URBANISMO

Os planos e desafios à frente da Prefeitura, dos vereadores e da sociedade para revitalizar o Centro do Recife

Escritório de Gestão do Centro do Recife, promessa de campanha de João Campos (PSB), está em "fase final de estruturação", segundo a Prefeitura. Enquanto isso, Frente Parlamentar pelo Centro do Recife na Câmara Municipal discute a região central da cidade

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Katarina Moraes

Publicado em 11/09/2021 às 7:00 | Atualizado em 11/09/2021 às 9:12
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Após décadas tentando reverter as mazelas causadas pela desocupação do Centro com medidas mitigatórias, o poder público, entidades privadas e a sociedade civil parecem que finalmente vão dar as mãos para retomar a energia urbana perdida sobretudo na Ilha de Antônio Vaz - que compreende os bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga e Ilha Joana Bezerra. Uma ação mais do que esperada na capital pernambucana, que assiste, hoje, à deterioração de tudo que vem ao atravessar a Ponte Duarte Coelho - justamente na região que mais transcreve o que é o Recife.

Elaborado pela Prefeitura do Recife, o Escritório de Gestão do Centro do Recife, promessa de campanha de João Campos (PSB), está em “fase final de estruturação”, garantiu a Prefeitura por nota, sem apresentar nenhum prazo. O objetivo do projeto é “promover a manutenção e limpeza urbana, a otimização de licenciamentos e autorizações municipais, articulação com o Governo do Estado para maior segurança ao comércio local e demais setores produtivos, ações de desenvolvimento econômico, urbanístico, de moradia, de mobilidade urbana, cultural, dentre outras medidas”, e tem como alvo o bairro do Recife e a Ilha de Antônio Vaz.

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Paralelamente, funciona desde agosto deste ano a Frente Parlamentar pelo Centro do Recife na Câmara Municipal; aceita com unanimidade na casa. Junto à vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), propositora e presidente, o quórum também é formado por Marco Aurélio (PRTB), Luis Eustáquio (PSB), Zé Neto (PROS), Dani Portela (PSOL), Rinaldo Jr (PSB), Alcides Cardoso (DEM), Liana Cirne (PT) e Michelle Collins (PP). A Frente atuará pelo Centro expandido - formado por 11 bairros - e discutirá, até dezembro, pelo menos quatro temas que envolvem a região: patrimônio e cultura, moradia, novos negócios e gestão compartilhada.

“Queremos colaborar porque, para nós, o Escritório precisa ser compartilhado. Não tem como gerir o centro sem assistência social, por exemplo, por causa das pessoas em situação de rua; ou sem a secretaria de cultura, pela questão do patrimônio; nem sem a de desenvolvimento econômico, por causa dos novos negócios; sem a secretaria de planejamento e controle urbano, que define onde se pode estacionar e onde se pode botar a barraca; ou sem a de empreendedorismo, por causa dos camelôs”, aponta Cida.

A primeira audiência - aberta ao público - acontecerá nesta segunda-feira, 13 de setembro, e contará, além dos parlamentares, com a participação do secretário de Cultura da Prefeitura do Recife, Ricardo Mello, o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, Rogério Henrique, do historiador Antônio Paulo Rezende, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da advogada e mestra em desenvolvimento urbano Juliane Lima, da professora de desenvolvimento urbano da UFPE Norma Lacerda e do vice-presidente do Galo da Madrugada, Rodrigo Menezes.

Na solenidade de instalação do grupo, o arquiteto e urbanista Francisco Cunha, consultor da Câmara de Dirigentes Lojistas há mais de 15 anos e um dos mais renomados em sua área na capital, apresentou estudos e prospecções para o Centro. Ele defende que a Prefeitura do Recife conduza um planejamento a longo prazo, com um “plano que tenha consistência e principalmente continuidade”, para que as medidas na região parem de se resumir a ações de zeladoria, mas que deem à Ilha de Antônio Vaz - com pouco mais de 23 mil habitantes, de acordo com último Censo - uma nova vocação.

“A gente [da CDL] foi percebendo que a questão era muito complexa, porque o Centro perdeu a vocação histórica ao entrar em processo de decadência que só aumentou a partir de meados de 1970. A Prefeitura do Recife precisa contratar um plano de desenvolvimento sustentável com dimensão econômica, social, ambiental e também urbana. No poder legislativo, a Frente Parlamentar entra nessa mobilização justamente para engrossar o caldo dessa que é uma discussão indispensável, porque ali, no Centro, tem densidade histórica, estrutura, infraestrutura, saneamento, tudo; é um local muito bom”, defende o arquiteto.

Diversas tentativas foram feitas pela reportagem para obter entrevista com representantes da gestão municipal e entender melhor prazos e objetivos do projeto do Escritório, mas não foram atendidas. Por nota, a Prefeitura afirmou que atenderá à necessidade exposta por Cunha, disponibilizando “espaço de constante diálogo com os diversos setores da sociedade e segmentos econômicos” com um “conselho consultivo formado por representantes de universidades, movimentos sociais, associações e entidades com representação social”.

Enquanto o sonho não sai do papel, a área mais importante da cidade continua a agonizar. Em maio deste ano, o JC publicou a matéria “Esvaziamento do Centro do Recife deixa área histórica à beira do abandono”, fazendo o resgate histórico da desapropriação de seus prédios e trazendo luz aos inumeráveis problemas que a região acumula. Belíssimos edifícios modernos caem aos pedaços. Praças estão vandalizadas. O Camelódromo da Dantas Barreto continua subutilizado. Lixo se acumula. Calçadas escancaram a desigualdade econômica da capital, virando “abrigo” para pessoas em situação de rua.

Ainda que o comércio - sobretudo o informal - continue sendo seu ponto mais forte, ele já vinha cambaleando na área. E, com a pandemia da covid-19, sofreu mais um golpe. Mesmo sem pesquisas disponíveis, a CDL Recife analisa que há vários motivos para o fechar das portas de várias lojas ultimamente - só na Rua Nova, que já foi o endereço de poderosas marcas, foram cerca de 10. Mas, para o diretor executivo da organização, Fred Leal, é indiscutível que a situação estrutural do Centro é um dos complicadores.

“A gente está esperando que haja uma  com propostas de moradia, de mobilidade, de incentivos e de restauração de lojas, para que empresas se instalem no Centro. Tenho certeza que ele não voltará a ser o que era antigamente quando não tinha shopping, só comércio de bairro; aquilo acabou. A gente tem certeza que o centro volta a não aquele centro que era antigamente quando não tinha shopping, só comércio de bairro, aquilo acabou. Precisamos criar uma nova perspectiva - que fundamentalmente vem da moradia”, diz.

Mesmo antes dos projetos saírem do papel e que a revitalização tenha data de início, já há quem continue a enxergar potencial e decida apostar na região. No Edifício Douro, na Rua Cleto Campelo, artistas formaram um o espaço colaborativo "Criadouro". O Edifício Sertã, na Avenida Guararapes, ganhou caráter residencial há cerca de 2 anos. A movimentação nesses prédios já vem auxiliando o Chá Mate Brasília, lanchonete tradicional que há década vê a clientela deixar o bairro de Santo Antônio. Leia sobre estas histórias e personagens na reportagem "A resistência do comércio e o movimento de retorno da arte e da moradia ao Centro do Recife".

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