Igrejinha de Piedade: mais uma vez reduto de ataques de tubarão. Entenda a razão
O ponto já era considerado o mais crítico de todo o litoral pernambucano. Dos 63 ataques registrados em Pernambuco desde 1992, 13 foram no local
Mais uma vez, a Igrejinha de Piedade, no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, volta a ser palco de um novo ataque de tubarão. Neste domingo (25/7), um homem foi mordido por um tubarão por volta das 12h, exatamente duas semanas depois do incidente que provocou a morte do auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, morto após ser mordido pelo animal no mesmo ponto da Praia de Piedade. O local já era considerado o mais crítico de todo o litoral pernambucano. Dos 68 ataques registrados em Pernambuco desde 1992, 14 foram no local (incluindo o deste domingo). Mas por que a área é tão propícia aos ataques?
- Banhista morre após ser atacado por tubarão na Igrejinha de Piedade, no Grande Recife, neste sábado (10)
- Ataque de tubarão em Pernambuco: vítima não estava no fundo e entrou no mar apenas para tirar areia do corpo, dizem bombeiros
- As imagens do ataque de tubarão na praia de Piedade, no Grande Recife
- Ataque de tubarão em Pernambuco: banhista morto por tubarão não tinha bebido, estava no raso e foi "puxado" quando saía do mar
- Ataque de tubarão em Pernambuco: banhistas evitam entrar no mar na Praia de Piedade
- Banhista morto em ataque de tubarão em Pernambuco é sepultado nesta segunda (12)
- Pesquisadores da UFRPE revelam características de tubarão que mordeu banhista na Praia de Piedade
- "Me senti no lugar dele", comenta sobrevivente sobre recente ataque de tubarão em Pernambuco
- Pesquisador pede interdição de trechos de praias por risco de ataque de tubarão no Grande Recife
- Mais um ataque de tubarão é registrado na praia da Igrejinha de Piedade, Grande Recife
- Novo ataque de tubarão acontece dias após pesquisador pedir interdição de trecho da Igrejinha de Piedade
Existe uma geografia favorável às investidas naquele ponto. Quem explica a razão para que quase 20% de todos os ataques de tubarão no Estado tenha sido no local - segundo o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) - é a especialista em tubarões, oceanóloga e professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosângela Lessa. "Naquele ponto há uma abertura nos arrecifes que faz com que as águas do raso e das áreas mais fundas se relacionem. Se o tubarão estiver circulando na região, tem acesso fácil às áreas mais rasas. Também há a um aprofundamento da costa naquele local, o que facilita a aproximação dos animais”, afirmou em entrevista ao JC após o ataque do dia 10 de julho.
O local tem placas alertando sobre o perigo de entrar no mar e nadar. Mas quase sempre são ignoradas pela população. Para a oceanóloga, só a permanente conscientização da população resolve. "Esse não é um problema que é resolvido. Não tem como prever e nem como garantir que os incidentes não ocorram mais nas áreas onde já ocorreram. É um problema de educação, mais do que qualquer coisa, porque as recomendações não são seguidas. Acredito que não importa o quanto se faça de pesquisa, se os humanos não se derem conta e sigam as instruções", alertou.
- Morte de padre após ataque de tubarão em Piedade não é lenda
- "Me senti no lugar dele", comenta sobrevivente sobre recente ataque de tubarão em Pernambuco
- A memória, legado e destino do Sinuelo: o barco utilizado para monitorar tubarões em Pernambuco
O HISTÓRICO DE CASOS DA IGREJINHA
Além do ataque que vitimou o auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, no dia 10/7, a última vítima de tubarões em frente à Igrejinha de Piedade foi José Ernesto Ferreira da Silva, de apenas 18 anos, em junho de 2018. Ele teve parte da perna e da genitália arrancados em uma mordida de tubarão. Menos de 12h depois, o jovem faleceu no Hospital da Restauração (HR), no Derby, área central do Recife. No dia 15 de abril, no mesmo local, o potiguar Pablo Diego Inácio de Melo, de 30 anos, também foi atacado. Este, por sua vez, teve mais sorte e sobreviveu. Ainda assim, Pablo Diego perdeu parte do braço direito e teve a perna direita amputada.
Antes do início da contabilização dos incidentes, houve outros casos de ataque no local. Em 1947, por exemplo, o padre Serafim de Oliveira morreu, aos 25 anos, após ser mordido por um tubarão também em frente à Igrejinha. Depois do acontecimento, o local ficou conhecido como "Convento Maldito".
INCIDENTES EM PERNAMBUCO
Até hoje, foram registrados 68 ataques de tubarão em Pernambuco desde 1992 (incluindo o deste domingo): 63 ataques no continente, sendo 27 no Recife, 25 em Jaboatão dos Guararapes, seis no Cabo de Santo Agostinho, quatro em Olinda, um em Paulista e outro em Goiana. Em Fernando de Noronha, quatro pessoas foram vítimas dos tubarões. Há, ainda, dois casos em análise pelo Cemit em Noronha, que ainda não foram oficialmente incluídos no relatório.
Do total de vítimas, 26 não resistiram aos ferimentos, e 41 sobreviveram - muitas sofreram amputações. Além da Igreja de Piedade (19,35%), o ponto onde mais foram registrados incidentes no continente foi no Acaiaca (11,29%), na Praia de Boa Viagem. Em Fernando de Noronha, cada um dos quatro ataques aconteceu em localidades diferentes.