Corpo de mulher trans morta em Paudalho é sepultado; ao menos seis trans foram mortas no Estado em 2021
Kelly Alves foi morta a tiros no último domingo. Polícia Civil investiga o caso
Com informações de Leonardo Baltar, da TV Jornal
Muitas pessoas compareceram ao Cemitério de São Sebastião, em Nazaré da Mata, na Zona da Mata de Pernambuco, no fim da tarde desta terça-feira (14), para a despedida de Kelly Alves, mulher trans de 24 anos morta a tiros em Paudalho, também na Zona da Mata, no último domingo (12). Além dela, outras cinco trans foram mortas em Pernambuco este ano.
Muito abalada, a mãe da vítima não conseguiu dar entrevista. No entanto, o irmão da jovem, Weddly Harrison, lembrou que a irmã foi mais uma vítima da violência. "O desejo [de justiça], não é só da nossa família, mas também de muitas vítimas que são injustiçadas. A gente faz o apelo para que a polícia e os órgãos governamentais possam dar uma resposta e pelo menos amenizar a situação", disse.
De acordo com a auxiliar de serviços gerais Laudiceia Barros, Kelly sempre foi uma pessoa muito querida em Nazaré da Mata. "Vivia aqui com a gente no final de semana. Na minha casa, ela sempre estava, várias vezes. Nunca ouvi falar coisas dela. Só sei que era uma pessoa muito boa", completou.
Kelly foi vítima de vários disparos de arma de fogo na cabeça. Vizinhos informaram que ela deve ter sido morta por volta das 21h45 do domingo, já que neste horário ouviram gritos e barulho de disparos de arma de fogo. Segundo a Polícia Civil, que investiga o crime, ainda não se sabe da autoria e nem motivação do assassinato.
A estudante Alessandra Maria comentou que encontrava com a vítima todas as semanas, que sempre estava bem humorada. Kelly era conhecida por fazer brincadeiras nas redes sociais. Segundo Alessandra, as pessoas ficaram surpresas com o crime. "Ficou todo mundo desesperado dentro de casa. Ninguém esperava, porque toda sexta-feira ela estava aqui (na praça) se divertindo. Foi uma coisa que chocou todo mundo", falou a jovem.
Mulheres trans mortas em Pernambuco
Um dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020 produzido pela Articulação Nacional de Travestis e Transexuais aponta que, no ano passado, Pernambuco, ao lado do Rio Grande do Norte, ocupou o 7º lugar do ranking dos estados que mais matam pessoas trans, com sete assassinatos.
Neste ano, além de Kelly, ao menos outras cinco mulheres trans foram mortas em Pernambuco. Em 18 de junho, Kalyndra Selva Guedes Nogueira da Hora, de 26 anos, foi encontrada morta, dentro de casa, no Ipsep, na Zona Sul do Recife.
Em pleno Centro do Recife, no Cais de Santa Rita, Roberta Nascimento Silva, na Área Central do Recife, uma transexual de 33 anos, viu 40% do próprio corpo pegar fogo em uma tentativa de homicídio supostamente praticada por um adolescente apreendido em 24 de junho. Após passar por cirurgias no Hospital da Restauração, a vítima não resistiu aos ferimentos e veio a óbito em 9 de julho.
No dia 5 de julho, a cabeleireira transexual Crismilly Pérola Bombom, de 37 anos, mais conhecida como 'Piu Piu' na região onde morava, foi encontrada morta no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O caso, foi encarado pela polícia como um caso de transfobia. Segundo o órgão, ela foi morta por um adolescente após os dois estarem presentes em um mesmo local, no qual o suspeito havia solicitado que a vítima se retirasse. Como Piu Piu se negou, ela foi morta por ele de forma bárbara.
Já em 7 de julho, a vítima da vez foi Fabiana da Silva Lucas. A mulher trans, que era natural da Paraíba, foi morta em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco. Ela foi surpreendida pelo suspeito, que deferiu diversos golpes de faca na vítima.
Em agosto, foi a vez de Lorrane Souza perder a vida. Ela foi morta com golpes de facão no município de Petrolina, Sertão de Pernambuco. A vítima ainda chegou a ser socorrida para o Hospital Universitário da cidade, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito. O suspeito de cometer o crime foi preso horas depois.
Como denunciar LGBTfobia
A sociedade em geral e a população LGBTI podem denunciar qualquer ato violador dos seus Direitos pelo CECH, através dos números (81) 3182-7665/ 3182-7607, do e-mail centrolgbtpe@gmail.com, ou presencialmente na sede do órgão localizado na Rua Santo Elias, 535, bairro do Espinheiro. O governo do estado garante sigilo das informações. Já a Prefeitura do Recife disponibiliza plataforma online de denúncias contra LGBTfobia através do link https://bit.ly/DenunciaLGBTRecife. Vítimas também podem procurar o Centro de Referência em Cidadania LGBT do Recife. O equipamento fica na Rua dos Médicis, nº 86, Boa Vista, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.