Moradores e comerciantes do arquipélago de Fernando de Noronha denunciaram que, mesmo em meio à pandemia da covid-19, uma festa antecipada de fim de ano, chamada Réveillon dos Ansiosos, está sendo realizada na ilha sem qualquer respeito aos protocolos sanitários para evitar a propagação do coronavírus. O primeiro dia da festa foi na sexta-feira (4) e o segundo acontece na noite deste sábado (5), tendo como atração nada menos do que o cantor Falcão, ex-Rappa. Embora regras para a realização tenham sido acertadas entre a Administração da ilha, os organizadores do evento e o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), inclusive, com um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), o desrespeito seria gritante.
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O medo dos moradores e comerciantes da ilha é que os casos de pessoas contaminadas pelo coronavírus aumente, inclusive comprometendo a saúde da população do arquipélago, que possui uma pequena infraestrutura de saúde, dependendo frequentemente de transferências para o continente. “Não concordo porque a regra não vale para todos. Na semana passada, por exemplo, fecharam uma pizzaria na ilha porque não estava respeitando os protocolos. Mas fazer uma grande festa pode. Qual é a regra? Além disso, a informação é de que deveriam ter, no máximo, cem pessoas na festa, mas havia muito mais do que isso”, questiona Júlio César Costa, morador e proprietário de uma pousada na ilha.
Os moradores argumentam que as proibições e exigências não são as mesmas para todos: nativos e pessoas de fora da ilha. “Ficamos indignados porque, aparentemente, a regra só vale para nós nativos. Basta vir alguém de fora, que tenha influências políticas, que tudo é permitido. Outra coisa: se querem fazer festa, que pelo menos coloquem um serviço aéreo à disposição de todos por 15 dias para o caso de acontecer algum problema decorrente desse evento. Enfim, ninguém pensa nos locais, o dinheiro sempre fala mais alto. Passamos sete meses com tudo fechado, sem ganhar nosso sustento e agora corremos risco com essas festas privadas. Não queremos que a ilha seja fechada novamente porque perdemos o controle frente à pandemia”, acrescentou.
Fernando de Noronha registrou 253 casos de covid-19, desde o início da pandemia. Segundo o governo de Pernambuco, quem administra a ilha, 201 pessoas tiveram cura clínica e 52 pacientes permanecem em quarentena. O TAC do MPPE foi assinado na quinta-feira (3) e determinava, além de um número máximo de cem pessoas, que a organização deveria doar um carro zero ao Conselho Tutelar para que um imóvel histórico da ilha pudesse ser utilizado. O imóvel no caso é o Forte Nossa Senhora dos Remédios, construído no século 18 e recuperado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ao custo de R$ 10 milhões, em 2019.
Segundo informações do MPPE, a solicitação dos organizadores era para um evento com público maior. Mas o MPPE teria agido de forma proativa e se antecipado diante da gravidade do que seria uma festa para mais de 300 pessoas aglomeradas, no meio de uma pandemia. O objetivo foi evitar um fechamento posterior da ilha devido ao crescimento desmedido da infecção. Entre as medidas de segurança estipuladas estão o distanciamento das mesas, o uso de álcool e a limitação das pessoas no espaço. O total de cem pessoas incluiria músicos, profissionais, patrocinadores e convidados. Esse limite poderia ser extrapolado por pessoas que comprovassem que tiveram o novo coronavírus e estavam curadas, apresentando o exame IgG positivo com menos de 90 dias.
GOVERNO DE PERNAMBUCO
A Administração de Fernando de Noronha se posicionou por nota. Mas não informou se o cumprimento dos protocolos sanitários está sendo fiscalizado na festa:
“A Administração de Fernando de Noronha esclarece que sempre foi referência no combate a pandemia do novo coronavírus. A ilha foi o primeiro lugar no país a conseguir zerar os casos de covid-19, sem registro de óbitos, resultado de um esforço conjunto entre a administração e a comunidade. Todas as decisões tomadas até aqui foram feitas com responsabilidade e zelo pela vida das pessoas. Para que fosse permitida a realização do evento Réveillon dos Ansiosos foi elaborado e assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), junto ao Ministério Público de Pernambuco, definindo todos os protocolos que devem ser seguidos pelos organizadores, de acordo com as orientações das autoridades de vigilância em saúde.
Embora já estejam liberados pela Secretaria de Saúde eventos para até 300 pessoas em todo o Estado, o evento, em formato de live online, foi limitado à participação de apenas 100 pessoas por dia, como mais uma forma de reduzir riscos, garantindo a segurança dos participantes. A Administração da ilha reitera que vêm mantendo, com responsabilidade, todas as ações de combate ao novo coronavírus e tomando as medidas necessárias para conter a propagação da covid-19 no arquipélago”.
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