Enquanto os barraqueiros da Praia de Boa Viagem realizavam o segundo protesto pela volta ao trabalho em menos de uma semana, interditando a beira-mar da Zona Sul do Recife, na praia mais famosa de Pernambuco - Porto de Galinhas, no Litoral Sul do Estado - os comerciantes mais uma vez montaram suas barracas na areia. Pelo segundo dia consecutivo, desafiaram o Estado e a Prefeitura de Ipojuca e reocuparam seus pontos de trabalho. O argumento: a necessidade de ganhar algum dinheiro para sustentar suas famílias depois de 150 dias parados.
E não foram apenas os comerciantes de Porto de Galinhas que retornaram à praia. Em Maracaípe e Muro Alto, praias do mesmo litoral, também em Ipojuca, os barraqueiros voltaram às atividades. A estimativa da Associação de Barraqueiros de Ipojuca é de que 95% dos 124 profissionais retomaram o comércio. A demora do governo de Pernambuco em definir um cronograma, deixando-os sem qualquer previsão de retorno, foi a principal razão para a retomada na marra. A retomada, entretanto, não é permitida pelo Plano de Convivência com a covid-19, elaborado pelo governo de Pernambuco. As classes ainda não ganharam previsão para retorno regular às atividades.
“Sabemos que estamos fazendo algo proibido pelo decreto estadual, mas não temos mais como suportar. Estamos passando muita necessidade. Nós e nossas famílias. São muitas pessoas que dependem do comércio na praia para sobreviver. Muitos de nós não conseguiu o auxílio emergencial do governo federal. E, aqueles que conseguiram, não conseguem pagar as contas e a alimentação. Principalmente os que pagam aluguel. R$ 600 é muito pouco”, alegou o barraqueiro Kelvin Alberto da Silva, que trabalha em uma das barracas de Porto de Galinhas. Kelvin, por exemplo, paga R$ 300 de aluguel e vinha sustentando a família com os R$ 600 do governo. Na praia, costumava tirar R$ 1 mil por mês.
Na Praia de Muro Alto, a mesma situação e lamento. Os profissionais alegam que cansaram de esperar por um posicionamento do Estado. “Havia uma promessa de que no dia 25 de julho o governo anunciaria um calendário de retorno, o que não se confirmou. Depois, seria no dia 18 de agosto. E, mais uma vez, não tivemos uma posição. Temos medo da fiscalização, mas a necessidade nos forçou a enfrentá-lo. Somos trabalhadores e só queremos trabalhar”, reforçou o barraqueiro José Alexandre da Silva, que trabalha nas barracas de Muro Alto.
RESPEITO ÀS REGRAS
Os comerciantes garantiram que retornaram à praia respeitando as regras de higiene e distanciamento social. Estavam com menos da metade das barracas e cadeiras disponíveis, mantiveram uma distância de três metros entre as estruturas e utilizando álcool 70 constantemente. “Estamos seguindo o protocolo de higiene repassado pela Prefeitura de Ipojuca. Cadeiras e mesas têm sido higienizadas a cada cliente, todos os garçons estão utilizando máscaras e os alimentos estão separados em porções individuais. Estamos com muito cuidado”, alegou o barraqueiro Wilker Travassos, de Porto de Galinhas.
Pelo movimento visto pela reportagem nesta quinta-feira (20/8), os clientes também aprovaram a volta do comércio na areia da praia. “Não entendo porque o governo liberou bares, restaurantes e shoppings, que são ambientes fechados, e não libera o comércio de praia. Vemos ônibus e metrôs circulando lotados, sem que nada seja feito. Estamos ao ar livre, isso reduz os riscos de contaminação. É muito ruim vir à praia e não contar com essa infraestrutura. Os comerciantes também adotaram cuidados que não tinham antes”, defendeu Silvana Maria Domingues, que aproveitava o dia de sol.
CABO DE SANTO AGOSTINHO
O comércio de praia tentou retornar no litoral do Cabo de Santo Agostinho, município da Região Metropolitana do Recife, mas recuou devido à fiscalização da prefeitura. No último fim de semana, os barraqueiros chegaram a colocar suas estruturas nas praias de Gaibu, Calhetas, Xaréu e Enseada dos Corais. “Mas já não fizemos na segunda-feira porque os fiscais ameaçaram recolher nosso material de trabalho. Como não podemos ter mais esse prejuízo, desistimos e seguimos aguardando a boa vontade do governador”, afirmou Crélio José da Silva, presidente da Associação de Barraqueiros de Gaibu.
Confira a nota na íntegra:
“A Prefeitura de Ipojuca, ao saber que barraqueiros e ambulantes, como forma de protesto ao Governo do Estado, voltaram suas atividades nas praias de Porto de Galinhas e Muro Alto, notificou as associações das duas categorias por infringirem o decreto estadual.
A Prefeitura do Ipojuca também enviou ofício ao Ministério Público, comarca de Ipojuca, solicitando que o órgão ajudasse na intermediação entre as categorias e o Governo do Estado, na tentativa de sensibilizar a gestão estadual em relação à volta do comércio na praia. A Prefeitura do Ipojuca enviou ofício ao governador Paulo Câmara pedindo a liberação do protocolo municipal desde o dia 15 de julho, mas não obteve resposta.
Nos preocupa a declaração do Governo do Estado dada ao Jornal do Commercio, publicada nesta quinta-feira (20), de que ainda estão “finalizando ajustes do protocolo específico” quando chegamos ao 6º mês de pandemia e a gestão estadual ainda não conseguiu concluir. A Prefeitura do Ipojuca entregou, desde o dia 03 de junho, ao Estado o protocolo municipal de retomada das atividades nas praias feito em parceria com a UFPE e ficaria honrada se o protocolo municipal fosse usado para ajudar o Governo a concluir o seu.
A Prefeitura entende que os cuidados com a saúde da população são prioridades neste momento, mas em relação a Ipojuca, os nossos índices justificam o retorno das atividades nas praias. Ipojuca alcançou a marca de 29 dias seguidos sem óbitos por COVID-19 e possui menos de 5% de ocupação no Hospital de Campanha, por isso a expectativa é que, pelos excelentes dados de saúde, a liberação aconteça o mais rápido possível sem confrontos e sem ainda mais desgastes para as categorias”.