CASO MIGUEL

No elevador, Sarí Corte Real apertou botão da cobertura, diz perícia do IC

Documento elaborado por peritos do Instituto de Criminalística descontrói versão dada por Sarí Corte Real em depoimento à polícia. Conclusão do inquérito deverá ser apresentada nesta quarta-feira (01)

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 01/07/2020 às 1:34 | Atualizado em 01/07/2020 às 8:48
YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
Caso Miguel - Sari Corte Real, prestou depoimento, sobre a morte do menino Miguel nesta segunda-feira (29) na delegacia de Santo Amaro - FOTO: YACY RIBEIRO/JC IMAGEM

A perícia realizada pelo Instituto de Criminalística (IC) no edifício de onde o garoto Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos, caiu e morreu, dia 2 do mês passado, constatou que Sarí Corte Real apertou o botão da cobertura, antes de deixar a criança sozinha no elevador. Fontes ouvidas pela reportagem, que tiveram acesso ao laudo pericial, apontaram outra conclusão importante: não houve participação direta de ninguém na queda de Miguel, depois que o menino desce do elevador no 9º andar. O documento, com mais de 80 páginas, foi entregue ao delegado Ramon Teixeira, na noite da última sexta-feira. Hoje o delegado deverá apresentar a conclusão do inquérito, após 30 dias de investigação.


A conclusão da perícia des-constrói a declaração prestada por Sarí Corte Real. Em depoimento à polícia, na última segunda-feira, ela negou ter apertado o botão da cobertura. Na Delegacia de Santo Amaro, ao ficar frente a frente com Mirtes Souza, a mãe de Miguel, Sarí também garantiu que não havia apertado a tecla do equipamento.

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Sarí Corte Real mora no 5º andar do Edifício Píer Maurício de Nassau, conhecido como Torres Gêmeas e localizado no bairro de São José, Centro do Recife. Ao descrever todos os passos dados por Miguel, depois que ele é deixado sozinho no elevador, a perícia mostrou que o equipamento desce até o 2º andar. A porta se abre, mas Miguel não sai. Depois, o elevador sobe direto para o 9º andar, justamente onde o garoto desce. Segundo a fonte ouvida pelo JC, uma explicação para que o garoto tenha descido no 9º andar é o fato de ele ter achado que, após descer e subir novamente, o elevador teria voltado ao 5º andar, onde Sarí morava.


Ao sair do equipamento, o menino passa por uma porta corta-fogo, que dá acesso a um corredor. No local, ele escala uma janela de 1,20 m de altura e chega a uma área onde ficam os condensadores de ar. É desse local que Miguel cai, de uma altura de 35 metros.


Ao reconstituir toda a dinâmica que antecedeu a queda da criança, a perícia conclui que a morte foi “acidental, e não provocada”. O termo “provocada” é para deixar claro que Miguel não se suicidou nem foi empurrado por ninguém.

Em nota, o advogado de Mirtes comentou que “o laudo pericial detalha o abandono” a que a criança foi submetida. “A diferença entre o acidente e o desamparo é a escolha. Optou-se em desproteger. Miguel foi largado no elevador sem ninguém a sua espera. Sempre confiamos no trabalho da Polícia Científica de Pernambuco que, repita-se, por meio do perito criminal subscritor (André Amaral), revelou estudo minucioso, objetivo e esclarecedor”, escreveu o advogado Rodrigo Almendra. Procurado pela reportagem, o advogado de Sarí Corte Real não retornou as ligações.

MAIS DE 400 PÁGINAS

Com quase três volumes e mais de 400 páginas, o inquérito que investigou a morte de Miguel deverá ser apresentado, durante coletiva online. Foram ouvidos mais de 20 depoimentos, incluindo moradores e funcionários do prédio. No dia da queda, o delegado Ramon Teixeira autuou em flagrante a patroa da mãe do garoto, por homicídio culposo.

O policial afirmou, na época, que Sarí foi negligente por deixar Miguel usar um elevador sozinho, mas não teve a intenção de matá-lo. A pena para esse crime é de até três anos de detenção. Com a conclusão do inquérito, o caso segue para o Ministério Público, a quem caberá fazer a denúncia. A promotoria poderá concordar ou não com o indiciamento feito pela polícia.

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