Pernambuco é o maior produtor de maconha do Brasil, segundo a Polícia Federal (PF). A concentração desta produção fica no Sertão do Estado, especificamente na área chamada de Polígono da Maconha, responsável por cerca de 99% das plantações da erva. Com o objetivo de enfraquecer o tráfico, a PF tem atacado o problema na raiz, literalmente. Em aproximadamente cinco meses (entre fevereiro e junho de 2020), as Operações Muçambê I e II evitaram que 135 toneladas de maconha fossem produzidas no Estado e erradicou quase 400 mil pés da planta.
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Operações da Polícia Federal com esta finalidade são permanentes, acontecem periodicamente há mais de 30 anos. De acordo com o delegado Eduardo Passos, os números referentes aos primeiros meses de 2020 poderiam ser maiores se não fosse a pandemia do novo coronavírus. Por causa das recomendações de distanciamento social, as equipes de erradicação precisaram trabalhar em número menor.
“A gente percebeu o ciclo da planta e ele precisa de um tempo para que ela possa crescer, germinar e ficar madura. O tráfico, por sua vez, começou a monitorar as erradicações e a tentar usar produtos para acelerar esse crescimento e colher mais rápido. A Polícia Federal percebeu isso e conseguiu adequar que forma que a gente vem fazendo várias operações durante o ano para não deixar nem chegar em tempo de colheita”, explicou Passos.
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O Polígono da Maconha compreende, principalmente, as cidades de Salgueiro, Cabrobó, Sertânia, Floresta, Belém de São Francisco e Afogados da Ingazeira. A droga que sai desta região abastece todo o Nordeste. “Com certeza há Estados que recebem mais do que outros. Por exemplo, no Maranhão também há plantações de maconha, onde também temos um trabalho de erradicação constante. Assim como na Bahia. Porém, Pernambuco e Bahia são os maiores produtores”, explicou o delegado.
Atacando as plantações nessa área, a PF acredita que elimina ao máximo a chegada da maconha ao ponto final, que é o tráfico e, consequentemente, consegue diminuir expressivamente a violência gerada por esse mercado ilegal. Para ilustrar a importância de eliminar ainda na origem um dos produtos que sustenta o tráfico de drogas, o delegado Eduardo Passos faz um comparativo. “A visão estratégica da PF é a seguinte: o custo (para o Estado a sociedade) para fazer o combate à planta no chão é irrisório em relação ao custo de fazer prisão em boca de fumo, em um ponto de droga na capital ou até nas cidades do interior, mesmo. Para fazer o combate à droga quando ela já estivar na mão do traficante gasta-se, sem exagero, em torno de mil vezes mais”, explicou.
“Combatendo a droga no nascedouro é possível fazer o tráfico deixar de produzir 135 toneladas de maconha. Para tirar essa quantidade da droga nos pontos de venda é uma ação quase impossível. Eu jamais conseguiria, nos cinco primeiros meses do ano, dizer que o Estado e a União conseguiram tirar de circulação essa quantidade de droga nos pontos de venda do produto final”, acrescentou.
Seguindo essa linha de raciocínio, entende-se que quando a droga chega nas mãos do traficante que a revende, gera receita para o crime e retroalimenta a violência ligada ao tráfico. “Não é simplesmente o pensamento idealista sobre liberar ou não liberar a maconha, não tem a ver com isso, a gente não entra nessa seara. A PF entende que a maconha é uma droga que causa problema e alimenta a violência”, justificou Passos em relação a eficácia de atacar a “raiz do problema”.
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Detalhando as Operações Muçambê I e II
Batizada com o nome de uma planta normalmente encontrada no Sertão, a Operação Muçambê aconteceu em duas etapas, distribuídas em 28 datas devido à pandemia do novo coronavírus – com equipes reduzidas, as organizações envolvidas precisaram realizar várias ações menores para cobrir toda a região de plantio identificada. “Trabalhamos em uma quantidade maior de datas devido à pandemia. Quando é uma operação em condições normais, sem isolamento e pandemia, a gente faz essa quantidade (de erradicação) em dez dias”, exemplificou Eduardo Passos.
Operações como esta são realizadas com participação de equipes da Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Bombeiros Militar e Polícia Civil sob a coordenação da Polícia Federal.
A primeira etapa teve sete datas e erradicou, no total, 102.718 pés de maconha, entre os dias 4 e 17 de fevereiro, além de 30.015 mudas e 1.123 kg de maconha pronta. Durante a segunda etapa, realizada em 21 datas entre os dias 31 de março e 5 de junho, foram eliminados 295.647 pés, 34.270 mudas e 797,1 kg da droga pronta.
Somando as duas etapas da Muçambê, foram erradicados 398.365 pés de maconha. Segundo a PF, outros 326.687 pés foram erradicados em ações isoladas e tudo isso representa 135 toneladas de maconha que deixou de ser produzida, além dos 1.926 kg de droga pronta apreendida.
A rotina de erradicar plantações de maconha
Operações como a Muçambê fazem parte da rotina da Polícia Federal, principalmente no interior do Estado. As plantações de maconha costumam ser feitas em locais de difícil acesso, como ilhas do leito do Rio São Francisco, áreas de terra da União, áreas no meio da Caatinga e até mesmo em plantações de fazendas muito grandes, de forma que nem mesmo o proprietário sabe que há plantação de maconha em suas terras.
“Nesses casos (de plantação clandestina em terras privadas), a gente faz o processo policial e envia para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) fazer a desapropriação. O judiciário costuma dar a desapropriação da área com a fundamentação de que o proprietário não zelou devidamente da terra e ela foi usada para fins ilícitos”, detalhou o delegado.
Por se tratar de uma rotina, a PF registra as coordenadas geográficas de todas as plantações identificadas. “Temos registros de todos os últimos dez anos”, disse Passos. O delegado revelou que é difícil identificar o agricultor responsável pela plantação, mas que é costumeiro retornar a locais onde outras plantações já foram erradicadas e encontrar a maconha plantada novamente.
Maconha do Paraguai
Tirando do tráfico a maconha produzida no Sertão de Pernambuco, o crime organizado busca saídas em outros mercados. Eduardo Passos afirma que essa saída por aqui é o mercado paraguaio. O Paraguai é o maior produtor de maconha da América do Sul e se situa entre os cinco maiores produtores mundiais da erva.
A maior produção de maconha em território paraguaio acontece nas cidades de Capítan Bado e Pedro Juan Caballero. De acordo com levantamentos da Secretaria Nacional Anti Drogas do Paraguai (Senad), principal órgão estatal de combate a drogas do Paraguai, o potencial de produção de maconha paraguaio gira em torno de 12 a 15 mil toneladas anuais.
Por isso, a Polícia Federal brasileira também trabalha em parceria com autoridades paraguaias na operação denominada Nueva Alianza. “Além de atacar firmemente os cultivos ilícitos em Pernambuco, a Polícia Federal também trabalha em acordo de cooperação e realiza operações em conjunto com o Paraguai. Estamos indo para o Paraguai fazer erradicação lá. Não adianta fazer aqui e não fazer lá. Asfixiamos aqui e também lá que trabalha para suprir a demanda reprimida com as ações eficientes em Pernambuco”, disse.
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