cloroquina

Na presença de Bolsonaro, médico Blancard Torres chama Paulo Câmara e Geraldo Julio de genocidas

Ao tomar a palavra durante a audiência, o pneumologista Blancard Torres, que atende no Recife, afirmou que está sendo advertido por defender o tratamento da covid-19 com cloroquina e hidroxicloroquina, criticou o governador do Estado, Paulo Câmara (PSB), e o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), e pediu intervenção do presidente

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Publicado em 09/09/2020 às 8:01 | Atualizado em 09/09/2020 às 10:38
MARCOS CORRÊA/DIVULGAÇÃO
Médico Blancard Torres participou de reunião com o presidente Jair Bolsonaro e defendeu uso da cloroquina no tratamento contra a covid-19 - FOTO: MARCOS CORRÊA/DIVULGAÇÃO

O presidente Jair Bolsonaro se reuniu nesta terça-feira (8), no Palácio do Planalto, com médicos que apoiam o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a covid-19. O medicamento, que não tem eficácia científica comprovada, pode ser prescrito com a concordância do paciente. Ao tomar a palavra durante a audiência, o pneumologista Blancard Torres, que atende no Recife, afirmou que está sendo advertido por defender o tratamento, criticou o governador do Estado, Paulo Câmara (PSB), e o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), e pediu intervenção do presidente.

"Estou pedindo ao senhor presidente que faça alguma coisa, senão eu vou parar. Eu sou medroso. O Hospital Português, onde eu trabalho há 42 anos, me deu uma advertência porque eu falei que os genocidas, que são o governador Paulo Câmara e o prefeito Geraldo Julio, negam essas medicações. O protocolo deles é o seguinte: vá para casa. Quando tiver falta de ar, volte. A gente não se conforma porque sabemos que estamos salvando vidas", disse o médico.

"Eu já atendi 248 pacientes, nenhum foi a óbito fazendo esse tratamento. Eu peço ao senhor que faça alguma coisa do ponto de vista de nos proteger, senão eu serei o primeiro a sair dessa guerra. Estou levando pancada e perdi minha dignidade porque estou falando desse tratamento, que está incomodando muito e está sendo negado na minha terra, Pernambuco. Além disso, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) é contra esse tipo de tratamento. Como posso fazer vídeos instruindo o povo, se não tenho o presidente dizendo que não podem me atacar? Eu sou seu soldado, você é meu capitão e tem que estar ao meu lado", acrescentou.

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O presidente avaliou que talvez fosse o caso de impetrar uma ação preventiva. "Talvez coubesse a uma associação ou Conselho Federal de Medicina uma ação preventiva. Vou sentar com a Saúde para ver o que pode fazer", afirmou.

O pneumologista Blancard Torres concedeu entrevista ao JC, na manhã desta quarta-feira (9), reafirmou suas declarações e disse que, "como bom pernambucano", não poderia deixar de dizer o que está ocorrendo em Pernambuco.

"O presidente se prontificou a me proteger de eventuais retaliações, eu disse o que penso. Pela minha autoridade máxima em ciência aqui no Estado de Pernambuco, acho que está o protocolo adotado está na contramão", afirmou o médico.

Após ser contatado pela reportagem, o Real Hospital Português (RHP) informou que não se posicionaria sobre a declaração porque trata-se de opinião pessoal do médico. "O Real Hospital Português não irá se posicionar sobre o assunto por entender que trata-se da opinião pessoal do médico Blancard Torres", disse a unidade de saúde por meio de sua assessoria de imprensa. O JC também contatou a Prefeitura do Recife e o Governo de Pernambuco e aguarda posicionamento sobre as declarações de Blancard.

 

Confira os principais pontos da entrevista:

Coronavírus x política

"Na medicina, a máxima é tratamento precoce. O presidente (Bolsonaro) também pensa assim. Ele sente que alguns governos são contrários e é uma questão totalmente política e ele expressou a vontade de tentar ver com os Estados a chance de resolver essa situação de saúde pública. O Ministério da Saúde deve tomar ações mais enérgicas. Várias ações serão tomadas com aquela reunião. É uma situação que precisamos resolver, estamos vendo o aumento de casos em algumas capitais, a volta de lockdown, e a gente precisa tomar outro rumo. Vai ser elaborado um documento robusto para dizer o que precisa ser feito a nível nacional. Pois, a nível estadual, há uma briga entre Estados com o governo federal e causa essa polêmica".

Pernambuco e Recife

"Não tenho nada contra Estado nem contra ninguém, só levei uma queixa. Aguardamos que as coisas mudem, tentamos salvar vidas. Temos de nos arriscar pelos pacientes. A nível estadual, cada Estado muda muito a depender do partido, é uma questão política que o povo não quer saber, o povo quer é não morrer de covid-19. O protocolo da Prefeitura do Recife e do Estado de Pernambuco não contempla abordagem inicial, simplesmente você toma paracetamol e volta para casa. Não podemos ficar só em reunião fechada com secretário de Saúde, que acha que a situação está resolvida. Não está".

Uso do termo "genocida" para falar do governador e do prefeito

"Sim (usei esse termo). Se você não muda o protocolo você termina sendo responsável pelas mortes. O Estado e a Prefeitura não contemplam tratamento precoce e nós, que estamos estudando, estamos vendo resultado."

Hidroxicloroquina

"A hidroxicloroquina é um dos remédios, não é 'o remédio'. O que defendemos é a abordagem precoce. São médicos de todo o Brasil, são dez mil médicos de todos os Estados. Associam esta medicação a Bolsonaro e não se pode fazer isso. A OMS (Organização Mundial da Saúde) muda muito de atitude, já foi contrária e a favor de continuar os estudos sobre a hidroxicloroquina, a China também. Mas, não é só a hidroxicloroquina, não estamos falando de um remédio. O tratamento precoce pode ser feito sem ela. Pode fazer à base de azitromicina, vitamina D e outros. A defesa é da abordagem precoce, não é luta por um remédio, é por tratar o paciente, que não pode sair do hospital sem tomar nada. Dos meus 248 pacientes, não usei hidroxicloroquina nem na metade, usei outros e eles tiveram evolução."

Tratamento

"Há uma dificuldade grande de se entender que o paciente de covid-19 não deve ser cuidado na fase terminal, numa fase final, é o que está sendo feito, deixam em casa e só volta quando está com falta de ar, na fase 3. Tratei 248 casos e nenhum foi a óbito, veja a magnitude disso. E isso aconteceu porque chegaram cedo. Mas, ninguém é obrigado a receber o tratamento, o tratamento é fora de bula, pandemia é assim, não teremos um tratamento definitivo até o fim da pandemia. Então, pedimos que a medicação esteja na farmácia popular, com acesso de todos, que os Estados não impeçam o tratamento, que reconheçam,que seja dada autonomia ao médico, que ele não seja perseguido por ter uma ideologia, se o outro médico não acredita, ele não é obrigado a tratar assim. Mas, se eu acredito e está funcionando, vou continuar tratando meus pacientes".

Anvisa

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é praticamente independente, mas precisa se engajar, ela não atestando nada, assim fica complicado. Foi falado isso ao presidente, é muito complexa a Anvisa para chancelar qualquer medicação, ainda mais off label (sem bula).

Evidências

"Tínhamos medicações que eram classificadas em 2B e agora estão 2A. Há mais evidências, uma robustez nesse tipo de medicação não pode ser negada ao povo. Querem evidência 1A, mas é impossível nesse momento, em pandemia você estuda os pacientes em várias fases, todas são diferentes. Isso funciona, aquilo não funciona, mas se você pega um paciente no início, os resultados são maravilhosos e o Estado precisa ver isso".

Divergências quanto ao uso de cloroquina e da hidroxicloroquina

Atualmente, está em vigor uma diretriz do Ministério da Saúde com orientações para o uso precoce da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, inclusive para casos leves. O tema, no entanto, gera muitas divergências entre especialistas e entidades de saúde.

"Hoje, muitos estudos mostram que a cloroquina pode evitar que pessoas sejam levadas à UTI [unidade de terapia intensiva], ou até mesmo entubadas. Pelo que tudo indica, alguns estudos também chegaram ao meu conhecimento, que o número de óbitos que poderia ser evitado era de até 30%. Lógico que os estudos não estão consolidados, isso demonstra, se for verdade, parece que sim, 30% de poucos mais de 120 mil, daria quase 40 mil pessoas poderiam ter suas vidas preservadas", disse o Bolsonaro diante do grupo de médicos. Ele não detalhou sobre quais pesquisas estava se referindo.

"É um medicamento sendo testado, por que não [usar]? Não dá tempo de fazer uma pesquisa longa. Mas a avaliação do médico de que pode fazer efeito, e testar, é legítima. O Conselho Federal de Medicina [CFM] falou isso", afirmou o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que é médico e integra o grupo autointitulado Médicos Pela Vida, que reúne profissionais a favor do tratamento com a substância. Também participou a médica oncologista e imunologista Nise Yamaguchi, defensora do uso da cloroquina para a covid-19. Segundo ela, o tratamento com o medicamento auxilia o sistema imunológico do paciente.

"A cura da covid-19 existe fundamentalmente no nosso sistema imunológico. Existem pessoas que nunca vão pegar, cerca de 40%, existem pessoas que vão ter formas brandas, mas vão ter pessoas que vão ter sistema imunológicos inflamados e vão acabar indo para situações gravíssimas. A cura precoce é quando você permite que o paciente possa receber tratamento e ser rapidamente trazido o seu próprio sistema no combate ele consegue negativar o vírus e não ter a síndrome pós-covid".

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