Saúde

Entidades médicas se reúnem com governo do Estado e cobram mais UTIs e rapidez na testagem da pediatria

Um comitê formado pelo Cremepe, Simepe e Sopepe fará o acompanhamento das demandas da pediatria em Pernambuco semanalmente

Mayra Cavalcanti
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Mayra Cavalcanti
Publicado em 28/08/2020 às 15:51 | Atualizado em 29/08/2020 às 13:09
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Para o presidente do Cremepe, Mário Fernando Lins, a questão da pediatria no Estado é preocupante, principalmente se considerar o retorno das pessoas dessa faixa etária às escolas - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

atualizada às 18h37

Abertura de 20 novos leitos de UTI pediátrica, além da ampliação da capacidade de testagem do novo coronavírus em crianças e adolescentes. Estes foram os compromissos assumidos pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) durante reunião realizada nesta sexta-feira (28), com representantes do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), do Conselho Regional de Medicina (Cremepe) e da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe). As entidades, inclusive, formaram um grupo de trabalho, que irá acompanhar semanalmente as questões relacionadas à pediatria, principalmente após a primeira morte confirmada pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) associada à covid-19 no Estado.

Uma soma de fatores acendeu o alerta das entidades médicas em Pernambuco para os casos de covid-19 em crianças e adolescentes. Com 37 leitos de UTI pediátrica voltados para os casos de síndrome respiratória aguda grave (srag) no Estado, a taxa de ocupação atual é de 90%. Este aumento na demanda por vagas se confirma com situações como a ocorrida no Hospital Barão de Lucena, na Zona Oeste do Recife, na semana passada, quando as enfermarias ficaram superlotadas, com mais pacientes do que leitos. Com o registro de nove casos da SIM-P, e a falta de medicamento utilizado para tratar a doença, a imunoglobulina humana, fornecida pelo Ministério da Saúde, o caso agravou ainda mais.

Claudia Beatriz Andrade, presidente do Simepe, participou da reunião ocorrida nesta sexta-feira. Segundo ela, um dos problemas que mais preocupa os médicos é a demora na divulgação dos resultados de testes para o novo coronavírus. Ela diz que, durante a reunião, a SES se comprometeu a agilizar a testagem, para que os resultados sejam divulgados em, no máximo, 24 horas. "A Secretaria realiza cerca de dois mil testes por dia, mas só consegue entregar uma média de 40% nas primeiras 24 horas. Ampliando esta capacidade, vai dar um impacto muito bom para a pediatria", acrescenta. Nesta sexta-feira (28), o governador Paulo Câmara inaugurou dois equipamentos no Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE), que ampliam a capacidade de processamento de testagem das atuais 800 amostras diárias para 3,2 mil.

Outro compromisso firmado pela gestão estadual é a abertura de 20 novos leitos de UTI pediátrica. Apesar de a localização das vagas ainda não ter sido divulgada, Claudia Beatriz afirma que a ampliação será de grande importância. Ela explica que, do ponto de vista de estrutura e equipamentos, leitos de UTI adulto e pediátrico possuem muitas similaridades. O que os diferencia é a equipe. "Não pode colocar um intensivista adulto para tratar crianças. Tem que ser uma equipe específica e especializada. Já os equipamentos são parecidos, a encanação de gases é a mesma, por exemplo", conta.

Para o presidente do Cremepe, Mário Fernando Lins, a questão da pediatria no Estado é preocupante, principalmente se considerar o retorno das pessoas dessa faixa etária às escolas. "A criança é geralmente assintomática. Está nos preocupando muito esta volta às aulas, porque acreditamos que o está segurando ainda é que as crianças estão em casa. Muitas não têm condições de se proteger, não entendem que tem que usar máscara. Não seria recomendável um retorno neste momento. A população está relaxando, mas é preciso lembrar que mais de 118 mil pessoas já morreram com covid-19 no Brasil", ressalta. Vale lembrar que o decreto que suspende a volta às aulas presenciais termina na próxima segunda-feira (31), após ter sido renovado no dia 13 de agosto.

Ainda de acordo com Mário Fernando, o aparecimento de casos da SIM-P em Pernambuco é mais um motivo para as precauções. Os sintomas da síndrome inflamatória multissistêmica incluem febre alta e persistente, acompanhada de conjuntivite, dores abdominais, pressão baixa, manchas pelo corpo, diarreia, náuseas, vômito e comprometimento respiratório, entre outros. As manifestações clínicas são similares à doença de Kawasaki típica, Kawasaki incompleta e síndrome de choque tóxico, acometendo crianças e adolescentes de 7 meses a 16 anos. O tratamento inclui o uso da imunoglobulina humana, medicamento utilizado também para outras doenças, como a Síndrome de Guillain Barré e a anemia hemolítica. Atualmente, o Estado está sem estoque do remédio, e o desabastecimento também ocorre em outros Estados. 

Segundo informou a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) no boletim epidemiológico da covid-19, divulgado no início da noite desta sexta-feira, a gestão estadual adquiriu cerca de 1 mil ampolas de imunoglobulina humana para o abastecimento imediato das unidades que atuam no tratamento de casos SIM-PE. De acordo com a SES, a remessa deve chegar em Pernambuco na próxima semana. 

Na reunião desta sexta-feira (28), o Estado se comprometeu a fornecer o medicamento, com a compra de 1.088 ampolas. De acordo com a SES, a obrigatoriedade de fornecimento da medicação é do Ministério da Saúde que, desde 2018, faz o envio de forma irregular. Questionado pela reportagem do JC nessa quinta-feira (27), o Ministério da Saúde silenciou sobre a falta da medicação. A expectativa é que as ampolas compradas pelo governo de Pernambuco cheguem até o próximo fim de semana.

Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica associada à covid-19

Os primeiros casos da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) associada à covid-19 no mundo foram registrados no mês de abril deste ano, no Reino Unido, na França e nos Estados Unidos. Em maio, o Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) emitiram um alerta chamando atenção da comunidade médica para identificação precoce.

Até julho, 71 casos da doença haviam sido registrados no Brasil, nos Estados do Ceará, Rio de Janeiro, Pará e Piauí. Em Pernambuco, os dois primeiros casos da síndrome rara foram oficialmente confirmados no dia 6 de agosto pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). À época, uma criança de 5 anos e um adolescente de 12 estavam sendo acompanhados no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC). Na última terça-feira (25), a SES confirmou a primeira morte de criança em decorrência da síndrome. Ela teve o diagnóstico positivo para o novo coronavírus. A menina tinha 11 anos e morava na capital pernambucana.

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