precisa trabalhar em cima das evidências que temos. Se não for isso, é irresponsabilidade”, disse. 

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