CRIME

Mulher trans é brutalmente assassinada no Agreste de Pernambuco; este é o terceiro caso no Estado em um mês

O crime aconteceu às margens da PE-160 e, até o momento, a motivação é desconhecida

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Vanessa Moura

Publicado em 07/07/2021 às 11:00 | Atualizado em 07/07/2021 às 18:30
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Com informações da Rádio Jornal

A mulher trans Fabiana da Silva Lucas, natural da Paraíba, foi assassinada a golpes de faca na madrugada desta quarta-feira (07), em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco. O crime aconteceu às margens da PE-160 e, até o momento, a motivação é desconhecida. O suspeito, um homem conhecido como "Gaúcho", foi espancado por moradores após o ocorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração (HR), na área central do Recife, onde está internado em estado grave. 

De acordo com informações preliminares da polícia, a vítima fazia programas na localidade onde o crime aconteceu. Nesta madrugada, Fabiana passava pelo local, quando teria sido surpreendida pelo suspeito, que deferiu diversos golpes de faca na vítima. 

"Foram muitos golpes, bastante profundos, inclusive o pescoço todo da vítima foi atingido. Ela não tinha nenhuma possibilidade de defesa", revelou a delegada de Santa Cruz do Capibaribe, Érica Feitosa. Com a vítima, foram encontrados alguns preservativos, pequena quantia em dinheiro, uma chave e um celular. A faca usada para golpear Fabiana também foi deixada no local.

Ainda segundo a polícia, testemunhas afirmaram que Fabiana era uma pessoa tranquila, que "não mexia com ninguém" e não se envolvia em confusões. Além disso, a mulher estava frequentemente na localidade. O suspeito, no entanto, não era comumente visto nos arredores. 

Agora, após falar com testemunhas, a polícia busca imagens de câmeras de segurança próximas ao local do assassinato e aguarda o depoimento do suspeito, que está hospitalizado e sem previsão de alta. De acordo com a delegada, o testemunho do homem é uma peça-chave na investigação, que busca saber o que motivou o assassinato. 

Repercussão

O assassinato de Fabiana mais uma vez acende o debate sobre a violência sofrida por essa parcela da população. Só no Estado, outras duas mulheres trans foram mortas em um mês; uma terceira foi queimada viva e continua internada no Hospital da Restauração, no bairro do Derby, na área central do Recife, em estado grave. 

Para Caia Coelho, membro da diretoria da Nova Associação de Travestis e Transexuais de Pernambuco (NATRAPE), os três assassinatos não podem ser encarados como situações isoladas, mas "como um possível genocídio". Segundo ela, os crimes escancaram uma violação aos direitos humanos e afetam diretamente a segurança pública.

Ainda de acordo com ela, apesar do pavor e tristeza, o momento é de luta. "Esses casos servem para termos a certeza de que não vamos desistir da nossa vida tão fácil. Não vamos sucumbir ao medo e vamos utilizar a raiva de forma sábia", destacou Caia.

Um dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020 produzido pela Articulação Nacional de Travestis e Transexuais aponta que, no ano passado, Pernambuco, ao lado do Rio Grande do Norte, ocupou o 7º lugar do ranking dos estados que mais matam pessoas trans, com sete assassinatos.

O cenário, no entanto, pode ser muito pior, de acordo com a deputada estadual Robeyoncé Lima. "O assassinato de Fabiana é só mais um caso de violência contra mulher trans de tantos outros acontecimentos que nem sequer chegam ao conhecimento da mídia. Pernambuco está entre os estados que mais matam e vivemos diante de uma precariedade", disse a deputada.

Terceiro assassinato em um mês

A cabeleireira transexual Crismilly Pérola Bombom, de 37 anos, mais conhecida como 'Piu Piu' na região onde mora, foi encontrada morta por volta das 9h dessa segunda-feira (5) na altura da Rua das Orquídeas, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O caso, enquadrado como homicídio, já está em investigação pela Polícia Civil de Pernambuco.

A família não sabe detalhes sobre o assassinato de Pérola, apenas que ela saiu para uma festa às 21h desse domingo (4) e não voltou mais para casa. "A gente acha que foi homofobia, porque Pérola era muito querida, mas tinham muitas pessoas que a criticavam", disse a prima da vítima, Izabelli Soares, também cabeleireira, de 30 anos.

Na manhã do dia 18 de junho, Kalyndra Selva Guedes Nogueira da Hora, de 26 anos, foi encontrada morta, dentro de casa, no Ipsep, na Zona Sul do Recife. De acordo com a Polícia Militar, o companheiro dela é o principal suspeito de cometer o crime.

Trans queimada no Centro do Recife

Em pleno Centro do Recife, no Cais de Santa Rita, Roberta Nascimento Silva, uma transexual de 33 anos, viu 40% do próprio corpo pegar fogo em uma tentativa de homicídio supostamente praticada por um adolescente apreendido em 24 de junho. O caso, que ainda não teve a motivação divulgada, rendeu à mulher, que vive em situação de rua, a amputação dos dois braços. A vítima, internada no Hospital da Restauração (HR), foi novamente levada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em estado grave na última segunda-feira (5), onde permanece até o momento.

Como denunciar LGBTfobia

A sociedade em geral e a população LGBTI podem denunciar qualquer ato violador dos seus Direitos pelo CECH, através dos números (81) 3182-7665/ 3182-7607, do e-mail [email protected], ou presencialmente na sede do órgão localizado na Rua Santo Elias, 535, bairro do Espinheiro. O governo do estado garante sigilo das informações. Já a Prefeitura do Recife disponibiliza plataforma online de denúncias contra LGBTfobia através do link https://bit.ly/DenunciaLGBTRecife. Vítimas também podem procurar o Centro de Referência em Cidadania LGBT do Recife. O equipamento fica na Rua dos Médicis, nº 86, Boa Vista, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. 

 

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