No Recife, novo habitacional deve ser entregue em 2021; parque ainda não tem previsão

Projeto foi apresentado pela Prefeitura do Recife nessa quarta-feira (2)
JC
Publicado em 03/09/2020 às 14:06
Com 11,9 hectares de área total, o Parque Aeroclube será 52% maior que o Parque da Jaqueira Foto: DIVULGAÇÃO/PCR


Após um ano de atraso e protestos, as obra de construção o Conjunto Habitacional Encanta Moça I e II, que abrigará 600 famílias da comunidade do Bode, foram iniciadas e têm prazo de entrega para 2021. As moradias serão construídas no terreno do antigo Aeroclube, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. O espaço, segundo a Prefeitura do Recife, ainda contará com uma creche municipal, Upinha 24 horas, parque e a urbanização do entorno. No entanto, essa segunda fase do projeto, apresentado à imprensa nessa quarta-feira (2), ainda não tem prazo para conclusão.

Na ocasião do lançamento o diretor-executivo de Engenharia da Secretaria de Infraestrutura do Recife, Teógenes Leitão, detalhou que o parque ainda está com os projetos executivos em fase de ajustes finais, mas devem ser finalizados ainda em setembro. "Só temos quatro meses de administração, mas vamos deixar tudo pronto. E aí será a decisão política de quem vier administrar a prefeitura para dar esses encaminhamentos. Esse projeto é mais abrangente do que as pessoas possam imaginar", falou.

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ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM - Vista aérea do terreno do antigo aeroclube de Recife. Pina. Encanta moça. Via Mangue. Data: 3/11/2017

O projeto como um todo contempla um parque urbano com 11,9 hectares de área total, pista de cooper, circuito para bicicletas, quadra polivalente, campo de areia, pista de skate, de bicicross e de patins e patinete, além de um parcão e estacionamento com 108 vagas. O espaço terá parque infantil e academia de ginástica acessíveis para pessoas com deficiência. Está prevista a construção de uma Upinha 24h e um creche municipal para 224 crianças.

Também será reservado um espaço para a preservação de 75% da antiga pista de pouso do Aeroclube e construção de um memorial sobre o histórico aeródromo. "A área externa do terreno será urbanizada, na comunidade do Bode. Serão realizadas obras de infraestrutura, com melhoria na drenagem, pavimentação de rua e melhoria da iluminação pública", acrescentou.

A gestão comenta que o investimento total é de R$ 99,5 milhões, dos quais R$ 72,5 milhões são de investimentos para a construção do Parque Aeroclube, somados às obras de infraestrutura, tratamento de esgoto e intervenções viárias. Para a creche municipal e para a Upinha, é previsão é de que sejam gastos R$ 6 milhões cada. E a urbanização da Comunidade do Bode custaria R$ 15 milhões. A proposta de viabilidade econômica feita pela prefeitura é destinar 13,1% do terreno para leilão ou concorrência pública à iniciativa privada.

O vencedor arcaria com todo o custo da parte pública do projeto. "No Brasil já existem algumas experiências nesse sentido, na Bahia e no Rio de Janeiro. Mas é um modelo que cada administração tem forma de melhor caminhar", completou Teógenes Leitão.

Demanda antiga por um habitacional

A construção de um habitacional era reivindicação histórica dos moradores da região. As famílias que serão beneficiadas com a moradia foram cadastradas há dois anos, em uma ação da Secretaria de Mobilidade.
Em 2017, um plebiscito simbólico realizado entre moradores do bairro apontou a construção de um habitacional como o melhor destino para o terreno do antigo Aeroclube. Foram mais de cinco mil votos. Desses, 3.427 definiram moradia como prioridade (67%); 384 votos foram para a construção de um parque (7%); 1.268 optaram pelas duas alternativas (24%); 12 votaram nulo (0,24%) e dois em branco (0,04%).
De 2013 a 2016, a atual gestão entregou 1.379 unidades habitacionais. De 2017 até o fim do ano passado, foram mais 1.032.

De 2001 a 2004, na primeira gestão do então prefeito João Paulo (atualmente do PCdoB), foram entregues 2.045. De 2009 a 2012, sob a governança do prefeito João da Costa (PT), o saldo foi de 3.019 novas moradias. Com maioria das obras no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida, em parte há justificativas em relação à falta de verba, mas isso não explica tudo.

“Não tem necessariamente a ver com recursos do governo federal. Agora tem, porque estamos com esse vazio em relação ao programa habitacional, mas a gestão municipal não aproveitou nem os melhores anos de recursos, por exemplo do PAC e MCMV, apresentando produção de moradia muito baixa para uma cidade como o Recife, que tem demanda estimada por novas moradias em mais de 70 mil”, disse a coordenadora da ONG Habitat para Humanidade em Pernambuco, Socorro Leite.

A área do antigo Aeroclube foi despropriada em 2013 para a construção da Via Mangue. Destinado à formação de oficiais desde 1940, o terreno entrou em pauta diversas vezes na Câmara Municipal do Recife. Em dezembro de 2018, foi aprovada a construção de um habitacional pelo Minha Casa Minha Vida, programa do Governo Federal. As obras deveriam ter começado em 2019, mas atrasaram, segundo a gestão, por falta de repasse de recursos federais.

Os habitacionais eram promessa antiga de Geraldo Julio. Ainda em 2012, o prefeito anunciou a construção, mas apenas em 2018 a obra foi contratada. A liberação se deu ao fim do primeiro semestre de 2020. Desde 2013, 20 conjuntos habitacionais, totalizando 2.411 novas unidades, foram entregues pela prefeitura do Recife, mas 1.528 unidades ainda estão em andamento ou para ser iniciadas.

ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM - Vista aérea do terreno do antigo aeroclube de Recife. Pina. Encanta moça. Via Mangue. Data: 3/11/2017

Detalhes do projeto

  • Habitacionais Encanta Moça I e II com 600 moradias para as palafitas do Bode
  • Maior parque urbano da cidade com 11,9 hectares, anfiteatro, pista de Cooper, de ciclismo
  • Upinha 24h
  • Creche para 224 crianças
  • Espaço de preservação da história do antigo Aeroclube de Pernambuco com manutenção de 75% da pista de pouso e decolagem original
  • Urbanização da margem do Rio Pina, na comunidade do Bode
  • Alargamento de Vias, construção de ciclovia, implantação de iluminação pública e outras melhorias estruturais no entorno do terreno

Infraestrutura

O projeto prevê um reforço na infraestrutura urbana da comunidade Encanta Moça, com o alargamento da rua Gago Coutinho, e implantação de ciclovia ligando à avenida Domingos Ferreira, instalação de Sistema de Abastecimento de Água e de Estações de Tratamento de Esgoto, além de iluminação pública e outras melhorias. Além disso, está prevista a urbanização da margem do Rio Pina, no Bode, de onde sairão os moradores das palafitas para os Habitacionais Encanta Moça I e II.

Meio ambiente

Localizado há poucos metros da maior área de manguezal urbana do Brasil, o projeto prevê a manutenção de 4,7 hectares de mangue dentro do terreno além da recuperação de outros 0,7 hectares na margem do Rio Pina. Além disso, o Parque terá um Econúcleo, equipamento de preservação e conscientização ambiental da Prefeitura do Recife. Será o terceiro Econúcleo da cidade, hoje presentes no Parque da Jaqueira e no Jardim Botânico do Recife.

ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM - Vista aérea do terreno do antigo aeroclube de Recife. Pina. Encanta moça. Via Mangue. Data: 3/11/2017

Quem vai morar no habitacional?

De acordo com a gestão municipal, serão 600 famílias beneficiadas, distribuídas em dois conjuntos habitacionais de 300 apartamentos cada e 16 blocos. As moradias possuem de 45 a 47 metros quadrados, com dois quartos, banheiro, cozinha e sala.

Questionado sobre o cadastramento das famílias, o secretário de Infraestrutura do Recife, Roberto Gusmão, explicou que o processo foi feito pela Secretaria de Mobilidade, mas que são contratos do Minha Casa Minha Vida de 2018. "Esse habitacional vai atender, prioritariamente, as famílias que moram nas palafitas do Bode. Se nós divulgássemos quais e quantas seriam antes, em vez de ter um número, teria 10 vezes ele, até porque grande parte das pessoas que hoje estão nas palafitas, moram de aluguel. Nós fizemos o processo antecipadamente para que as pessoas que realmente precisam fossem beneficiadas", declarou. Ele comentou que o projeto contempla pessoas inseridas na faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, destinado a famílias com renda de até R$ 1.800.

O secretário ainda destacou que, no processo de melhoria na infraestrutura na parte externa do parque, está prevista a construção de dois galpões, que servirão de depósitos para as pessoas que moram nas palafitas e sobrevivem da pesca do marisco. "O grande diferencial é que as pessoas estão sendo deslocadas para uma área junto de onde habitavam e vão continuar com a ocupação econômica que têm hoje, ao invés de irem para lugares distantes. Os dois galpões vão permitir que eles façam o que já faziam antes, com condições higiênicas diferentes", relatou.

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