ATAQUE DE TUBARÃO

Igrejinha de Piedade: mais uma vez reduto de ataques de tubarão. Entenda a razão

O ponto já era considerado o mais crítico de todo o litoral pernambucano. Dos 63 ataques registrados em Pernambuco desde 1992, 13 foram no local

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Roberta Soares

Publicado em 25/07/2021 às 13:15 | Atualizado em 25/07/2021 às 16:10
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Mais uma vez, a Igrejinha de Piedade, no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, volta a ser palco de um novo ataque de tubarão. Neste domingo (25/7), um homem foi mordido por um tubarão por volta das 12h, exatamente duas semanas depois do incidente que provocou a morte do auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, morto após ser mordido pelo animal no mesmo ponto da Praia de Piedade. O local já era considerado o mais crítico de todo o litoral pernambucano. Dos 68 ataques registrados em Pernambuco desde 1992, 14 foram no local (incluindo o deste domingo). Mas por que a área é tão propícia aos ataques?

Existe uma geografia favorável às investidas naquele ponto. Quem explica a razão para que quase 20% de todos os ataques de tubarão no Estado tenha sido no local - segundo o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) - é a especialista em tubarões, oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosângela Lessa. "Naquele ponto há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Se o tubarão estiver circulando na região, tem acesso fácil às áreas mais rasas. Também há a um aprofundamento da costa naquele local, o que facilita a aproximação dos animais”, afirmou em entrevista ao JC após o ataque do dia 10 de julho.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Local onde banhista faleceu após ser atacado por um tubarão, ao lado da Igrejinha de Piedade. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

O local tem placas alertando sobre o perigo de entrar no mar e nadar. Mas quase sempre são ignoradas pela população. Para a oceanóloga, só a permanente conscientização da população resolve. "Esse não é um problema que é resolvido. Não tem como prever e nem como garantir que os incidentes não ocorram mais nas áreas onde já ocorreram. É um problema de educação, mais do que qualquer coisa, porque as recomendações não são seguidas. Acredito que não importa o quanto se faça de pesquisa, se os humanos não se derem conta e sigam as instruções", alertou.

O HISTÓRICO DE CASOS DA IGREJINHA

Além do ataque que vitimou o auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, no dia 10/7, a última vítima de tubarões em frente à Igrejinha de Piedade foi José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos, em junho de 2018. Ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, teve mais sorte e sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.

Antes do início da contabilização dos incidentes, houve outros casos de ataque no local. Em 1947, por exemplo, o padre Serafim de Oliveira morreu, aos 25 anos, após ser mordido por um tubarão também em frente à Igrejinha. Depois do acontecimento, o local ficou conhecido como "Convento Maldito".

INCIDENTES EM PERNAMBUCO

Até hoje, foram registrados 68 ataques de tubarão em Pernambuco desde 1992 (incluindo o deste domingo): 63 ataques no continente, sendo 27 no Recife, 25 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões. Há, ainda, dois casos em análise pelo Cemit em Noronha, que ainda não foram oficialmente incluídos no relatório.

Do total de vítimas, 26 não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Além da Igreja de Piedade (19,35%), o ponto onde mais foram registrados incidentes no continente foi no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.

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