CRIME

Mãe de Pérola, mulher transexual morta no Recife, pede fim da LGBTQIA+fobia: 'a gente tem que prevenir os outros'

Crismilly Pérola é a terceira trans, que se tem registro, vítima de violência nos últimos 30 dias, na Região Metropolitana do Recife (RMR)

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Katarina Moraes

Publicado em 06/07/2021 às 14:09 | Atualizado em 08/07/2021 às 21:56
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Com informações da TV Jornal

A mãe da cabeleireira Crismilly Pérola Bombom, 37 anos, encontrada morta próximo às margens do Rio Capibaribe, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, na última segunda-feira (5), pediu justiça e o fim da violência contra as pessoas LGBTQIA+. "Vamos ver se a gente acaba com isso, são vários gays e a turma com essa história de homofobia. Eu vou querer justiça de todo jeito, a gente tem que prevenir os outros", afirmou, bastante abalada. Pérola é a terceira mulher trans, que se tem registro, vítima de violência nos últimos 30 dias, na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Maria Elizabeth, mãe da cabeleireira, afirmou também que filha não tinha passagem pela polícia e que, há cerca de um mês, Crismilly Pérola havia sido hospitalizada após sofrer agressões de um suspeito, em um bar. "Esse rapaz pediu cerveja, cigarro e droga a ela [Pérola]. Aí ela disse que não sustentava macho nenhum, então esse rapaz mesmo bateu bastante nela", relata Maria Elizabeth.

Velório

O corpo de Crismilly Pérola Bombom permaneceu no Instituto de Medicina Legal de Pernambuco (IML), até a manhã desta terça-feira (6). A vítima foi encontrada com marcas de agressão e de tiros. De acordo com a família, o enterro da cabelereira acontecerá às 14h, no cemitério da Várzea, Zona Oeste do Recife.

 

 

O Caso

Segundo a polícia, testemunhas relataram que após sair de uma festa na região, Pérola havia sido abordada por uma pessoa, que a teria agredido com pauladas e dado tiro na cabeça da cabeleireira. O caso, enquadrado como homicídio, segue em investigação pela polícia, que não descarta a possibilidade de transfobia.

 

O corpo da mulher, conhecida como 'Piu Piu', foi encontrado próximo a Rua dos Lírios, no bairro da Várzea. Segundo a prima, a cabeleireira era querida entre a família e na comunidade onde morava. "Para você ter uma ideia, os irmãos dela estão vindo da Bahia [para o enterro]. Ela sempre foi querida, tanto na família, como na comunidade. A gente não entende o porquê [do crime], não tem um motivo, ela não era uma pessoa má, não vivia com coisa errada", relatou.

Nas redes sociais, o perfil no Instagram @cantinhodavarzeaa, dedicado ao bairro, prestou uma homenagem a Pérola. "O bairro da Várzea amanheceu triste, perdemos nossa travesti Piu Piu, Crismilly Pérola como gostava de ser chamada, foi encontrada sem vida, na comunidade do Beira Rio, próximo à ponte da Caxangá, nossa solidariedade a família, estamos muito triste pêsames [sic]".

 

 

Outras duas mulheres trans sofrem violência na RMR

No início de junho, Kalyndra Nogueira da Hora, 26 anos, foi assassinada por asfixia dentro de casa, no bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife. O principal suspeito do crime é o companheiro da vítima, 29 anos, que morava com ela. As imagens de uma câmera de segurança registraram o momento em que ela entra no imóvel com o esposo. Esses foram os últimos registros de Kalyndra viva. O suspeito chegou a ser preso, mas já está foi liberado pela justiça.

Roberta Silva, 33 anos, também foi vítima de violência. No dia 24 de junho a mulher, em situação de rua, teve 40% do corpo queimado e os dois braços amputados, em decorrência a uma tentativa de homicídio. A vítima permanece internada na UTI do Hospital da Restauração, no Centro do Recife. O suspeito de cometer o crime, um adolescente, foi detido.

 

Os crimes geraram grande repercussão nas redes sociais e levantou debates sobre a homofobia e a transfobia, já que junho é o mês em que a comunidade LGBTQIA+ comemora suas conquistas e reivindica direitos. A co-deputada Robeyoncé Lima, também mulher trans, afirmou que está cobrando do estado medidas cabíveis. "No momento delicado e importante nós também vamos estar vendo estratégias de cobrar do governo do estado ações propositivas, em termos de politica pública, para o enfretamento dos crimes de ódio que estão acontecendo no estado", declarou.

 

Homofobia


Em nota, a Secretaria de Defesa Social informou que em 2021, até maio, 13 pessoas da população LGBTQIA+ foram vítimas de Crime Violento Letal Intencional (CVLI) em Pernambuco, o que representa 0,9% dos 1.429 CVLIs registrados em todo o Estado no período.


A maior parte desses homicídios ocorreu em locais público (6 casos) e em residências (5). Quanto à idade das vítimas, sete tinham entre 18 e 30 anos, cinco entre 31 e 65 anos e uma entre 13 e 17 anos. Além disso, registraram-se 1.106 ocorrências de violência contra pessoas que se identificam como LGBTQIA+, o que inclui crimes como lesão corporal, maus-tratos, estupro, difamação, calúnia, racismo e injúria racial.


No ano passado, o total de CVLIs contra essa população em Pernambuco foi de 47, correspondendo a 1,3% do total de 3.758 crimes contra a vida notificados no Estado em 2020. Quase a metade desses homicídios ocorreu em residências (22 casos), e outros 18 foram praticados em vias públicas. A maioria das vítimas, 27 casos ao todo, tinha entre 31 e 65 anos, enquanto outros 19 crimes foram praticados contra pessoas de 18 a 30 anos. Uma criança (1 a 12 anos) também foi vítima. Em relação aos casos de violência contra LGBTQIA+, 2.113 pessoas prestaram queixa à polícia.


Já em 2019, Pernambuco computou 30 homicídios de pessoas LGBTQIA+, o que significa 0,9% dos 3.469 CVLIs ocorridos naquele ano no Estado. Onze desses crimes foram cometidos dentro de residências, 10 em locais públicos e 9 em localidades diversas, como bares, terreno baldio e estabelecimento comercial. Considerando a faixa etária, 60% das vítimas tinham de 31 a 65 anos, ou seja, 18 casos. Houve, ainda, 10 CVLIs contra pessoas entre 18 e 30 anos, além de 4 vítimas com idades entre 13 e 17 anos. Por sua vez, 1.170 cidadãos LGBTQIA+ registraram boletim de ocorrência por sofrer algum tipo de violência.


A SDS ressaltou que essas estatísticas levam em conta a orientação sexual ou gênero declarados pelas vítimas. Portanto, não necessariamente a motivação desses crimes seria a intolerância de gênero ou a homofobia.

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