"Infelizmente Recife está criando fama de 'capital do aborto' ", diz Dom Fernando Saburido

O arcebispo de Olinda e Recife já havia protestado contra o caso no último domingo (16), em vídeo
Carolina Fonsêca
Publicado em 17/08/2020 às 16:17
Dom Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife Foto: Divulgação


O arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, voltou a criticar, nesta segunda-feira (17), o desfecho do procedimento que realizou um aborto legal em uma criança capixaba de dez anos de idade, iniciado no último domingo (16), no Centro Integrado Amaury de Medeiros da Universidade de Pernambuco (Cisam/UPE). Nesse domingo, Dom Fernando já havia publicado um vídeo em protesto contra o aborto autorizado pela Justiça. Desta vez, o arcebispo se manifestou por meio de nota, onde escreveu que o Recife está ganhando fama de "cidade do aborto", parafraseando a deputada estadual Clarissa Tércio (PSC).

"Como Arcebispo de Olinda e Recife, não posso calar diante desse fato. Se grave foi a violência do tio que vinha abusando de uma criança indefesa, culminando com violento estupro, gravíssimo foi o aborto realizado em Recife, quando todo o esforço deveria ser voltado para a defesa das duas crianças, mãe e filha. Infelizmente, Recife está criando fama de “capital do aborto” e precisamos “combater o bom combate” para mudar essa triste fama", escreveu Dom Fernando em trecho da nota. 

A menina era estuprada pelo próprio tio desde o seis anos de idade e acabou engravidando. O caso foi descoberto quando ela deu entrada no dia 8 de agosto no Hospital Estadual Roberto Silvares, em São Mateus, no Espírito Santo, com sinais de gravidez. A garota estava se sentindo mal e a equipe médica desconfiou da barriga "crescida" da menina. Ao realizar exames, os enfermeiros descobriram que ela estava grávida de três meses. Em conversa com médicos e com a tia, a criança confidenciou que o tio a estuprava desde os seis anos e que nunca contou aos familiares porque era ameaçada. O homem fugiu depois que a gravidez foi descoberta.

A autorização para o aborto legal da garota de dez anos foi dada pela Vara da Infância e da Juventude da cidade de São Mateus. No despacho, o juiz determinou que a criança fosse submetida ao procedimento de melhor viabilidade e o mais rápido possível para preservar a vida dela. A menina precisou viajar do Espírito Santo para interromper sua gestação. O procedimento foi autorizado judicialmente na sexta-feira (14), mas os médicos do estado capixaba optaram por não realizá-lo. Por isso, a paciente foi encaminhada ao Cisam, no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife, onde o procedimento foi realizado, na tarde do último domingo. 

O caso repercutiu após aglomerações que ocorreram em frente à maternidade, com a presença de grupos pró e contra o procedimento. A transferência da menina deveria ter acontecido em sigilo, mas o nome do hospital vazou e foi divulgados na internet. Na manhã desta segunda, o Cisam informou que a menina está estável. 

Confira a nota do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, na íntegra:

“...Apresentei diante de vós a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida... ( Dt 30, 19)

Nesta segunda-feira, 17 de agosto, o evangelho de Mateus, capítulo 19, nos apresenta Jesus sendo questionado sobre o que se deve fazer de bom para possuir a vida eterna. Sua resposta é clara: “Observa os mandamentos”, e destaca entre eles: “Não matarás”.

O lamentável caso da criança de São Mateus, município situado a 215 km de Vitória do Espírito Santo, encaminhada pela justiça capixaba para o Centro Integrado de Saúde Amauri de Medeiros – CISAM, no Recife, terminou com a morte da menina de 5 meses. Tudo realizado às pressas, em dia de domingo com dificuldade de articulação, além das informações desencontradas. Conclusão: o mandamento destacado por Jesus, no texto acima, foi mais uma vez desrespeitado.

Como Arcebispo de Olinda e Recife, não posso calar diante desse fato. Se grave foi a violência do tio que vinha abusando de uma criança indefesa, culminando  com violento estupro, gravíssimo foi o aborto realizado em Recife, quando todo o esforço deveria ser voltado para a defesa das duas crianças, mãe e filha. Infelizmente, Recife está criando fama de “capital do aborto” e precisamos “combater o bom combate” para mudar essa triste fama.

Solidarizo-me com as tantas vozes que se levantaram contra esse vergonhoso e lamentável acontecimento. Neste tempo de pandemia, tantos profissionais da saúde têm encantado o mundo e recebido homenagens, por conta de sua luta na defesa da vida das vítimas da Covid-19, chegando alguns deles a falecerem. Por outro lado, decepciona-nos perceber que ainda existam profissionais da saúde que se prestam à prática do aborto. Este ato, mesmo com autorização judicial, não deve ser feito por uma pessoa de fé ou até incrédula consciente, por uma questão de respeito à Lei de Deus ou simplesmente por princípio ético, baseado no valor inviolável da vida.

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos dê força para defender a vida, dom de Deus que somente Ele poderá tirar."

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