ATAQUE DE TUBARÃO

Ataques de tubarão em Pernambuco: governo do Estado, Prefeitura de Jaboatão e pesquisadores precisam agir. E rapidamente

Depois de dois ataques em 15 dias - por enquanto, um deles com morte -, o governo de Pernambuco garantiu que, juntamente com a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, irá adotar medidas efetivas para reduzir os incidentes com tubarões. Mas não disse quais

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Roberta Soares

Publicado em 25/07/2021 às 17:33 | Atualizado em 25/07/2021 às 18:42
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O segundo ataque de tubarão em duas semanas no mesmo local - em frente à Igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes -, e numa área já considerada a mais perigosa de todo o litoral pernambucano, merece acender o alerta do governo de Pernambuco, da Prefeitura de Jaboatão, dos pesquisadores e, ainda, da Prefeitura do Recife, onde 27 dos 68 incidentes registrados no Estado desde 1992 aconteceram. O poder público deve à sociedade uma reação rápida, imediata, e incisiva. Não adianta apenas usar o discurso de que a população precisa ter consciência e não entrar no mar. Discurso, vale destacar, fácil e que transfere para o cidadão todo o peso pelo desequilíbrio ambiental e a ausência de fiscalização física e educativa nas praias - obrigação do Estado e das prefeituras.

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Divulgação/Corpo de Bombeiros
Bombeiros resgatam banhista atacado por tubarão na praia da Igrejinha de Piedade - Divulgação/Corpo de Bombeiros

Provocado pela imprensa, o governo de Pernambuco se posicionou oficialmente. Garantiu que, depois de tudo, irá, sim, agir. E a ação será articulada com a Prefeitura de Jaboatão. Mas não foram dados detalhes das ações: se haverá a proibição de banho de mar na área da Igrejinha de Piedade por um período, por exemplo - como sugerido pelo pesquisador da UFRPE -, ou até mesmo de um trecho maior da praia; se a população será impedida, mesmo que na marra, de entrar no mar em determinados trechos e situações climáticas (período de chuvas, luas grandes, determinadas marés e horários específicos); se haverá um reforço da sinalização do local e de outras áreas do litoral; ou a retomada imediata dos trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit). Informou, apenas que o Cemit já está se articulando com a prefeitura para agir.

“Diante deste novo caso em um mesmo trecho da orla, o Cemit já está em articulação com a Prefeitura de Jaboatão para avaliação das ocorrências e adoção de possíveis medidas com o objetivo de reduzir os riscos de incidentes com tubarões”, diz a nota. Para, em seguida, insistir no alerta para que a população tenha consciência dos limites no mar - algo fundamental, sem dúvida, mas que não pode ser o meio e o fim de tudo. “É preciso reforçar que, somente com a conscientização e responsabilidade por parte da população, é possível obter sucesso na segurança das pessoas na orla do Estado. Vale lembrar que, no trecho específico, além de equipes do GBMar, há placas de sinalização e bandeirolas instaladas para orientar sobre os riscos de entrar no mar naquela área”, finaliza a nota enviada à reportagem.

Filipe Jordão/JC Imagem
Bombeiros na região da Igrejinha de Piedade - Filipe Jordão/JC Imagem
Filipe Jordão/JC Imagem
A mais recente vítima, que teve a coxa esquerda mordida e foi socorrida com vida pelo Corpo de Bombeiros, estava bebendo em uma das barracas instaladas em frente à Igrejinha de Piedade - Filipe Jordão/JC Imagem

De fato, o trecho da Igrejinha de Piedade ganhou mais bandeiras e alertas de perigo, principalmente após o ataque do dia 10/7, quando o auxiliar de serviços Marcelo Costa Santos, 51 anos morreu - assim como há pontos ao longo da orla de Boa Viagem, Pina (no Recife) e também de Piedade que tem um bom tratamento sob o aspecto da segurança ao banhista. Mas quem frequenta as praias do Estado sabe que, mesmo com o pesado histórico que Pernambuco carrega sobre incidentes com tubarões, há muita negligência do poder público para com os banhistas. Faltam bombeiros ao longo da orla e infraestrutura para os poucos profissionais que estão atuando, mesmo nas praias urbanas. A nota, inclusive, é mais um relato do episódio do que o anúncio de medidas efetivas.

Confira a íntegra:

“O Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) informa que, por volta das 12h20, deste domingo (25/07), na praia de Piedade, na altura da Igrejinha, em Jaboatão dos Guararapes, ocorreu incidente envolvendo um homem de 32 anos e um animal marinho. No local, havia uma equipe do Grupamento de Bombeiro Marítimo (GBMar) de prontidão e, ao longo de toda manhã, fez orientações aos banhistas para saírem da água. O banhista em questão foi orientado anteriormente e retirado da água por equipes dos bombeiros, porém, ao retornar ao mar, acabou sendo ferido, na coxa esquerda e glúteo.

De imediato, a equipe do GBMar retirou o cidadão do mar e fez os primeiros socorros, sendo realizada a contenção da hemorragia, prevenção de hipotermia e ministração de oxigênio. Realizou sua condução para o Hospital da Aeronáutica, onde foram feitos os primeiros atendimentos hospitalares. Após ser estabilizado, foi transferido para o Hospital da Restauração. Neste momento, recebe assistência médica na Unidade de Trauma e está consciente.

 

Diante deste novo caso em um mesmo trecho de orla, o Cemit já está em articulação com a Prefeitura de Jaboatão para avaliação das ocorrências e adoção de possíveis medidas com o objetivo de reduzir os riscos de incidentes com tubarões. É preciso reforçar que, somente com a conscientização e responsabilidade por parte da população, é possível obter sucesso na segurança das pessoas na orla do Estado. Vale lembrar que, no trecho específico, além de equipes do GBMar, há placas de sinalização e bandeirolas instaladas para orientar sobre os riscos de entrar no mar naquela área.

Desde 1992, quando foi registrado o primeiro caso em Pernambuco, 67 ocorrências envolvendo tubarões. O caso de hoje está sendo analisado pelo Cemit”. (O caso deste domingo ainda não foi computado pelo Estado).

INCIDENTES EM PERNAMBUCO

Até hoje, foram registrados 68 ataques de tubarão em Pernambuco desde 1992 (incluindo o deste domingo): 63 ataques no continente, sendo 27 no Recife, 25 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões. Há, ainda, dois casos em análise pelo Cemit em Noronha, que ainda não foram oficialmente incluídos no relatório.

Do total de vítimas, 26 não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Além da Igreja de Piedade (19,35%), o ponto onde mais foram registrados incidentes no continente foi no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.

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