Pelas ruas e becos estreitos da comunidade do Bode, no Pina, Zona Sul do Recife, uma bicicleta leva uma caixa de som com mensagens ensinado aos moradores como se prevenir da covid-19. O mesmo equipamento por vezes é colocado num barco para que as famílias que vivem nas palafitas também ouçam as informações. Com os números da pandemia crescendo muito rapidamente no Estado e no País, exemplos como esse, organizado pelo acelerador social Pedro Stilo, 31 anos, ajudam na luta para vencer o vírus. E vão na contramão de atitudes de gente que, ao descumprir as medidas sanitárias que o momento exige, como uso de máscaras e isolamento social, coloca sua vida e de outras pessoas em risco.
"Usamos uma comunicação mais simples e fácil para a população entender. Porque as mensagens do governo dizem para lavar as mãos ou usar álcool. As famílias do Bode são carentes e álcool não faz parte do dia a dia delas. Então pedimos que lavem as mãos com água e sabão, que limpem também o rosto, que evitem colocar a mão na boca e no nariz, que só saiam de casa usando máscaras", explica Pedro. Ele estima que 25 mil pessoas vivam na comunidade. As mensagens são pequenos podcasts chamados de A voz da lama.
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Em outra área do Recife, na Ilha do Retiro, a comunidade Caranguejo Tabaiares tem em sua maioria mulheres como chefes de família. Conseguem sobreviver vendendo água mineral ou limpando vidros de carros nos semáforos próximos. Com a quarentena mais rígida, o movimento de veículos nas ruas diminuiu e consequentemente a renda delas também. "Conseguimos distribuir 84 quentinhas por semana, que são doadas por uma pessoa. É pouco, mas ao menos é uma refeição. Também orientamos os moradores a dividirem a água que têm pois muitas casas não possuem água potável", conta a educadora popular Sarah Marques, 40, uma das fundadoras do Coletivo Caranguejo Tabaiares.
INDIVIDUAL
Não só ações coletivas são essenciais nessa pandemia. O comportamento individual também é fundamental. A assistente social e microempresária Viviane Lima, 44, pretendia ontem resolver algumas coisas fora de casa. Com o início da quarentena, optou por seguir o apelo recorrente do secretário estadual de Saúde, André Longo, para que as pessoas só saiam se realmente for necessário. "Eram compromissos que podiam esperar. É importante que todos estejamos juntos. Decidi respeitar a quarentena", conta Viviane. Ela diz que ela, o marido e a filha sempre estão protegidos de máscaras. "É um cuidados conosco e também com minha sogra, que tem 85 anos, e com minha mãe, de 63 anos. Estamos sempre em contato com elas pois precisam de nossa ajuda. Não queremos adoecer nem contaminá-las", comenta.
O professor de matemática Fábio Brayner, 44, deu seis aulas ontem, três de manhã e três à tarde. Todas online, já que as atividades presenciais estão proibidas nas unidades de ensino até dia 28. "Pretendo cumprir a quarentena e só sair de casa em último caso", afirma Fábio, que mora em Bezerros, no Agreste do Estado.
A enfermeira Glória Pacheco, 33, usa máscara o tempo todo, dentro e fora do trabalho. "Atuo em hospital, ambiente propício para contaminação. Só tiro a máscara para me alimentar e com atenção para lavar as mãos antes e depois. Estou imunizada, mas penso nas outras pessoas que convivo. É um cuidado comigo, com os colegas de trabalho, com os pacientes, com minha família, com a sociedade", ressalta Glória, que teve covid-19 e também já foi vacinada contra a doença.
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