Por todos os lados de um dos principais corredores do Centro do Recife só se vê degradação e abandono. Com cerca de 1,5 quilômetro de extensão, a Avenida Dantas Barreto, que corta os bairros de São José e Santo Antônio, acumula problemas. Buracos nas calçadas e lixo disputam centímetro a centímetro o espaço com o comércio informal. Nas calçadas se encontra de tudo, menos organização. O drama é ainda maior porque as mazelas, que já são de longa data, devem ficar de herança para a nova gestão da capital pernambucana.
Não é preciso andar toda a extensão da avenida para notar os problemas. Com poucas lixeiras, movimentação intensa de pessoas e veículos e o extenso comércio, o lixo se acumula em vários trechos da via. O vandalismo também se faz presente. Na Praça do Diário, a estátua do escritor Carlos Pena Filho, que integra o Circuito da Poesia, está toda quebrada. Mas a maior questão é a desordem das barracas e lojas localizadas na avenida. Na Dantas Barreto é possível comprar frutas, produtos de limpeza, roupas, eletrodomésticos e acessórios. Uma das lojas serve, inclusive, como estacionamento para motocicletas, ao custo de R$ 3. Outros estabelecimentos ocupam os passeios com manequins e expositores. As barracas, por sua vez, disputam espaço entre si nas calçadas e até mesmo na faixa de rolamento. Uma batalha onde quem perde é o pedestre e os veículos.
"Isso aqui é uma bagunça. Entendo que os comerciantes precisam trabalhar, mas a prefeitura precisa arranjar um local para colocar essas pessoas. Assim, todo mundo sairia ganhando, porque é impossível andar pelas ruas", desabafa a autônoma Cleide da Silva, 40 anos. O relojoeiro Cícero Cabral, 56, trabalha há 35 anos na avenida e reconhece o problema. "É muito desorganizado. Aqui, eu montei minha banca recuada, para não atrapalhar, mas nem todo mundo tem essa consciência. Os pedestres não conseguem passar, porque (as barracas) ocupam toda a calçada. Também tem gente que deixa sujeira por todo canto", conta.
Segundo ele, em três décadas, a gestão municipal não realizou cadastro de comerciantes para realocação. Desde 1995, um camelódromo com mais de mil barracas e fiteiros funciona no local. Secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga lembra que a estrutura foi entregue, na época, sob sua gestão. "Foi feito para organizar o comércio dos bairros de Santo Antônio e São José, mas, ao longo do tempo, se perdeu o controle e a situação é esta que está hoje. É muito ruim, toda a Dantas Barreto." Segundo ele, havia um projeto de requalificação geral do corredor previsto para 2020, mas a pandemia do novo coronavírus (covid-19) acabou tomando os recursos que seriam destinados à intervenção.
Braga afirma ainda que chegou a levar ao local empresários de transporte intermunicipal, com a proposta de construir uma rodoviária nas proximidades do camelódromo, onde já funciona uma espécie de terminal. "Fomos lá, fizemos os desenhos, mas os empresários também foram afetados pela pandemia. É uma dificuldade financeira que está em todos os setores", argumentou o secretário. Segundo ele, não há mais tempo para que as questões sejam resolvidas. "Nesse governo, não vai dar. É uma questão que fica para o próximo", defendeu, citando outras melhorias que a prefeitura fez em áreas do Centro da cidade, como o entorno do Mercado de São José, a Ponte de Ferro, Pátio do Livramento e ruas como Nova e Imperatriz, além da Avenida Conde da Boa Vista.
Não bastasse a desordem, quem passa ou trabalha no local ainda precisa conviver com o medo. Isso porque, de acordo com os relatos, os assaltos são frequentes e acontecem a qualquer hora do dia. Para Cleide, esse é um dos principais problemas da via. "Principalmente neste trecho, próximo à Praça do Diário, a situação é bem difícil. Quando preciso fazer uma ligação, sou obrigada a entrar em uma loja para evitar ser assaltada", desabafa.
Em nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que as policias Civil e Militar têm realizado um trabalho integrado de combate à criminalidade na área do Centro do Recife, onde houve redução de 44% nos crimes de roubo nos sete primeiros meses do ano. "Também de forma a prevenir esse tipo de crime, a Polícia Militar tem reforçado o policiamento ostensivo ordinário na área com operações planejadas, que estão sendo realizadas de forma permanente, como as Operações Telum e Cerne", diz o comunicado.
Sobre limpeza, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) afirmou, também por nota, que a Dantas Barreto é uma das vias que mais recebem varrição na cidade, com cinco ações por dia e com 34 lixeiras do tipo papeleiras, "porém muita gente realiza o descarte de resíduos de forma irregular." Sobre as depredações do Circuito da Poesia, a Emlurb afirmou que gasta R$ 2 milhões anuais para recuperação de prédios, parques e monumentos vandalizados e que está realizando levantamento das estruturas para realização de intervenções. "Até então, a estátua que irá demandar mais serviço será a de Carlos Pena Filho, pois quando há quebra e destruição do monumento o processo de recuperação é mais detalhado e, consequentemente, mais lento", diz a nota. Por fim, a Emlurb afirma que está realizando vistorias para programar reparos nos passeios públicos.